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Insensato Coração

Muitas vezes eu ficava observando a rua da janela do meu quarto, enquanto os pingos da chuva escorriam pelas vidraças, formando figuras estranhas e algumas vezes, irreais. Eram nestes momentos que a minha imaginação corria solta, feito uma pluma a flutuar na imensidade do meu sonhar. Era como se o meu coração fosse embalado por uma suave canção, ritmada pelos pingos da chuva e o silêncio da madrugada. Encostava o rosto na janela e imaginava onde poderia estar o amor pelo qual tanto sonhei e que jamais consegui encontrar. Talvez estive ali, bem perto de mim e só eu não pudesse senti-lo, porque o desejo muitas vezes nos impede de enxergar o que está tão próximo de nós. Por mais que eu sonhe com o amor verdadeiro, aquele que nos faz sonhar e viver com a cabeça nas nuvens, começo a cogitar se um dia ele chegará ou talvez eu o encontre em alguma curva do caminho, pelo qual ainda não tenha passado. Mas são tantos os caminhos que acabo me desviando deles e quando penso que estou chegando a algum lugar, percebo que são apenas vestígios de um caminho pelo qual já passei tantas vezes e de tão deserto, já não observo mais a paisagem. Talvez devesse olhar com outros olhos e aceitar a visão que os meus olhos veem. Mas nem sempre a visão se encaixa no meu olhar. É como se fossem imagens retorcidas de um momento que já vivi e não quero mais repetir. Isso torna o meu olhar cada dia mais vago. Fito o infinito com o olhar vazio, porque sei que não mais poderei sonhar os mesmos sonhos que já tive um dia. Eles foram se apagando pouco a pouco da minha lembrança e os pingos da chuva borraram as imagens que eu ainda insistia em conservar.
Débora Benvenuti
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domingo, setembro 7, 2014 - 14:04
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