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Futuro no Presente VIII

Sorri de maneira nervosa.

- Como te chamas? - Perguntei-lhe.
- Carla.
- Acho que temos muito que conversar.
- Nem imaginas quanto.

Sentamo-nos num banco, eu olhava atónito para frente, não sabia o que dizer então ela perguntou-me.

- Onde é o restaurante que nos encontramo-nos pela primeira vez?
- Aqui perto, ainda deve estar aberto, queres lá ir?
- Quero, mas tenho algum receio.
- Receio porquê.
- Nem sei por onde começar, é uma história comprida.
- Começa pelo nosso encontro no restaurante, para mim ele aconteceu hoje.
- Bem, vou contar-te mas terá consequências que não consigo imaginar quais são.
- Como assim.
- É que eu continuei a falar contigo ao longo do tempo, já te encontrei varias vezes com varias idades diferentes, qualquer coisa que te diga pode te alterar o destino.
- O destino somos nos próprios que construímos.
- É verdade, mas qualquer decisão por menor que seja que tomes agora diferente do que tomarias antes de falar comigo alterará o que aconteceria contigo caso não tivesses encontrado.
- Mas então já falaste comigo depois deste encontro?
- Sim, mas foi no meu passado e no teu futuro.
- E eu nunca te falei neste encontro.
- Não.
- Mas se nos voltaremos a encontrar no meu futuro e simultaneamente no teu passado eu já saberia, poderia ter dito.
- Pois poderia mas… é complicado explicar-te pois eu mesma estou perplexa.
- A quanto tempo nos encontramo-nos pela primeira vez?
- A cinco anos atrás.
- Se já passa tanto tempo desde o primeiro encontro como ainda estas perplexa?
- Já não acreditava que tinha acontecido e agora não tenho outra hipótese senão acreditar.
- Como assim?
- Foi assim, sai do teu tempo quando estávamos no restaurante e voltei para o meu, cinco anos antes, ou seja em 2005, não sabia de onde eras, tentei falar sobre isso a outras pessoas do meu tempo mas nunca me levaram a sério, não me preocupei com isso afinal eu sabia o que tinha acontecido, estava fascinada com essa experiência então passei a faze-la diariamente, sempre a mesma hora, falei contigo diversas vezes, conheci outras pessoas pertencentes ao futuro e ao presente, alterei o meu destino varias vezes, tu sempre foste amável e normalmente tinhas sempre uma nova invenção para mim e não só, inúmeras pessoas utilizam o carrete que concebeste e outras ferramentas como tu próprio gostas de chamar, mas quanto mais viajava mais me distanciava das pessoas do meu tempo, diziam que eu estava a imaginar coisas, mas eu estava cada vez mais convicta que minhas viagens eram reais e isso foi-me isolando cada vez mais da sociedade, não me preocupei, pois conseguia encontrar pessoas durante as minhas viagens que estavam em perfeita sintonia comigo, no meu tempo era muito mais difícil, acabei por eliminar praticamente a minha vida social, ia trabalhar, voltava para casa, fazia minha refeição da noite e viajava no tempo, depois ia dormir, minha rotina reduziu-se a isso durante cerca de dois anos, enquanto isso ia acontecendo estava a ficar cada vez mais alienada, não me apercebia disso, meu contacto com outras pessoas se resumia ao mínimo necessário, meu rendimento no trabalho começou a baixar pois meu interesse nele tornou-se nulo, era analista de mercados e como deves imaginar isso requer muita informação que devemos adquirir fora das horas de serviço, não tinha tempo para isso, no ano de 2007 o meu contrato não foi renovado, algo que não me preocupou, recebia o suficiente de subsidio desemprego para aguentar-me, não tinha mais vontade de voltar para o mesmo ramo, também não sabia bem o que queria, como sempre gostei de pintura comecei a pintar uma série de quadros inspirados nas minhas viagens no tempo, nessa altura só pensava nisso e as únicas pessoas com quem falava eram meus pais e meu irmão mais velho, minha cunhada tinha uma Galeria de Artes, sugeriu-me que eu fizesse uma exposição dos meus quadros, aceitei a ideia, aconteceu então algo inesperado, logo no primeiro dia meus quadros foram todos comprados por um anónimo, o que foi óptimo, continuei a levar então assim a minha vida, pintava, viajava no tempo, para mim parecia tudo normal, foi então que os meus pais sugeriram que eu fosse a um psiquiatra, não apresentei qualquer resistência, e marcamos uma consulta, contei-lhe a minha história, ele elogio a minha imaginação, fez-me uma receita e aconselhou-me a não ser tão crédula relativamente as viagens, não lhe levei muito sério, neste mesmo dia viajei no tempo, tentei obter respostas que me ajudassem mas todas que obtive diziam que eu teria de escolher entre continuar a acreditar nas viagens ou não, comecei a fazer uma retrospectiva acerca de tudo que tinha me acontecido desde a primeira vez, nada me provava que realmente aconteciam, realmente havia a hipótese de serem apenas fruto da minha imaginação, poucos dias depois fui a uma segunda consulta, o medico gostou de saber que tinha aberto essa possibilidade, modificou minha medicação, sugeriu-me então que eu tentasse voltar a contactar os meus amigos, tentasse estar mais tempo no mundo real, assim o fiz, evitei as viagens no tempo, a minha vontade de pintar foi desaparecendo pois meu tema, minha fonte de inspiração era algo a evitar, fiquei com um imenso espaço vazio dentro de mim, senti-me estúpida por ter desperdiçado meu tempo assim, por ter perdido meu emprego, voltei-me a interessar pela economia e gestão, nesse momento praticamente não tinha amigos, havia distanciado muito deles, estava desempregada e resolvi então fazer um curso de formação de formadores, a formação era uma escapatória para mim e teria oportunidade de conhecer novas pessoas, passado algum tempo fui a nova consulta, o Psiquiatra deu-me os parabéns pelo meu desenvolvimento, acabei o curso de formação, arranjei um emprego cá e aqui moro a cerca de dois meses.
- Pois e agora me encontras.
- Exacto, já não sei o que pensar.
- Não penses.

Riu-se, com a sua mão virou-me o rosto em direcção ao dela e beijou-me nos lábios, fiquei sem reacção, ela acariciou-me os cabelos, escorregou a mão pelo meu corpo e poisou em minhas pernas, segurei-lhe a mão, olhei-lhe bem fundo nos olhos e perguntei-lhe.

- E agora, o que ira acontecer?
- Não sei, nunca me disseste.
- Não lês-me a mente.
- Não, acontece algo semelhante nas nossas outras comunicações.
- E lá não leste.
- Nunca deixaste que eu soubesse de nada em concreto, apesar de eu saber que me desejavas.
- E… bem é melhor não perguntar.
- Isso é mesmo teu, uma frase que vais usar muito no futuro é “não faça uma pergunta se não estiver pronto para receber a resposta seja ela qual for”. Mas fiquei curiosa.
- Deixei meu amigo pendurado.
- Vais-te embora?
- Não, vou-lhe mandar uma mensagem a pedir desculpas e dizer que depois falo com ele, devemos ter muito que falar mesmo.
- Porquê será que nunca me disseste que nos encontraríamos no mesmo tempo e espaço.
- Não sei, mas devo saber na próxima vez que nos encontrarmos.
- Não achas que foi muita coincidência encontrarmo-nos hoje?
- Sim, mas também acho não existem coincidências.
- Acreditas mesmo nisso?
- Sim.
- Mostras-me onde é o miradouro de São João?
- Conheces?
- Pode-se dizer que sim, apenas não sei onde é nem como ir até lá, mas já encontrei-me contigo diversas vezes nesse sitio.
- Temos de ir de carro, é a uns cinco quilómetros, estas com o teu carro aqui perto?
- Sim.
- Então é melhor irmos no teu.
- Esta bem.

Caminhávamos a par enquanto enviava a minha mensagem para o Ivo, entramos no carro da Carla, não falamos muito, ia lhe indicando o caminho, chegamos local, saímos do automóvel, aproximamos do muro que dava para uma falésia, o céu estava estrelado, então ela disse-me.

- É exactamente este local. - Sorriu.
- Esse local, o que tem de especial para ti.
- Para te responder tenho que falar do teu futuro.
- Falas como se o futuro estivesse determinado.
- É que o teu futuro esta no meu passado.
- Já pensaste que isso pode se alterar.
- Pode, sem duvida, inclusive eu posso vir a nunca te encontrar hoje.
- Já ouvi algo semelhante quando falei com o ser de luz, tu o conheces?
- Sim, muito bem, fecha os olhos e chama-o.

Segui o que Carla disse-me, nesse exacto momento apareceu o ser de luz, comecei a ver o tempo a voltar para traz, entrava no carro, voltava ao jardim, a Carla ia-se embora, voltava ao Bacanas, sentava na mesa, estava com o Ivo, levantava-me da cadeira e estava novamente perto do balcão a decidir para que mesa ia-me sentar, ouvir o ser de luz falar.

- Neste exacto momento já sabias tudo que ia acontecer até agora.
- Não sabia, apenas segui a minha intuição.
- Exacto, intuíste.
- Posso voltar para esse momento e fazer tudo diferente.
- Não e sim.
- Não te entendo.
- Se desejares realmente que o que aconteceu a partir desse momento não venha a acontecer da forma que aconteceu tens que focalizar a tua mente em algum ponto do tempo anterior a esse ou esse, e enviar uma mensagem para esse tempo, essa mensagem ira influenciar a tua decisão.
- É determinante essa influência.
- Pode ser como pode não ser, ao longo de toda tua existência estarás a influenciar tanto para frente como para trás no tempo as tuas decisões.
- Toda a minha existência?
- Sim.
- Acho melhor voltar para o presente.
- Tu é quem sabes.
- Mas antes queria saber quem tu és.
- Sou aquele que vês, ouves e sentes.
- Isso não me adianta muito.
- Já tens a resposta dentro de ti, perguntas-me só para ter a certeza que estas certo, para acreditares que a tua resposta é verdadeira, qualquer resposta que eu te dar não vai te adiantar muito, vais ouvir apenas aquilo que queres ouvir, tu sabes quem eu sou, cabe a ti acreditar ou não, não a mim.
- É difícil ter uma resposta clara de ti.
- Não, o que se passa é outra coisa, ainda não estas convicto das tuas crenças.
- Nem nunca estarei, são mutáveis, o que é hoje verdade pode ser mentira amanhã.
- Estas certo, mas tens que acreditar no hoje, no presente, se amanhã passará a ser mentira é outro coisa, tens direito a te enganar.
- Mas… olha por exemplo, eu já acredito em coisas gratuitas, coisa que não acreditas, penso que estou certo, se tiver significa que não és um ser tão evoluído como eu pensava.
- Por outras palavras, perdia um pouco de luz.
- Mais ou menos isso.
- Mas uma coisa não invalida a outra, eu não acreditar em coisas gratuitas e tu acreditares não significa que essas coisas existam ou não existam absolutamente, elas existem e não existem simultaneamente.
- Isso é impossível.
- A única coisa impossível é existir algo impossível e essa própria impossibilidade contradiz-se a si própria.
- Confundes-me.
- Tudo é possível.
- Tudo o quê?
- Tudo que se consiga imaginar.
- Tenho medo de acreditar no que tu dizes-me.
- Entendo, mas não te preocupes, tu só recebes aquilo que estas preparado para receber.
- Não te entendo.
- Entendes! Meu fluxo vai para ti, já sabes disso, mas só descodificas a parte da informação que és capaz de descodificar.
- Como eu aumento a minha capacidade de descodificação?
- Basta acreditares na tua intuição.
- Bem, acho melhor voltar ao presente.
- Até logo.

Abri os olhos, a Carla olhou para mim, sorriu.

- Estive muito tempo a viajar? – Perguntei-lhe.
- Não, poucos segundos.
- Poucos segundos? Mas tive a sensação que se passou muito mais tempo.
- Isso é uma coisa eu nunca consegui entender em ti.

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sexta-feira, abril 30, 2010 - 10:47

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Veiga

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Re: Futuro no Presente VIII

" A única coisa impossível é existir algo impossível e essa própria impossibilidade contradiz-se a si própria."

"Tudo é possível.
- Tudo o quê?
- "Tudo que se consiga imaginar."
Desde a adolescencia que defendo esta ideia
- Tenho (((MEDO))) de acreditar no que tu dizes-me."

lINDO VEIGA!!

Eu quando te digo que sou crente, religioso, sou e com todos os dogmas que achamos descabidos.
A minha "religiosidade" é o meu veiculo para acreditar no impossivel.
Quando me foi diagnosticada o STB Sindrome Transtorno Bipolar e consequentemente me quiseram medicar, eu tive medo que a medicação me viesse castar o que eu chamo de super-poderes,que hoje am dia nada mais é do que acreditar nas coisas de corpo e alma. Sem duvidas.
Felizmente não castrou. nem me afectou a criatividade.
Não te conheço, já gosto de ti como escritor,pela forma com comunicas e pelo tema que tens vindo a abordar. Consigo ver em ti grandeza ," O homem não é do tamanho da sua estatura mas sim do tamanho daquilo que consegue ver." Tem vindo a ser facil criar uma empatia contigo.
Fico à espera de mais capitulos.
Um Abraço.
* Sabes que mais? Acho que tu, o teu texto e etc, também eles não apareceram por acaso na fase da minha vida em que me encontro.
Fica Bem!!

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