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Em Busca do Elo Perdido: Ou Uma Aventura na Noite Cacerense
Estava o Silva na Praça da Feira a alimentar-se de um churrasquinho e observar o movimento dos que ali vão por diversos motivos. A praça se localiza num dos pontos estratégicos da cidade e é famosa por sua feira aos domingos e quintas-feiras. Centenas de pessoas passam por suas laterais todos os dias, mas quase não notamos as mudanças que gradativamente vão modificando os espaços públicos da cidade, em especial, a Praça da Feira.
Por causa de várias preocupações que o atormentavam a cabeça naquela noite, a intenção do Silva não era observar esse ou aquele individuo que por ali estava e sim dar um basta na fome que o atormentava. Silva saiu da faculdade por volta das 23 horas e resolveu parar ali para saborear um espetinho. Mas, como bom observador, não pode deixar de notar o movimento das garotas que exibem o corpo em trajes provocativos em busca de uma aventura noturna. Os sorrateiros que, por mais que se disfarcem, são possíveis detectar seus movimentos.
Observou a infra-estrutura que a praça vem tendo ultimamente através das coberturas que são promovidas para os produtores e comerciantes que utilizam esse espaço público. Faixas reivindicando melhorias na BR 364 para o escoamento dos produtos que são vendidos ali na feira.
Terminava de ingerir a sua janta ao som de uma música ao vivo que um cantor insistia em imitar cantores famosos e pensava no seu descanso quando notou um homem. Branco, de estatura mediana, estilo desconfiado que parecia procurar alguma coisa. Passou pela mesa de nosso personagem por duas vezes e solicitou um churrasquinho de frango. Silva ficou a observar seus movimentos. Ele ia sentar-se à mesa ao lado quando Silva o convidou para se sentar onde estava. O homem não pensou duas vezes.
Começaram a conversar e ele disse que era de Brasília.
_ Você é policial?
_ Não.
Ele ficou mais a vontade.
_ Venho da Rondônia e gostaria de saber de algum ponto onde posso adquirir uma “pretinha”.
_ Desculpa-me pela ignorância de não saber.
_ Maconha.
Como Silva também estava desconfiado de que ele fosse um policial civil ou mesmo um bandido, ficou com um pé atrás. Continuaram trocando idéias até que ele sugeriu que desse uma volta pela cidade. Silva se sentiu tentado a dar esse giro pela noite cacerense, no entanto, não arriscou. Disse a ele que nesse ponto ele não poderia ajudá-lo.
_ E mulheres?
_ Conheço algumas casas noturnas.
Silva disse a ele que poderia ensiná-lo a ir a algumas, mas que não poderia ir com ele, pois tinha aula pra lecionar no outro dia cedo. O fato é que uma garota, que já os rodeava há algum tempo, passava por perto. Silva chamou-a e apresentou ao homem. Começaram a conversar e saíram. O homem, em agradecimento, deu a ele uma nota de dez reais e entrou no carro com a garota.
Na conversa deles antes de sair, Silva notou que ela disse saber de uma “casa” onde ele poderia encontrar uma “pretinha” ou o que ele quisesse.
Na semana anterior, uma mobilização da segurança do Estado, prefeitura, órgãos de proteção ao adolescente e combate ao narcotráfico, em parceria com a Universidade fizeram uma varredura no município. Nos noticiários da capital, Silva notou no mesmo dia, uma mega-operação onde mais de 50 pessoas, entre elas algumas adolescentes foram presas pela policia. No entanto, as práticas noturnas continuam as mesmas.
A nossa sociedade perdeu a noção do que é viver em liberdade. As pessoas presas em seus vícios caminham como ovelhas ao matadouro, em direção ao seu trágico fim e são ajudadas pelas outras pessoas que também tem os seus interesses.
Na reflexão de Silva ficou a imaginar o que aquela menina pensou ao entrar em um carro com um estranho. Qual o motivo leva uma pessoa a fazer isso? As práticas, que se tornaram corriqueiras? O espaço público se torna privado e vice-versa? O que se espera da noite cacerense no entorno da Praça da Feira que agora tem até uma Drogaria que abre suas portas 24 horas?
E o Silva foi dormir...
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