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Fantasia Negra

Nos meus sonhos apareces, lindo e sedutor, olhando apenas para mim, como se mais ninguém existisse no mundo, só eu. Misterioso, pareces querer mostrar-me um caminho novo para a minha vida que eu só poderia conhecer ao teu lado. Mas sabes bem que não posso dar-te a mão, esse futuro só existirá na dimensão de tudo o que é impossível. Sorris, triste e infantil como se tudo o que propões fosse só um capricho de criança. A vida é séria, não se resume a brincadeiras e loucuras, meu amigo. Um dia irás compreender isso. Os teus olhos brilham intensamente na escuridão como se fossem feitos de cristais líquidos. Posso sentir a tua angústia, a procura por uma paz que se revela infrutífera. Vagueias tímido, sentes que te observo e posso ver que gostas da minha atenção. Estavas completamente sozinho até eu aparecer. Os teus lábios parecem querer dizer o meu nome mas nenhum som sai deles. Olho inquieta o lugar para onde me conduziste, uma caverna profunda no coração da terra, vejo à minha frente o teu trono ricamente adornado das jóias mais belas que já vi na vida. És rei e único senhor do teu mundo. Pergunto-te o que faço aqui mas não me respondes, surges por detrás de mim, sinto o calor e o perfume do teu corpo mas não reajo ao teu movimento. Não tenho essa coragem. Avanço em direcção a um espelho que está ao fundo do salão. Quero saber se ainda sou a mesma. Este devolve-me limpidamente a minha imagem, tal e qual como me lembro. Fixas-me cravando todo o teu magnetismo no meu olhar nervoso, transmitindo-me mentalmente a força do meu carácter e a preciosidade da minha juventude. Sou bem mais nova que tu, a minha pele não tem máculas, a minha carne é imberbe. Os meus cabelos longos e palidez extrema agradam-te. Tenho este ar doente por causa do estado de ansiedade e agitação em que me encontro. Sou saudável e vou viver ainda muitos anos, sei agora disso. As lágrimas começam a desprender-se dos teus olhos, sabes que não posso ficar. Tenho coisas importantes para fazer lá em cima. Peço-te para não chorares, para te lembrares que te guardo no coração, que vives nas minhas lembranças, nos meus sonhos, nas minhas veias. És uma parte de mim porque nos amámos noutras vidas e continuaremos a encontrar-nos até ao fim dos tempos. Dizes que não suportas estar longe de mim, que a dor desta separação é demasiado forte. Eu também a sinto, é por isso que agora respiro ofegantemente, o meu coração bombeia apressado o sangue pelo meu corpo, como se fosse uma máquina a todo o vapor. Preciso de recolher toda a energia possível destes momentos porque sei que vai ser duro continuar sem poder admirar a tua beleza perfeita. Pergunto-te que espécie de criatura és, agora que passaste para além do bem e do mal. Não me pareces ser um anjo porque tens costas, respiração, desejos e necessidades. Respondes-me que és meu, somos um do outro e não há nada mais importante que essa verdade. Aceno em concordância com a cabeça e sorrio beatificamente, leve e etérea como o próprio ar que aqui circula. Quero ficar aqui, pertenço a este sítio e tortura-me a certeza que terei de partir em breve. Sou uma mulher paciente, sempre fui e hei-de aguentar a sentença de viver sem o teu amor. Acaricias-me o rosto docilmente, surpreendido pelas emoções que este revela. Nunca pensaste que eu correspondesse totalmente a este sentimento tão forte que te une a mim. Comento que sempre tiveste um complexo de inferioridade, o que para alguém com a tua aparência e talento não se justifica. “Sabia que não estava inteiro”, afirmas com toda a segurança. Sabemos que agora estamos completos, que não precisamos de mais nada para sermos felizes, é natural o modo como nos ajustamos um ao outro, é a combinação exacta e adequada. O nosso céu é o que vivemos agora. O teu corpo franzino chama-me como se de um íman se tratasse, não posso resistir a um apelo tão puro. Abraço-te com toda a devoção incondicional que mora em mim. Quando nos afastamos, é como se estivéssemos a quebrar um feitiço sagrado, a agir contra o que é correcto. Mas eu preciso de me acalmar, de reordenar os meus pensamentos. E sei que não te posso beijar porque absorveria o veneno ainda existente nos teus lábios, morreria e teria de ir para um Inferno, lugar distante e taciturno em que não poderias entrar. Percebes aquilo que quero e vais buscar um copo com uma substância desconhecida lá dentro. Vinho? Sangue? Não sei, o sabor é-me indistinto. Começamos a conversar harmoniosamente sobre tudo o que achamos essencial. As tuas palavras divagam sobre a história da tua vida, alegrias, dores, troféus, cicatrizes, vida, morte, amor, traição e acabas sempre no teu amor por mim que dizes dar significado a toda a tua existência. Escreves poemas que transformas em letras de canções que cantas, dedicadas a mim. Louvas todo o meu ser, o ter-te salvado da escuridão em que vivias. Sou a sombra profunda e a luz alta, brilhante e escura, sou o amor visceral e ruidoso que assola a tua pele como uma lâmina cortante. Sou a vida, o anjo, a mágoa mais querida e inesquecível da tua vida. Não chegam mil maneiras de amar, é preciso inventar muitas mais. Sabes que me irei juntar a ti na altura certa, de livre vontade, radiante. Serás sempre a minha fantasia a vir até mim nos meus sonhos, negra pelas ideias tristes que te definem e pelo vermelho demasiado permanente do nosso amor que como ferida recente, se torna escuro antes de brilhar, célebre, como um recém-nascido. Nada nem ninguém pode curar isto. Inclinamo-nos para um beijo, sei que arrisco, mas quero sentir esse tocar divino. Então acordo, quase a sufocar, na minha cama.

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sexta-feira, maio 22, 2009 - 19:08

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Paulagouveia

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