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Eskizofrénico - Capitulo 1
Ás sete da manhã em ponto, Ana entrou na escuridade do local, caminhando silenciosamente e sem embarrar em nada, alcançou o interruptor e com um toque rápido, acendeu a luz do pequeno estabelecimento.
Sem perder tempo, ligou a máquina do café e colocou o avental preto com a marca do estabelecimento, dirigindo-se para a porta envidraçada, abrindo-a para deixar entrar um novo dia.
Sendo um café do centro da cidade, ela sabia que haveria logo clientes, bem cedo e teria de ter tudo pronto.
Meia hora depois, Rita a jovem recém contratada, entrou sonolenta e mal disposta.
Era segunda feira e o dia de matar sonhos, como Rita sempre afirmava:
-Bom dia chefe...
-Bom dia Rita. pronta para um dia de cafés?
-Pois, que seja.
A arte em si não tinha grandes segredos e a jovem ia ficando cada vez mais segura das tendências de um pingo quente, ou de uma torrada de pão de forma.
Era o seu primeiro emprego e o pouco que receberia,seria o suficiente para amealhar umpé de meia para o futuro...carro e faculdade.
Por volta das nove da matina, já depois de um pequeno almoço digerido á pressa, um jovem entrou no café em passo apressado e como que ignorando tudo em seu redor, sentou-se numa grande mesa castanha, de quatro lugares.
Com um relativo á vontade, abriu a pasta castanha de couro gasto e retirou meticulosamente um spray que carregava consigo e umas toalhitas de papel. Sem se deter, borrifou a mesa com o spray, recolhendo o liquido com as toalhitas, perante o olhar estupefacto de Ana.
A gerente do estabelecimento, não querendo acreditar, aproximou-se do cliente com um pano:
-Peço desculpa se a mesa estava suja!
O jovem olhou assustado para ela, como se pela primeira vez, percebesse que estava num café e sorriu timidamente:
-Tudo está sujo neste Mundo. Sabe, é a praga do homem...
-Como?
-Os germes, vermes e as doenças....
-Ah sim. Bem mas neste estabelecimento temos o cuidado....
-Desculpe, mas não posso perder tempo. Cále-se!
Prontamente e perante o ar supreso da gerente o jovem sentou-se, abrindo a pasta e desta vez, num modo cerimonioso, retirou do interior um caderno A4 de argolas liso, dois lápis nº 2 e uma borracha intacta.
-Vai desejar algo? - Inquiriu Ana já nervosa.
-Um cinzeiro!
-Perdão, mas esta zona é de não fumadores. - Ana principiava a perder a paciência.
-Ainda bem, porque eu não fumo. Sabe, o fumo, é como os germes e vermes e as doenças, entranham-se ,apoderam-se de nós.
-Mas não pediu um cinzeiro?
O jovem mal barbeado olhou-a atónitamente, como se ela tivesse proferido uma heresia e por fim recordando-se que pedira de facto um cinzeiro, retorquiu:
-Sim, preciso de um cinzeiro. - Confirmou enquanto tirava uma afia de metal da pasta.- Para colocar as aparas do lápis.
Ana ponderou metódicamente as palavras e no tom mais natural que conseguiu, alertou:
-Perdão, mas este estabelecimento tem consumo obrigatório.
-Ah sim?
-Com efeito.
-Que posso então tomar?
-Um café?
-Ah isso, lembrei-me. - levando a mão ao bolso, retirou uma chávena selada num invólucro de plástico -Coloque aqui o café, mas talvez seja melhor se eu limpar o manípulo...
-Um minuto!
Virando rapidamente as costas e explodindo de raiva, Ana acercou-se da jovem Rita e ordenou:
-Eh pá, vai tu aturar aquele cromo, que eu juro que lhe arrebento a cara.
-Então chefe? Calma, eu vou lá!
Rita que não presenciara à conversa entre os dois, estranhou a explosão da sua chefe, habitualemnte tão calma e aproximou-se do sujeito:
-Posso ajudar?
-A quê? não sou velho?
-Perdão, o que quiz perguntar foi se queria tomar algo.
-Ah sim, evidentemente. - O jovem ergueu-se e sussurrando-lhe continuou - Aqui é de consumo obrigatório, é melhor pedir algo ou me expulsam.
Rita olhou-o metódicamente. por momentos achou que tivesse a brincar com ela, mas na verdade os seus gestos eram genuinos. O Cliente parecia ter seguramente vinte e muitos, mas agia como uma criança.
-Efectivamente. Vai desejar então um café?
-Sim, nesta chávena.
-Porquê nessa chávena?
-Porque está lavada.
-Mas as nossas chávenas tambem estão.
-Não estão nada.eu sei o que vocês fazem....A espalharem germes e vermes e doenças, como eles vos ordenam.
Perdida na conversa, a jovem encolheu os ombros e piscando um olho á chefe, agarrou a chávena e virou costas ao cliente, quando este a deteve:
-Eu vou lavar o manipulo, antes de tirar.
-Ouça, eu vou tirar o seu café e você vai ficar ai sentadinho e quieto. Se ouvir um só pio seu garanto que o ponho lá fora. Entendido?
Perante o olhar de furia da jovem, o cliente sentou-se e aguardou sem perder de vista a chávena.
Quando ela regressou com o café, na sua chávena e em pires alternativo, ele retirou o pires, entregando-o e bebeu o café de um só gole:
-Pronto já consumi, agora não me pode expulsar pois não?
-Não. desde que se comporte.
O sujeito sorriu de felicidade e solicitou:
-Mas posso ter um cinzeiro? Para por as aparas do lápis?
-Já lhe trago!
Deliciado o jovem alinhou os lápis, observou metódicamente a borracha e quando o cinzeiro veio, o jovem de fato gasto e perfeitamente ultrapassado, limpou cuidadosamente o lápis,afiou a ponta dos dois lápis e abrindo o caderno, principiou a escrever em caracteres precisos e arredondados.
Atrás do balcão as duas conversavam:
-Falta-lhe um parafuso.
-Bem, reconheço que é um pouco louco.
-Pois...Um pouco. Ouve Rita, ele é problema teu. Para mim não existe, ok?
-Está bem. Eu fico com o louco.
Durante parte da manhã Rita ia deitando um olhar ao jovem, que apenas escrevia e escrevia...e apagava com a borracha e escrevia.
Intrigada e aproveitando a ausência da sua patroa do café, decidiu a meter conversa com o estranho sujeito.
Sem pretender forçar muito, aproximou-se devagar e colocando a mão no tampo da mesa, convidou:
-Não vai desejar mais nada?
Aterrado o jovem ergueu-se bruscamente e num tom, irado, bradou:
-Não! não ponhas a mão aí...Oh, sujas-te! Merda, conspurcás-te...merda!
Sem saber o que dizer levantou a mão, atónita enquanto ele limpava de novo a mesa:
-Germes, vermes e doenças. Eu bem sei que eles andam por aqui...Eu estou atento, eu mato-os!
-Oh meu deus - Suspirou a jovem - Desculpe mas você tem qualquer problema..
-Deixe-me.Eu estava quieto, estava aqui calado. Já consumi....deixe-me!
Recuando a jovem fez por desaparecer rapidamente, enquanto ele praguejava entre dentes:
-Germers,vermes e doenças...Eu estou atento!
Respirando fundo, retomou a escrita no caderno
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Comentários
Re: Eskizofrénico - Capitulo 1
escreveste isto, para uma pessoa se rir um bocado não? foi isso que me fizeste, dar umas gargalhas!
A unica palavra que encontro neste momento para descrever este texto:fantastico!
bj*
Re: Eskizofrénico - Capitulo 1
Mefistus a tua temática sobre o assunto está ótima além do desfecho , mas da forma que aborda a possível loucura , parece um irônia de mal gosto , ao ponto de não gostar mas ao mesmo tempo ficar instigada...
O que é loucura ?
O que é normalidade ?
A diferença em seres que veem a vida com outros olhos ?
Existem pessoas que são capazes de ver além do que os outros conseguem , assim como também há pessoas que tentam ver além e não conseguem enxergar.
O fato é que este é um contexto muito amplo dependendo
da forma em cada ser vê o seu universo interior e o mundo lá fora .
Talvez ser Louco ou Esquizofênico (nome mais cientificamente apropriado)consista numa fuga tão imensa dentro do seu interior e além de todos os outros ,separando por um fio o imaginário do real .
Mas ai me questiono novamente o que é real ?
O que é imaginário ?
Os que os olhos do corpo vem , ou os sentidos?
Bem sem dúvida contuarei a ler-lo , apenas estou colocando aqui o meu ponto de vista sobre o assunto , e de nenhuma forma estou sugerindo algum tipo de preconceito da sua parte na temática.
Como leitora assídua , pretendo ver o desenrolar da história e ver qual é o tipo de mensagem deseja passar com ela .
Espero que continue-o .
Com Amizade
Susan
Re: Eskizofrénico - Capitulo 1
Susan:
Grato pela sua abordagem ao texto, devo no entanto mencionar que em lado algum falei que o jovem sofria de eskizofrenia. Apenas se fala no titulo e como vamos no primeiro capitulo, é certo que revelações sobre o personagem surgirão.
Sim, ele é uma pessoa diferente, igual e real a tantos que circulam no dia a dia, apesar da forma estranha de ser e sentir.
O meu interesee é sempre o de revelar novos mundos, mesmo os interiores, porque na verdade nem todos somos amarelos, azuis, negros ou brancos. Nem todos somos iguais.
Obrigado por seu oportuno comentario
Re: Eskizofrénico - Capitulo 1
Gostei muito da abordagem, o jovem maniaco-depressivo deixou-me interessada...
Quero saber mais!!
Q historia se irá desenrolar, a rapariga do café continuará a ter uma papel importante?
Adorei o pormenor do cinzeiro! :)
Beijinho grande em ti!
Inês