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Eu sei que foi você - capítulo 7
Os pais de Virgínia foram à escola dizendo que haviam visto um vídeo gravado pela filha, no qual ela revelava que não aguentava mais ser perseguida na escola e redes sociais.
-A minha filhinha estava sendo perseguida e vocês não fizeram nada!o pai de Virgínia apontou o dedo para a diretora.
-Calma, o senhor já foi adolescente, sabe como eles são. Adoram chatear os colegas.
-Isso não foi chateação, sua negligente! Por causa desses nojentos que humilharam nossa filha e da inércia de todos vocês, ela deu um tiro no peito e está debaixo da terra! Eles a perseguiram até que ela não aguentou mais! E ela deixou uma lista com os nomes deles, dizendo-nos os nomes obscenos e grosseiros com que a chamavam!a mãe de Virgínia estava à beira da histeria.
-Nós vamos processar essa maldita escola e os pais dos miseráveis que a perseguiram! É por culpa deles e de vocês que nunca mais veremos a nossa filha!o pai dela quase chorava.
-Senhores- a diretora ainda tentou acalmá-los - eu entendo a dor imensa que sentem...
-Não, você não entende nada da dor que sentimos! Não entende o que é ver sua filha morta numa poça de sangue, sabendo que nunca mais a abraçará, não a verá realizar seus sonhos, viver a vida, ter filhos e seguir uma carreira, ao passo que uns nojentos que, como você diz, só a estavam chateando, estão confortáveis, sem pensar no mal que fizeram a ela! Oh, minha filha, eu preferia estar morto! Minha menina, ela estava se sentindo abandonada e odiada e nós fomos incapazes de ajudá-la e protegê-la! Você não entende esta dor, com a qual teremos que viver o resto da vida! Uma parte nossa morreu com ela e nós lutaremos por justiça!
Enlouquecidos, os pais de Virgínia deixaram a escola e a visita deles não tardou a virar notícia.
-Eles saíram daqui com as caras mais feias do mundo!informou um rapaz, colega de turma da sala onde Cassandra estudava.
-Por que será?uma moça ficou curiosa.
-Pergunta mais besta! A Virgínia não se matou? Ela fez isso porque quase todo mundo a estava chamando de piranha depois daquilo que saiu no Facebook dela.
-Ora, se ela não era piranha, por que, então, ela se matou?Michele maquiava os olhos.
Marcelo falou:
-Penso que os pais dela têm razão de estar com raiva. O que fizeram com a Virgínia foi uma sujeira!
-Pois, se ela se matou, é porque era uma fraca!
-Michele - Marcelo a olhou bem nos olhos - você teria aguentado se estivesse no lugar dela?
Narciso era o único que não falava. Ele nunca mais citara o nome de Virgínia após o suicídio da garota. E o constante olhar de Cassandra sobre ele o estava incomodando mais do que ele queria admitir.
"Se ela sabe, como ela descobriu?"
Cassandra, sentada no fundo da sala, lia um livro. Volta e meia, levava a mão à cabeça e franzia as sobrancelhas, como se algo a incomodasse.Após um tempo, levantou-se, levando muito a mão à cabeça e, de repente, caiu no chão, desmaiada.
Marcelo foi o primeiro a ir até ela, apoiando-lhe a cabeça.
-Cassandra?
Ela abriu os olhos e começou a balbuciar:
-Vozes demais... tantas vozes ao mesmo tempo...
A professora de História entrou na sala e perguntou:
-Que aconteceu?
-A Cassandra desmaiou.
Gentilmente, a professora deu água a Cassandra, que continuou balbuciando:
-Eu não aguento... são tantas vozes.
-Calma, querida. Está tudo bem. Alguém chamou a ambulância?
-Não preciso de ambulância...quero ir para casa, só ir para casa, por favor...
-Tudo bem, vamos à diretoria e a diretora vai chamar seus pais.
Marcelo perguntou se Cassandra podia andar e ela disse que sim.
-Eu vou com você à diretoria, Cassandra.
A professora e Marcelo ajudaram Cassandra a se colocar em pé e a ampararam até à sala da diretora. Marcelo, que carregava a mochila dela, sentou ao seu lado. A professora explicou à diretora o que ocorrera e esta ligou para o pai de Cassandra, avisando-o do desmaio da filha.
-Pode ficar tranquila, Cassandra.Marcelo lhe deu mais água.
A menina o olhou um pouco, dando um sorriso débil e ele falou sem querer:
-Você tem um sorriso bonito, Cassandra.
-Obrigada por ter me ajudado.
-De nada.
-Sabe, poucos foram tão legais comigo assim como você está sendo agora.
Ele queria perguntar sobre as vozes à que ela se referira mas achou melhor se calar. Nunca estivera tão perto dela antes e percebeu que gostava de estar ao seu lado.
O pai de Cassandra não demorou a chegar. Ao ver a filha, foi logo abraçá-la.
-Estou aqui, querida.
-Pai, este é o Marcelo, meu colega. Ele me ajudou.
-Muito prazer, rapaz. Obrigado.
-De nada, senhor.
-Vamos, querida. Pode andar?
-Posso, pai.
Marcelo permaneceu um longo tempo olhando para Cassandra abraçada ao pai, homem de olhos castanhos muito escuros e voz grave. Ambos saíram e Marcelo, pensando no seu pai, voltou para a sala.
Um colega o cutucou:
-A Cassandra é estranha mesmo, hein, cara. Que desmaio!
-Não, ela não é estranha. E qualquer um pode desmaiar.
-Eu a escutei falando sobre vozes.
-Talvez fosse tanta gente conversando.
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