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Crónica incompleta: A linha do Douro

Embarquei nesta pequena viagem de mochila branca, pequena mas pesada, apoiada nas minhas costas, numa tarde enublada.

À medida que a carruagem avançava em direcção ao destino predefinido, o ferro velho dos dois trilhos teimavam fundir-se num só, lá longe.

Pedras e mais pedras, de tons acastanhados e vários tamanhos passavam por baixo dos meus pés sem que lhes sentisse as formas, é que eu viajava, sentada, em cima de duas linhas paralelas em direcção ao Pinhão.

Nas margens deste passeio as árvores corriam ao meu lado vestindo-me das sombras, e quanto maior era a velocidade a que o comboio se movia, maior era a minha saudade de casa. Só ia estar fora dois dias, mas não há nada como o conforto do nosso lar, e eu ia para um que não me pertencia.

Os barulhos do vento entoavam uma música constante e ritmada, sentia-me embalada, bocejando o meu cansaço.

Vi de tudo; até os pássaros; apesar das nuvens cinzentas que cobriam a tarde. Vi também os agricultores a acariciarem as suas hortas com as enxadas ruidosas que se confundiam com o som metálico do comboio a percorrer a distância prometida.

No banco corrido onde me deleitava, havia lugar para mais duas pessoas, mas apenas a minha mochila e o meu casaco me faziam companhia, antecipando o frio que sentiria ao cair da noite.

Levantei os olhos do papel por uns momentos e fui assaltada pela imagem de um homem de semblante triste, na casa dos cinquenta, apoiado num par de muletas gastas. Faltava-lhe uma perna! A cabeça ia apoiada numa das mãos enquanto a outra repousava, rendida, na armação de alumínio necessária há sua condição.

Distraí-me com a paisagem em tons de verde e amarelo, pois o Outono já dera ares da sua graça por esses lados. O rio Douro seguia o mesmo trajecto transmitindo-me a calma e o desejo de nunca chegar ao término da linha.

Se me quisesse afogar não conseguiria, os peixes levar-me-iam em ombros até uma praia próxima, pois eles sabem que ninguém deve morrer no centro de tão bela vista, rodeada de socalcos criteriosamente recortados.

Cheguei.

Aqui, no Douro, o céu está sempre mais limpo, mesmo depois da hora tardia, as estrelas reluzem e há luz mesmo no escuro da noite.

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domingo, setembro 27, 2009 - 12:43

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MartaBaptista

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