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A Escrava Quase Isaura
A Escrava Quase Isaura
Autor: Larry Redon
N 1: Rádio Nacional apresenta: A Escrava Quase Isaura. Inspirada na obra de Bernardo Guimarães. Uma novela de Larry Redon. Esta novela tem o oferecimento de creme senzala, por isso antes de acompanharmos o último capítulo ouça a nossa garota propaganda:
Garota P: Olá amigo ouvinte! A novela está emocionante! Eu vou te contar agora mesmo tudo o que vai acontecer no último capítulo...
N 1: Cala a boca retardada, faça só a sua propaganda!
GP: Desculpe-me, é que eu fico emocionada com esta novela maravilhosa! Mas vamos a nossa propaganda! Você amiga negra, que é uma mulher moderna e não descuida de sua beleza, deve ter sempre contigo o creme de beleza senzala. Ele deixe a tua pele macia e refrescante.Vou passar um pouquinho para vocês verem (passa e sente arder), ui, ui, ui! (grita)
N1: O que foi idiota! A rádio está no ar! Todo mundo está ouvindo!
GP: Aí, está ardendo! Está ardendo!
N1: Depois deste pequeno incidente vamos ao último capítulo da novela: Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Isaura, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna...
N2: (grita) Retardada! Esta é Iracema de José de Alencar! Deixa que eu leio! Agora sim: Era nos primeiros anos do reinado do Sr. D. Pedro II. No fértil e opulento município de Campos de Goitacases, à margem do Rio Paraíba, havia uma linda e magnífica fazenda onde morava uma escrava chamada Isaura e seu carrasco senhor Leôncio:
Leôncio: Rosa! Rosa! Acharam a cativa! Acharam a cativa!
Rosa: Sinhozinho Leôncio fala de quem?
Leôncio: Ora, Rosa, de quem mais? De Isaura claro! Acabei de receber um e-mail! Acharam a escrava em Recife!
Rosa: E-mail? Mas o que é isso?
Leôncio: É um negócio de Internet, de século XXI, você não entende porque é escrava, sacou?
Rosa: Não entendi nada! Nois tá no século XIX! Eu falei que a Isaura ia acabar deixando suncê louco! Não sei que graça o sinhozinho acha naquela escrava! Eu odeio Isaura! Eu é que devia ser sinhá!
Leôncio: Deixa de histórias, Rosa! Eu amo Isaura deveras! Agora vai cuidar da casa, cativa!
Rosa: (chorando/saindo): Lêlêlê....
Isaura: (entrando), Oh! Oh! Como eu sou desgraçada! Não sou dona do meu coração! Sou uma pobre cativa, oh...
Leôncio: Isaura, minha adorada Isaura! Não sabes a dor que causou no meu peito ao fugir para Recife! Escrava ingrata! Como ousou causar tanta dor ao teu senhor? O que fizestes em Recife?
Isaura: Olha aqui meu filho, pobrema meu!
Leôncio: Escrava malcriada! Isso é jeito de tratar o teu dono! Ou me conta o que fez em Recife ou vai para o tronco!
Isaura: Eu não sou malcriada! Eu fui bem criada por tua mãe, sinhá Gertrudes! Eu sou uma escrava que canta, que dança, quer ver? Segura o tchan, amarra o tchan, segura o tchan, tchan, tcha...
Leôncio: Oh, minha amada Isaura! Que voz maravilhosa! Este teu corpo dourado da cor do pecado me encanta. Esta tua bunda! Oh, e por falar em bunda eu fiz um poema em louvor a bunda, que hei de declamar agora: A bunda! O que é a bunda, meus senhores, senão o ouro deste país? O Brasil é um país que vive de bunda! Tem uma entrevista, está lá a bunda! Tem a parada gay está lá a bunda! Enfim, vivemos uma época de bundalização!
Belchior: Isaura, minha flor do Goitacases! Que beleza ver a minha flor de volta!
Leôncio: Como ousa interromper o meu discurso, monstrengo!
Belchior: Ele me chamou de monstrengo, Isaura! Eu vou chorar!
Isaura: Fica assim não, Belchior! Seu Leôncio é um homem cruel! O Senhor pelo menos é um homem livre, eu sou uma pobre escrava! Lêlêlêlêlê...
Belchior: O senhor é que é um monstro, sinhozinho Leôncio! Se o comendador, vosso pai estivesse vivo ele já tinha vendido Isaura para o pai dela. É por isso que sinhá Malvina te abandonou!
Leôncio: Saia daqui, monstrengo! Se a Isaura não casar comigo, não casa com mais ninguém, ou melhor, caso-a contigo! Você quer casar com este monstrengo, Isaura?
Isaura: Eu não sou dona das minhas vontades! Sou uma pobre escrava! Oh, como eu sofro!
Gp: (chorando) Coitadinha, meu Deus! Como ela sofre! Esta novela é muito triste!
N 2: Cala boca, imbecil, a novela está no ar!
Leôncio: Bem, vejo que não quer se casar com aquele monstrengo! Então eu a levarei para minha alcova! Já comprei minha cuequinha vermelha! Eu serei o primeiro homem da tua vida!
Isaura: Aí é que você se engana, meu filho! Eu sou conhecida na senzala como Isaura generosa! Já fiquei com todos os negros desta fazenda, incrusive com o teu pai!
Leôncio: Não! Escrava maldita! Eu te amei tanto e é assim que você me agradece! Jogando na minha face tua impureza? Pagarás caro por isso. Eu sou o teu único dono, Isaura! Casarás comigo e eu a farei comer o pão que o diabo amassou!
Álvaro: Tu que pensas, Leôncio! A Isaura é minha! Eu sou o único dono dela!
Leôncio: Quem és tu, atrevido, que ousa adentrar minha casa?
Isaura: Deixa que eu o apresento: este é Álvaro, um gato que eu conheci numa balada lá no Recife! E antes que o senhor me pergunte, já me entreguei para ele também!
Leôncio: Desgraçado! Eu vou pegar a minha pistola e vou matar-te!
Álvaro: O senhor não tem mais pistola, Leôncio! A sua pistola agora é minha! Aliás, está fazenda e tudo que há dentro dela me pertence! Eu comprei tudo!
Leôncio: Oh, não! Eu prefiro a morte! Olha o que você fez comigo, escrava! Perdi tudo por amar demais...
Rosa: Eu te avisei, seu Leôncio, que esta escrava ia arrancar até tuas cuecas!
Álvaro: Bem, lembrado escrava: a sua cuequinha vermelha também me pertence, Leôncio!
Leôncio: (chorando), Não, a cuequinha vermelha não!
Álvaro: Sim, a cuequinha vermelha sim!
Leôncio: Não, a cuequinha vermelha! Eu comprei especialmente para usar com Isaura!
Álvaro: Chega! A cuequinha vermelha sim! E você deveria ficar satisfeito, porque eu poderia pedir coisa pior!
Leôncio: O quê, por exemplo?
Álvaro: (malicioso) Prefiro não comentar!
Leôncio: (delicado) Ai, comenta, comenta!
Isaura: Que frescura, é essa? Não é parada gay ainda não!
Gp: Isso, mesmo Isaura! O mocinho tem que acabar com a mocinha!
N2: Cala a boca imbecil! A novela é ao vivo!
Leôncio: Oh, eu vou matar-me! Oh, eu vou matar-me!
Gp: Morre logo, diabo! ( vai com o pau para matar Leôncio mas mata Isaura)
Isaura: Ai, eu morri! (cai)
N2: Você matou Isaura, idiota! Mudou a história do romance!
Álvaro: Oh, minha amada Isaura! O que fizeram contigo? (beija-a)
Leôncio: Pobre Isaura! Eu a amava deveras!
Álvaro: Chega Leôncio! Agora que Isaura morreu, você será o meu escravo! Ponha a cuequinha vermelha! Vamos para minha alcova!
Leôncio: Oh, pobre de mim! O que o senhor fará comigo?
Álvaro: Prefiro não comentar!
N2: Atenção amados ouvinte, interrompemos nossa programação porque vai acontecer cenas impróprias para maiores de cem anos, mas não perca na próxima semana a estréia da próxima novela de Larry Redon, As Aventuras Amarosas do Escravo Leôncio.
Todos: LêlelellelleleeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeFim
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