CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

a lenda do arvoredo castanho

“…não me vou lembrar concretamente dos pormenores exactos do evento, mas tentarei aproximar os mesmos, dentro da minha memória, à realidade de então… não consigo, pois, precisar a data, nem o ano nem o mês nem o dia nem a hora mas foi num tempo que passou por mim (ou que eu passei por ele, tempo…) em determinada altura da minha vida… recordo a imagem de tudo o que me rodeava e onde estava inserido: era um amplo descampado rodeado de árvores (uma espécie de clareira) castanhas com folhas castanhas (talvez, por esse pormenor, tivesse sido no Outono)… o chão estava repleto dessas mesmas folhas e o vento não existia… elas formavam portanto uma espécie de tapete fofo e convidativo ao mergulho no meio delas… a idade não me permitia aferir dos benefícios ou malefícios desse pseudo mergulho seco… mas a verdade é que, sem mergulhar, me deixei cair no chão sobre elas… uma enorme quantidade voou em meu redor como aves levantando voo… depois, lentamente, voltaram a descer não já sobre o mesmo lugar… algumas caíram sobre o meu corpo de menino, de criança, de inocente… deixei-me ficar ali por uns momentos olhando o céu azul, sem uma única nuvem… via-me numa espécie de poço com as árvores a servirem de parede do mesmo… por cima, a luz azul… não sei precisar a quantidade de tempo que ali estive mas recordo que adormeci e quando acordei estremeci de frio e vi que o céu já não estava azul… era já prisioneiro do cinzento avermelhado… levantei-me e nesse momento dei de caras com ele… era um homem velho, de costas curvadas com o peso de um molhe enorme de ramos de árvores… na mão direita segurava uma espécie de bengala, aquilo que, mais tarde, vim a saber chamar-se cajado… senti que não senti medo nem desatei a fugir, nem a gritar nem a chorar… aqueles olhos que me fixavam tinham um brilho diferente do que era do meu conhecimento… não reconheci naquele olhar um olhar humano mas apesar desse factor o olhar tinha um esplendor e resplandecia de luz… olhou-me, sorriu-me e estendeu-me a ponta do cajado como que querendo dizer ou perguntar quem eu era e o que fazia ali… como hipnotizado sei que me aproximei dele e toquei com a minha frágil mão na ponta desse pau… senti a rugosidade da madeira mas mantive ali a minha mão… não consigo explicar o que senti mas consigo visionar ainda o que se seguiu: da mão daquele velho saiu uma espécie de luz violeta que percorreu a vara, o cajado ou a bengala ou lá o que era e parou nos meus dedos e senti um suave calor no punho… nesse momento, retirei a mão e olhei para ela para ver o que se estava a passar: nada, a minha mão estava na mesma, não tinha nada que me pudesse ter preocupado… volvi, de novo, os olhos para o sítio em fronte de mim onde estaria o velho… nada estava lá… o vazio era total… aí, tive um frémito de medo e dei meia volta em direcção a casa… o caminho não estava alterado, tudo estava na mesma e quando cheguei a casa, nada de estranho deixei transparecer até porque minha mãe nada me disse: como se eu tivesse saído dali naquele momento e de novo voltasse para trás… dali a pouco senti o cheiro da sopa e lembro-me que naquela noite não consegui dormir… ainda hoje, a minha mão direita está sempre quente e não sei explicar a razão nem sei explicar se aquilo que está na minha memória se passou no real ou se foi um sonho mas por todos os elementos que ainda possuo, continuo crente que algo me tocou naquele fim de tarde, naquela clareira, de árvores castanhas com folhas castanhas espalhadas pelo chão…”

Joaquim Nogueira

Submited by

terça-feira, outubro 14, 2008 - 22:30

Prosas :

No votes yet

lobices

imagem de lobices
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 anos 2 semanas
Membro desde: 08/11/2008
Conteúdos:
Pontos: 316

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of lobices

Tópico Título Respostasícone de ordenação Views Last Post Língua
Prosas/Romance despido 0 1.263 11/18/2010 - 23:40 Português
Prosas/Romance desenho 0 1.227 11/18/2010 - 23:40 Português
Prosas/Romance dilema 0 679 10/11/2008 - 18:56 Português
Prosas/Romance emoções 0 1.443 11/18/2010 - 23:40 Português
Prosas/Romance a lenda do arvoredo castanho 0 1.378 11/18/2010 - 23:40 Português
Prosas/Romance terra 0 1.336 11/18/2010 - 23:40 Português
Prosas/Romance inacabado 0 821 10/20/2008 - 18:24 Português
Prosas/Romance subentender 0 1.375 11/18/2010 - 23:40 Português
Prosas/Romance agarrar o tempo 0 709 11/02/2008 - 20:22 Português
Prosas/Romance hoje 0 881 11/11/2008 - 20:06 Português
Prosas/Romance o momento divino 0 598 11/13/2008 - 16:43 Português
Prosas/Romance ouvindo a noite 0 406 11/17/2008 - 20:25 Português
Prosas/Romance meu avô 0 1.268 11/18/2010 - 23:45 Português
Prosas/Romance imagens 0 716 11/25/2008 - 16:55 Português
Prosas/Romance acordar 0 1.660 11/18/2010 - 23:45 Português
Prosas/Romance Binário 0 1.098 11/18/2010 - 23:45 Português
Prosas/Romance Ida 0 1.376 11/18/2010 - 23:45 Português
Prosas/Romance Deuses 0 1.067 01/06/2009 - 12:30 Português
Prosas/Romance Parir 0 1.448 11/18/2010 - 23:45 Português
Prosas/Romance Nudez 0 916 03/03/2009 - 18:16 Português
Prosas/Romance Tela 0 1.223 11/18/2010 - 23:45 Português
Prosas/Romance Distância 0 539 03/23/2009 - 20:14 Português
Prosas/Romance Carta 0 1.294 11/18/2010 - 23:47 Português
Prosas/Romance Graal 0 874 05/27/2009 - 17:41 Português
Prosas/Romance Carta eterna 0 1.461 11/18/2010 - 23:57 Português