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Conto: Amores e Rumores

Conto: Amores e Rumores

Autor: Larry Redon

A vida é sempre plena naquela cidade. Ao acordar, seus moradores já se deparam com a linda lagoa disputando o seu brilho com o sol, sem saber que sem ele, não passa de apenas uma porção de água sem claridade. Assim como a lagoa, vive Lúcia, sempre ostentando um brilho que não é seu: é do seu marido e escravo.
Ela nunca fora nada, mas doutor Ricardo sempre fora tudo. Homem de grande inteligência, amado por todas as mulheres da cidade e também pelos próprios maridos destas mulheres, que se não o desejava como homem, desejava sua inteligência e posição social.
Doutor Ricardo, além de bem apessoado, tinha a beleza da generosidade, que dá aos homens certa sensualidade, que só os amantes generosos podem ter. Apesar de sua beleza, Ricardo nunca fora capaz de trair sua adorada Lúcia, mesmo desconfiando que ela não era mulher de um homem só. Era adorado por todas as mulheres, mas sempre as afastava jogando em suas faces, o amor incondicional por Lúcia.
Junto a Lúcia e Ricardo, vivia Petrônio, um ser tão sem brilho quanto Lúcia, que vivia às custa de Ricardo. O rapaz chegou à pequena cidade, apresentando-se como empresário falido e doente, atraindo a bondade do médico, que o levou para própria casa, sem saber que ele se transformaria em amante de sua amada Lúcia.
Os Rumores eram constantes na pequena cidade. A vida conjugal do médico era assunto nos botecos, na praça, nos salões de beleza. Todos sabiam da traição de Lúcia, mas Drº Ricardo parecia não saber e isso causava revolta na população.
Porém, doutor Ricardo sempre soube da traição da mulher e ao contrário do que as pessoas podiam imaginar, ele adorava saber que Lúcia o traia com Petrônio. Em sua visão, a mulher o traía porque o amava e ele teve prova disso quando pegou Lúcia na cama com o amante pela primeira vez.
O fato ocorreu num dia de chuva, quando doutor Ricardo se ausentara para acudir uma mulher que estava dando a luz. Ao retornar à casa, ouviu os gemidos da mulher se entregando loucamente ao amante e estático olhava para a cena, planejando o homicídio com requinte de crueldade. Mas, de repente, voltou a si e sorriu com o sorriso de um demônio, que apareceu pela primeira vez em sua face. Neste momento, toda a malícia humana penetrou o corpo do médico e ele passou a desejar estar mais vezes naquela cena, mesmo que fosse como espectador.
Passou a mentir para Lúcia. Marcava consultas e sempre voltava mais cedo para vê-la ao lado do amante e adorava quando ouvia a mulher chamar o amante de Ricardo. Petrônio também adorava quando a amante o chamava pelo nome do seu marido, pois por uns minutos ele se sentia tão importante quanto o médico e entre gemidos e pedidos de amantes, mal podiam perceber a presença doentia de Ricardo.
Os rumores corriam pela cidade e Ricardo agora sabia de tudo. Ele sentia cada vez mais amado pela cidade, que acusava Lúcia de traidora e o médico de “bom-homem”. Ricardo adorava a imagem da mulher sendo pichada pelo povo da pacata cidade. Ele, homem bom que fora, agora era bom por maldade e impureza de alma. Passava horas desejando a mulher e amando ardentemente o amante dela, pois acima do amor que o médico sentia pela mulher, estava a vontade de ser adorado como profissional e Petrônio o amava como homem de sociedade, homem que era tudo que ele sonhou ser na vida, mas sua mediocridade não deixara.
A situação na pequena cidade tornou-se insustentável e Lúcia tremia de medo de perder, não a Ricardo, mas o brilho que ele dava a sua vida em sociedade.
Caiu pela última vez nos braços do amante e o dispensou sem saber que o médico via tudo e gemia junto com eles. Petrônio concordou com a amante e aproveitou para tirar-lhe algumas jóias. Percebendo a decisão dos amantes, Ricardo revela-se e num ato desesperado implora para que Petrônio fique. Assustados com a revelação do médico, os amantes se recusam a ficar, mas depois cede. Hoje no casarão iluminado de doutor Ricardo haverá amor a três. Lúcia perfuma o lençol, Petrônio veste a roupa branca do médico e Ricardo molha-se no banheiro. Lúcia e Petrônio gemem na cama, enquanto o chuveiro explode e Ricardo morre eletrocutado. Os gemidos do amor misturam-se com os gemidos da morte.

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quarta-feira, janeiro 20, 2010 - 22:29

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Larry

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Re: Conto: Amores e Rumores

Parabéns pelo belo texto.

Gostei.

Um abraço,
REF

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