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A Esfinge
Não me encontrei no nosso primeiro encontro.
Arrepiei ousadia, assustado à sombra do farol gigante da praia da timidez. Balbuciei palavras sem lógica, porque a lógica ardeu naquele instante tão incendiário. Não há raciocínio que se mantenha calmo perante tornado que arranca o coração ao peito, como centeio ao celeiro… E o centeio seco arde tão bem e de mansinho… nem se dá pela inflamação…
Eu sonhei… eu sonhei contigo, sonhei com aquele momento. Tudo fora sentido com eficaz antecedência. Tudo fora visto no filme do futuro…
E a traição? Quem a adivinhava?! Quem a podia prever?! Aquela fragilidade pueril a atrofiar, a escandalizar a calma do homem maduro! Ah vergonha!!!! Vergonha dos anos de experiência mundana sucumbida ao eterno ingénuo primeiro amor…
Encolhi-me entre as moléculas da atmosfera. Desapareci. Perante ti estava a esfinge… a máscara do protocolo…
Para além do actor, da cena e do palco, o homem lutava consigo para se libertar das teias do passado, das oxidações do presente e pelos medos das incertezas do advir.
A palavra queimava-me os lábios: era proscrita ao desejo! Raios! O beijo que não dispara, o abraço que não se faz aperto… Aquela tensão refreada pelo paninhos tépidos do pseudo bem-fazer, do pseudo bem proceder… Raios!!! Raios!!! Raras vezes ficaste tão ingrato contigo! Raiva, fúria, arrependimento sobre arrependimento!!!! Distorção em som de melodia em som de encanto…
Tão belo seria o teu engraçar, o teu mergulhar pelas ondas do querer daquele mar tão perto, daquele mar tão sereno e tão sorridente.
Talvez estivesses tão assustada como eu, talvez estivesses em cima do embarcadoiro para não molhares os pés tão cedo, como eu…
Mas, foi apenas um adiar! Um adiar do celeste fatal. O destino! Aquela amalgama de incerteza, fado de invisuais compulsivos e de mirones que nada enxergam.
Ah vida como és maravilhosa nas tuas surpresas!...
E se não me encontrei, comigo e contigo, naquele ponto do oceano imenso… dirigi minha barca para o momento certo – inevitável!!! – daquele lugar inscrito na sorte do mar do meu contentamento… Foi simples acertar as cartas… os astros estavam coniventes e unânimes… A rota, a minha senda estava tracejada.
“Ruma barca, que se faz tarde!”, gritei então, para mim, refeito de certezas….
… A vida é curta – dizem -, mas as decisões (as mais difíceis, melhor: as mais ponderáveis) são uma vida, só por si.
Morre-se ou renasce-se, de acordo com o seguimento do trajecto escolhido...
Tudo perfeitoooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Andarilhus “(ºvº)”
VII : VII : (MM)VII
Lírica: Dead Can Dance: The Lotus Eaters
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Comentários
Re: A Esfinge
adorei ler!
"as decisoes mais dificeis sao uma vida só por si"... tao verdade, que até doi.
fantastico texto! parabens