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Enervava-me
Enervava-me, sim, nervos mesmo, João metia-me nervos, como aquele homem que eu amava podia meter-me tantos nervos assim, um dia eu havia de estoirar, não aguentava aquilo, achava-o tão fascinante, era incrivelmente magico o que ele conseguia fazer com seu pincel e suas tintas, mas enervava-me, muito… extremamente, sempre triste, sempre amargurado, e… ao ver um quadro, algo pintado por um outro alguém olhava… sempre com desdém, enervava-me isso, enervava ele olhar um quadro a venda, exposto, com o desdém de quem melhor pinta, mas os dele? Onde estavam, eu… não sabia, sabia que as vezes dava-me um, sempre com o mesmo olhar de medo, medo que eu não gostasse, sempre com a mesma tristeza de que dizia e sempre repetia, sabes Joana… dizia ele… – Não tenho dinheiro para comprar prendas boas. – Como ele era tolo, como ele era estúpido ao ponto de ver que não havia prenda melhor que ele pudesse dar-me, os brincos e os anéis que já havia recebido de ouros homens eram um nada perto daquele tudo, tanta arte ali escondida, porquê tanta amargura? E continuava a enervar-me, com isso, com aquilo, João sequer tinha um carro, como um homem aos 35 anos não tem um carro? Contava os trocos para tomar seu café na esplanada mais cara da cidade, fumava tabaco de enrolar e… pintava em cima de quadros baratos comprados nas lojas dos chineses, e amargurado, sempre amargurado a não ser no seu reles emprego, se pudemos chamar aquilo de emprego, um quiosque, um simples quiosque que vende jornais e revistas, ria e sorria e contentava-se com o pouco mais que o salário mínimo que recebia, dava… dizia ele… dava para comprar suas telas baratas e suas tintas na loja dos chineses, João adorava os chineses, para ele depois das lojas dos 150$00 foi a melhor coisa que podia lhe ter acontecido, telas baratas e tintas baratas, era tudo que ele precisava, mas perto de mim… amargurado, sempre amargurado e eu quase estoirava, não entendia, não sabia porque, ele também por não sei o quê não se explicava, e enervava-me, enervava-me ver tanto brilho na porcaria do quiosque reles que ele trabalhava, enervava-me ver como contente desfilava com suas tintas baratas e sorria como uma criança com doces coloridos ao caminho da caixa, que o conhecia e também para ele sorria, mas para mim… umas telas, lindas, belas, magnificas e uma constante amargura, um baixar de olhos quando da minha cigarreira em prata tirava o Davidof e oferecia-lhe, ele recusava, sempre, ao ponto que desisti de oferecer enquanto ele enrolava aquele malcheiroso cigarro que manchavam-lhe os dentes, sorriso tão lindo que tinha que aos poucos se estragava com aquele tom amarelo, não entendia, enervava-me cada vez mais, não por ele não ter onde cair morto, não por ele ter um empreguito de merda que pouco mais que um salário mínimo ganhava mas por não ter um sorriso para mim, por olhar minha cigarreira de prata e baixar os olhos, por ter recusado a viagem que eu lhe ofereci para ir ver ao vivo aquilo que eu sei que era um sonho para ele, um sonho tão simples de realizar para mim, era tão fácil para mim apanhar o avião e ir ver a Monalisa, ele queria tanto conhecer a Monalisa mas porquê, porquê não aceitou a viagem que lhe ofereci, enervava-me, e as telas, onde estavam aquelas telas todas que ele comprava e eu nunca via, tirando a tela que ele me dava, uma, sempre uma de dois em dois meses, metodicamente de dois em dois meses, e as outras, esboços, estragadas, não sei, só sei que me enervava ver aquele potencial todo estragado, no tempo gasto naquele pobre quiosque, naquelas telas baratas, naquelas tintas medíocres e naquela vidinha de alguém que via-se claramente se olhasse-se nos olhos o potencial para conquistar o mundo, haveria desistido? Não sei, e eu aguentava, quase estoirava, não entendia, não me apercebia, já não aguentava e decidida a por termino a tudo liguei-lhe na hora que nunca ligava, sabia que não devia ligar a essa hora, era a hora que ele pintava, não atendeu-me, já esperava isso, peguei no meu carro e fui a sua casa, casa térrea e simples que ele dividia com mais três pessoas, abriu-me a porta um coabitante João, perguntei por ele, na varanda respondeu, e ao caminho pelo corredor daquela casa estava uma porta aberta que nunca tinha olhado, um quarto sempre fechado, não resisti a curiosidade e olhei, lá estavam todas, todas as telas que João pintava e… guardava, em um quarto, fechadas, como ele quando amargurado, sem luz para ver-se a beleza das cores, como ele quando seu cigarro enrolava, meus olhos abriram-se e fui furiosa em direcção a varanda, porquê ele não me contara, vi-lhe ele não viu-me, estupefacta estava, ele brilhava, suas mãos dançavam de forma ritmada pela tela, seus olhos se abriam, fechavam-se, seu corpo inteiro se movia tal qual dança, sorria, uma lágrima caia, chorava, vivia, extasiava-se e mais paixão ali via do que quando meu corpo tocava.
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Comentários
Re: Enervava-me
Texto bem escrito em dom da palavra!
:-)