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Filosofia sem Mistério - Dicionário Sintéticoio
PSIQUISMO, PSIQUE, PSICOLOGIA, PSICOLOGISMO – Psique, do grego “PSYCHÉ” = alma, sopro, vida.
Conforme a simbologia da Grécia antiga, PSIQUE é a personificação do “Princípio” da “alma” e da vida. E o oposto de corpo físico, material.
Em sentido psicanalítico, a PSIQUE é o agrupamento de todos os processos mentais, tanto os Conscientes quanto os Inconscientes, exceto aquelas operações que são puramente orgânicas. A psique é associada aos Pensamentos, às Emoções, aos Sentimentos, às Recordações, às Fantasias etc. Quer sejam Racionais, ou Irracionais, Positivos ou Negativos e, até, Verídicos ou não.
O PSIQUISMO, além de ser o titulo dado ao conjunto dos elementos mentais acima citados, é o estudo dos mesmos, a investigação para se compreender a natureza e a estrutura de Pensamentos, Emoções, Sentimentos, Sonhos, Fantasia, Fobias, Traumas etc. O que são tais elementos, como os mesmos acontecem, por que acontecem e outras questões relativas ao tema.
PSICANALISE – “agora, porém, o caminho é escuro ... passamos da Consciência para a Inconsciência, onde se faz a elaboração confusa das idéias, onde as reminiscências dormem. Aqui pulula a vida sem formas, os germes e os detritos, os rudimentos e os sentimentos; é o desvão imenso do espírito...vasto Mundo incógnito. Grupo de idéias, deduzindo-se à maneira de silogismos, perde-se no tumulto das reminiscências da infância...”
FREUD (Sigmund 1856/1939, Moravia, território do Império Austro-Húngaro) para muitos foi o “Criador” da psicanálise. Para outros não passou de um “Organizador” dos dados relativos ao tema; os quais já eram conhecidos e tratados com certa regularidade nos meios acadêmicos e, até, em camadas leigas, mas letradas da Sociedade da época.
Corrobora essa segunda opinião o parágrafo que inicia este tópico e que foi pinçado do Conto “O Cônego ou a Metafísica do Estilo” de autoria do Mestre da Literatura Universal, o brasileiro MACHADO DE ASSIS (1839/1908, Rio de Janeiro), que o publicou em sua obra “Várias Histórias” de 1895. Precisamente quinze (15) anos antes da primeira publicação de Freud, que só ocorreu em 1900, com a obra “A interpretação dos Sonhos”.
Além daquela citação, outras sentenças pinçadas no mesmo Conto serão acrescidas a esse tópico, menos para corroborar a tese dos que tentam negar valor a Freud e mais para destacar a importância do assunto, que ao ser examinado com a devida profundidade revelou (ou pelo menos sinalizou) as Causas, os Motivos mais ocultos que surdamente geram uma enorme gama de sensações, de conceitos, de pré-conceitos; e uma série de males que sempre afligiram os Homens e que até então só eram tratados como “Possessões Demoníacas”, Apostasia, Feitiços, Bruxarias e outras superstições. Assim, sendo o “Criador” ou apenas o “Organizador” é justo conceder a Freud as devidas honras, pois foi um dos autores que mais influenciaram a vida humana.
Freud formou-se em Medicina no ano de 1881 e no inicio do século XX começou (c.1900) a desenvolver sua Teoria, alcançando desde logo fama e notoriedade. Em 1910, fundou-se a “Associação Internacional de Psicanálise” que teve Freud como seu primeiro Presidente. Em 1938, em razão do inicio da II Guerra Mundial e da perseguição aos Judeus, Freud fugiu para a Inglaterra, onde morreu no ano seguinte.
Sua Teoria foi assaz impactante nos campos da Psiquiatria e da Psicologia e, claro, na Filosofia e nas Ciências Humanas e Sociais – “... eis ai chega às profundas camadas da Teologia, da Filosofia, lições antigas e modernas... tudo à mistura, dogma e sintaxe...” (idem).
Na Filosofia, sua exposição dos dados que organizou sobre o Inconsciente, considerado como um baú em que ficam guardados os desejos reprimidos, as frustrações, ressentimentos etc. provocou uma grande virada na forma do Homem ser compreendido, pois a tradição filosófica Racionalista (ver Racionalismo), predominante à época, enxergava o Ser Humano apenas pelo seu aspecto consciente, racional.
Freud desenvolveu um exame, uma investigação desse lado da natureza humana, que desde Platão (c.427/237, Grécia) foi pouco estudado pela Filosofia, quer por motivos Teológicos (o obscurantismo religioso da Idade Média), quer por influência do Racionalismo* que reinava absoluto a partir de Descartes (1596/1650 França). Forçou o Psiquiatra, de modo efetivo, uma revisão nos Conceitos Filosóficos atinentes à Razão (Racionalidade), aos Pensamentos, às Emoções, à Vontade e à própria Consciência.
Também revistos foram os estudos e noções sobre Cultura - “outras idéias, grávidas de outras idéias, arrastam-se pesadamente, amparadas por outras idéias virgens (ibidem)” – e Sociedade. Também aqui sua contribuição foi deveras significativa, sobretudo por seu trabalho sobre a relação entre “Culpa” e “Ordem Social”, que para ele estão diretamente vinculadas ao nascimento das Sociedades, na medida em que a “Culpa (pelo parricídio)” é que levou ao agrupamento dos “filhos parricidas” que criaram a “Ordem Social” com o objetivo de evitar novos parricídios; isto é, o assassinato do “Pai Ancestral”.
A psicanálise freudiana também do ponto de vista Metodológico incentivou a revisão da própria maneira de se interpretar a Psique - “coisas e Homens amalgamam-se... memórias pias e familiares cruzam-se e confundem-se. Cá estão às vozes remotas, as cantigas da roça... farrapos de sensações esvaídas... aqui, um medo; ali, um gosto; acolá, um fastio de cousas que vieram cada uma por sua vez e que ora jazem na grande unidade impalpável e obscura...(ibidem)”. Para ele era necessária uma técnica adequada para se penetrar no Inconsciente, “nesse Mundo até então insuspeitado”.
A psicanálise de Freud, como se sabe, era baseada no chamado “Pan-Sexualismo”, segundo o qual toda vida psíquica do individuo (com os devidos reflexos no físico), desde o mais elementar, básico até o mais complexo, é derivada, direta ou indiretamente, de suas pulsões sexuais; isto é, de seus desejos reprimidos que por vezes escapam do Inconsciente e levam o individuo a cometer atos impróprios, inadequados e até criminosos. Ou, então, atacam a si mesmos causando uma série de perturbações psíquicas e físicas que vão de neuroses, histerias, depressões e outros males mentais até a somatizaçao de doenças físicas.
Em sua obra “Psicanálise e Teoria da Libido”, Freud expõe essa noção da sexualidade como agente das ações humanas e descreve o que é a “sua” psicanálise:
1.Um procedimento (médico) para a investigação dos Processos Mentais, mais ou menos inacessíveis por outra forma (de tratamento).
2.Um Método baseado nessa Investigação e utilizado para o tratamento das desordens neuróticas.
3. Uma série de concepções (idéias, conceitos, noções) psicológicas que foram adquiridas através de investigações anteriores e que forma, progressivamente, uma nova Disciplina Cientifica.
De maneira informal, Freud comparava a psicanálise a uma “Arqueologia do Inconsciente”, que ao ser escavado mostra toda espécie de emoções, pensamentos, repressões, remorsos, culpas etc. que influem na vida do paciente, tanto no cotidiano, quanto na elaboração de acontecimentos extraordinários. E essa revelação de um “Mundo Oculto” favoreceu o esclarecimento, o porquê de existirem comportamentos tão atípicos, como, por exemplo, o daquele cidadão que tendo uma vida regrada, em certo dia comete um crime horrível.
De maneira mais formal, Freud classificava a psicanálise como a “Doutrina do Inconsciente Psíquico” que revela, ou mostra, a complexidade dos Pensamentos e Emoções humanas; as quais, ao cabo, formam a base em que se assentam as Instituições (Religiões, Governos, Exércitos, Parlamentos etc.) criadas pelo Homem nos campos das Artes, da Política, das Religiões, da Sociedade, da Filosofia etc.
PSICOLOGIA – do latim científico “PSYCHOLOGIA”, do grego “PSYCHÉ” = Alma e “LOGOS” = estudo.
De maneira tosca, pode-se dizer que a Psicologia relaciona-se com Aristóteles, enquanto a Psicanálise com Platão. Viu-se que a segunda trata do Inconsciente, do “lado oculto” da mente, daquilo é mais interiorizado no individuo. Cuida, pois, da “Alma”, da “Essência” do Homem; da “Idéia platônica” do Ser Humano.
A Psicologia por sua vez, ata-se ao Consciente, ao “aparente”, ao perceptível da Mente Humana. Trata da Racionalidade, do superficial (mas não pueril). Cuida da “Lógica Aristotélica” que dirige o cotidiano prático do Individuo.
Essa diferenciação, porém, não deve ser vista como uma classificação por critério de importância. Ambas se complementam para estudar holisticamente a Mente Humana, como já se viu e como se verá na seqüência.
Há consenso entre a maioria dos eruditos de que a obra de Aristóteles (384/322 a.C. Macedônia) intitulada “O Tratado das Almas” foi o primeiro trabalho sistemático sobre Psicologia. Também há consenso quando se considera que a “Psicologia Racional” é a parte da Filosofia que estuda a Alma Humana, enquanto fonte e origem dos “Acontecimentos Mentais Objetivos” tais como: pensamentos, emoções, sensações etc., que acontecem no cotidiano, de maneira perceptível. Por isso é vista como uma Ciência tradicional, que cuida de coisas práticas, objetivas; ou seja, baseada em experiências repetidas que são analisadas e das quais são extraídos os Conceitos, as Definições, as Conclusões.
A tendência de inserir a Psicologia no campo da “Filosofia da Prática” começou a partir de Aristóteles, mas só se consolidou a partir do “Pensamento Moderno”, com as teorias do Empirismo* e do Racionalismo* que dedicaram enorme importância à Psicologia por sua vinculação com a tentativa de desvendar os meandros da Consciência, da Razão ou da Racionalidade, ou do Raciocínio. A partir de então, a Psicologia passou a contribuir de forma efetiva para o estudo de como se forma o Conhecimento; de como acontecem os processos psicológicos (ou os fatos intelectuais) e de qual maneira esses processos agem durante a fase de aquisição de Saber pelo individuo.
Através da análise da natureza (o que é) e da estrutura (como é sua forma, formato) da Consciência Racional, abriu-se o caminho para investigações sobre a origem das idéias ou pensamentos, das sensações ligadas ao físico (fome, sede, desejo sexual etc.), do processo de abstração e outras relativas ao assunto. Desse modo, à medida que a noção de “Consciência Racional” firmou-se, passou a assumir um papel de destaque no cenário da Filosofia, tornando-se uma ferramenta largamente utilizada.
Dentre outras, a “Fenomenologia” contemporânea utiliza-lhe com constância. Através da mesma, desenvolve seus estudos e sua análise da Consciência, principalmente no tocante à “Intencionalidade”; que, grosso modo, é proposição de que só existe uma Consciência enquanto ela mira, relaciona-se, com um objeto; enquanto ela tem a “Intenção” de captar e interagir com o objeto, com o Ser, ou com o acontecimento que lhe interessa.
Embora as Idéias de Freud tenham contribuído sobejamente para o desenvolvimento de alguns ramos da Filosofia, suas considerações sobre a Psicanálise e sobre o Inconsciente – mencionadas anteriormente – abalaram o relacionamento da Psicologia com a Filosofia, aqui vista em seu aspecto geral. A partir desse abalo, a Psicologia foi deslocada do Centro das atenções, pois como trata apenas do lado racional, objetivo, prático deixou de ter utilidade na medida em que a Filosofia retomou a sua vocação original e partiu novamente para estudos mais aprofundados. Todavia, sua importância persiste nos sistemas Empíricos, Racionais e em suas derivações.
PSICOLOGISMO – a Corrente Filosófica que coloca a Psicologia no centro das atenções e, também, como a base de todas as outras Ciências, pois seus adeptos alegam que as outras Ciências são formuladas a partir de Processos Mentais, os quais, ao cabo, só são compreensíveis graças à Psicologia. O Psicologismo é, pois, uma maneira de minimizar (ou reduzir) o significado dos fatos humanos, alegando que estes estão inseridos dentro do campo, ou da dimensão, psicológica. Desse modo, a própria Lógica, e até a Metafísica só existem porque antes foram concebidas intelectualmente, foram pensadas. Porque antes de qualquer investigação Psicanalítica ou Filosófica, já existiam na Mente do Homem, devidamente conhecidas pela Psicologia.
Para a Dra. Karla Gaspar.
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