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A criação do Demônio Interior

Antes de nascer eu puxei o meu cordão umbilical e gritei com força para minha
Mãe ouvir:
Eu não quero brincar neste novo mundo onde tem de tudo, mas que tudo é sem graça!
Eu não quero passar todo tempo com a eletricidade, com o som que viaja no vácuo,
Com a voz que aparece do nada, com um teclado preso aos dedos, com uma luz forte
Cegando os meus olhos, com um espelho que me mostra tudo para me fazer de escravo,
Não quero ser escravo deste monitor, não quero crescer sem um pai mesmo tendo um,
Não quero perder os carinhos de minha mãe enquanto ela pajeia o dinheiro,
Não quero ver outros meninos caminhando sozinhos com roupas e sapatos novos,
Com falta da grama, da lama, da terra, da chuva...
Minha mãe até que me ouviu, mas um homem todo de branco puxou minhas orelhas,
E me disse:
Se você não nascer eu não tenho minha promoção danado. Estranho é que ao invés
De chorar de alegria eu ri de tristeza depois de suas palmadas.
Pelo menos minha mãe me deixou arrumar um amiguinho, no início era um, só que descobri que existiam milhares deles...
Este meu bicho de estimação chama-se Livro.

Vim tão triste, que dormi tanto, mais tanto que só acordei depois de vários anos.

Danças inflamavam o movimento do ar
Uma música quebrava o maciço e se propagava pela esfera do mar invisível
O vidro da alma viajava pelo quarto da caverna do coração
Os morcegos em seus gritos agudos e estridentes voavam em nuvens negras
As gotas caiam das estalactites pontiagudas das pontas dos dentes
O ar entrava lento para arejar a entrada das narinas cavernosas.
Acordo do mesmo jeito que a noite antagônica aos costumes do sol derrama sua capa
Pela cabeça do mundo. Não quero ser contaminado pela luz dos pobres autômatos,
Não quero ser uma peça desta linha de montagem onde o cansaço perde suas forças
Até cair na sarjeta da falta de capacidade de exprimir, pensar, reagir, opinar...
Sou um imenso navio e navego no meu oceano de águas tempestuosas
Sou o tombadilho do “eu” navio e minhas células são marinheiros
Que lutam para encontrar águas turvas e conhecer o inatingível
Num anti-heroísmo sem precedentes, sem medo e com fúria de desafio.

Vamos quebrar os mármores das celestiais vidas do faz-de-conta
Até o mundo todo tornar-se pó branco.
Soprarei o vento do leste até limpar tudo enquanto não chove.

Caminho pela cidade e me sinto um candeeiro que se esqueceu de seus bois.
Amargo-me no meu pensar extenuante da incapacidade de aprender
Sem antes passar pelos ensinamentos dos loucos.
São loucos cujos estados de demência não os deixam ver que são loucos
Estão dopados pela droga do fanatismo e estão perdidos numa bad trip
Arriscando em perder suas vidas numa overdose de testamentos.

Não estou escrevendo a bíblia do meu pensamento
O meu pensamento arremete as palavras construídas em concreto
De resistência. São fontes novas do refletir, são fontes ignotas.
Minha prova são os dragões de milhares de anos de velhice,
Numa idade onde acomodaram-se em serem apenas guarda-costas
Das ideias do miolo que já estão no jazigo frio. A minha prova não é matá-los
E sim abrir suas imensas pálpebras de milênios de anos de sono.
Usarei um gigantesco macaco hidráulico movido pelo óleo
“Da forma que está latente” dentro deles mesmos.

O mundo revelou seu rosto em um estado frágil e delicado de carência,
Aproveitamos de tal fragilidade e colocamo-no uma imensa máscara.
O corpo do mundo está amarrado pela corda de vários seres humanos
Impossibilitando-o de fugir para um ideal realmente verdadeiro e eterno.
Vamos pedir perdão para nós mesmos, vamos cortar os braços de nossa cobiça,
Vamos acordar novamente, vamos correr pelas páginas dos livros
Até sair do ócio praguejado pelo desejo daqueles que não conhecem o poder
Dos olhos da casa, que não são dignos de serem o que são, que não são dignos
De caminhar e de pensar, que se ferem para colocar a culpa nos outros.

A poesia é o pecado do poeta, o poeta é o pecado da poesia.
A poesia é uma dama de vermelho que comanda um grande exército negro,
O exército negro é o poeta em suas armas de palavras e pensamentos.
Eu sou o poeta protegido pelo seu livro tanque.

Nasci como o nascimento da humanidade ao levantar pela manhã
E abrir as cortinas da minha janela, só que ao invés de deixar entrar a luz do sol,
Deixei entrar as dúvidas, pois acordei num dia que não era dia,
Acordei num dia que era noite, na noite das perguntas
Que machucam-me, que mutilam-me, mas que dão-me esperança.

Se me pergunto, me pergunto e me pergunto é por que ainda existem perguntas!?
Não me canso de correr pelos anos de milhares de anos atrás
Tentando encontrar uma cidade de alguém, um endereço de alguém,
Uma vida que se perdeu ou uma lenda que criaram ou uma lenda que ainda não criaram.
Acho que estou vivendo mais que o normal e isto me faz ver
Que correr atrás disto tudo é o mesmo que colocar vendas nos próprios olhos.
Então, desisti da minha procura para achar-me primeiro, foi quando numa viagem
Com a companheira solitária, adentrei no brilho da meia-noite.
Saindo do brilho, não a meia-noite e sim o Demônio Interior revelou-se
Em minha própria imagem no retrovisor de minha reflexão, no meu lume
De querer o impossível na fúria rangendo os dentes por ânsia.

Caí desmaiado perante a ressurreição do Demônio Interior
Após a sua crucificação na cruz de meus anos
O estertor do coração fez recordar-me da visão oráculo
No templo de minhas entranhas.
A voz acordou-me de meu estado latente e desesperado.

<...>. Você me evocou e aqui estou,
Eu não sou algo vivo, mas sou mais que isto, pois sou você.
Espere, você não está louco, deixe-me ser você
Deixe você ser eu.
Estendo as mãos e digo para não procurar entender nada no passado,
Esqueça as dúvidas, esqueça o que você é.
Se você está vivo é porque você é tudo isto que te amedronta. <...>

A partir de agora você é tudo isso e muito mais!

“Sonhei o maior de todos os sonhos que em tudo não foi um sonho”.

Condensei-me no choque de temperaturas e dos céus caí em chuva
Regando a terra e molhando o sentido da vida.
Infiltrei pela terra para brotar as sementes.
Nasci do fruto que se desprendeu do galho e no chão transmutei-me em semente.
Além de germinar a semente corri pela correnteza, pela enxurrada, pelo lençol
Freático até encontrar o mar e ser a água salgada.
A baixo de zero estou pregado em iceberg recebendo o meu calor do sol
Para derreter-me e tornar-me oceano em minhas ondas.
Meu suspiro me leva a ser as diversas correntes de ventos
Que sobre a água do mar agito-me em gigantescas ondas.

O alimento satisfaz a fome, mas não quero satisfazer a minha fome do saber,
Estou mastigando as palavras com os olhos, cortando a carne das páginas,
Devoro o prato da obra e torno-me a pedir de novo até fartar-me,
Só que a fartura nunca é alcançada.

Sou o nascimento da sombra, o irmão gêmeo da face sem face,
O espectro confidente, a vida sem voz, o outro lado da moeda.

Minhas metáforas caminham pelas ruas atravessando os faróis
Surgindo a cada esquina para um novo verso contrabandeado da forma aleatória
Das estradas. Estão dispersas e entregues ao poema da luz sob a poça, nas latas jogadas
Pelos cães no cio, pelo lixo varrido pelo mendigo, pelos tijolos úmidos,
Pela prostituta implorando por prazer de “grana”,
Pelas dunas humanas e animalescas voando pela cidade.

As mãos estão abertas para bater na terra e explodir a guerra
O rosto está exposto para receber as bofetadas das armas de destruição em massa.
Tiramos as medidas do corpo para fabricarmos o caixão envernizado
Só esquecemos de comprar o túmulo digno de nós mesmos
E nem cultivamos as flores que enfeitarão nossa latada.

As traças estão devorando nosso conhecimento.

O mofo domina os cantos e impede a sabedoria de se propagar.

O modernismo foi esquecido no vão.

Estou levitando com a força do pensar e passo a sentir tudo ao meu redor:
Ouço o som das vozes perdidas em ondas
Vejo as imagens perdidas em ondas
Os animais em suas línguas telepáticas
Os vermes trabalhando juntos para devorar a morte
Os urubus saindo do nada quando um corpo cai ao relento
Os passos arrastados pelas calçadas da existência
Os tragos de cigarros engasgados
A droga entrando na corrente sanguínea até chegar ao palácio da sabedoria:
Bater no portão
Pular as muralhas
Almejar o trono do rei falecido
Apossar-se de seu brasão
Tornar-se rei do seu próprio delírio.

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domingo, abril 25, 2010 - 17:34

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Alcantra

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Re: A criação do Demônio Interior

Vamos quebrar os mármores das celestiais vidas do faz-de-conta
Até o mundo todo tornar-se pó branco.
Soprarei o vento do leste até limpar tudo enquanto não chove.

Alcantra

Simplesmente admirável o seu texto. Uma limpeza globalizada que nos faz voltar ao mundo interno e sair com forças redobradas

Beijos

Matilde D'ônix

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