...........FRUSTRAÇÃO...............

Ainda nutria a esperança de tê-la novamente. De poder sentir o perfume que emanava do seu corpo. Sabia que eram microscópicas as chances de reconquistá-la, mas me julgava forte, confiava na sorte e me agarrava às reminiscências das coisas lindas nos transformaram num núcleo de inesquecíveis sensações. Um nostálgico e inexplicável adeus insistia em me dilacerar a alma. Através dela cientifiquei-me de que iria contrair núpcias. Ao ser convidado, estava sendo expelido do centro para a periferia do seu coração. Agradeci, confirmando a minha presença. Por maior que fosse a dor, não devia jogar às traças a minha educação! Os dias iam se arrastando rumo ao altar, enquanto pensava num presente que atestasse toda a minha angústia. Optei presenteá-la com um URSO DE PELÚCIA junto com um cartão em cuja capa continha um garoto com os olhos lacrimejantes, ao lado do qual escrevi em letras góticas avermelhadas, a palavra felicidade e rubriquei. Monossilábico, eu passei dias de profunda melancolia! Egoísta, roguei aos deuses a desistência do enlace! Baldada súplica: uma confirmação “à queima roupa” foi uma adaga mortal a cravar-se no meu combalido coração! Por que teria que pagar tão alto preço?! Pessoas que conviveram com os nossos momentos felizes apostaram alto na minha ausência...mas eu estava lá: fui carimbar meu passaporte com destino à frustração! Trêmulo, foi assim que meu coração recepcionou o “grande dia”! Com um trago de uísque busquei anestesiar minha sensibilidade e chegue à Igreja antes dos noivos e convidados outros. Lá, tentei esconder meu aspecto sepulcral dentro de um blazer estilizado, mas revelava minha alma cansada, perdida. Era uma brutal ironia estar imerso num sofrimento infindo a despeito da felicidade de outrem. Amigos meus se entreolharam estupefatos ao me observarem, na Igreja, como se tivesse sido esculpido em madeira! A decoração e a beleza arquitetônica à minha frente se colidiam com a desolação que meu peito trazia! Bem depois, estava ela adentrando pelo leito da Igreja, com aquela sua beleza transbordante! Ao escutar os primeiros acordes do órgão, não consegui bloquear a emoção e vi desabar, “pari passu” com meu pranto, toda a minha esperança. Estava a poucos minutos do momento fatal. ...”Se alguém tem algo que impeça esse matrimônio......” . Toda a minha paixão não representava nada e tive que sufocar um grito que meu ego exigia. “Sim!” Convicta, ela disse “sim!”. Depois um beijo........Era um contraste horrendo e eu tinha a sensação de estar inalando cianureto de potássio dentro de uma “câmara de execução”! Àquela altura, não devia recuar, nem recusar cumprimentá-los. Vesti um disfarce e parti para o sacrifício. Tentei mostrar regozijo, mas ela viu lágrimas no meu sorriso e franziu o sobrolho! “Felicidades!” Não saía nem mais uma palavra...