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A menina que parecia um anjo
A menina que parecia um anjo corria desalmada pelas ruas da vila. As pessoas seguiam-na com os olhos enquanto passava e cochichavam umas com as outras abanando a cabeça. Diziam “Esta já não há-de durar muito mais”. E não durou. Na verdade os anjos não pertencem a este mundo e neste mundo ela não ficou. E a estrada era a vida dela. Corria em direcção à floresta com os olhos encharcados em lágrimas. Lágrimas de correr ao vento ou lágrimas das mágoas da vida não sei, mas o que é certo é que ao a verem naquele estado as pessoas abanavam a cabeça e diziam “Esta já não há-de durar muito mais”. Eu nunca tinha visto a menina que parecia uma anjo correr daquele jeito mas naquele dia eu vi-a. Toda a vila a viu. Naquele dia o reboliço dos seus pés a baterem nas pedras da calçada trouxe a vila para a rua e todos a viram como eu a vi.
Ela corria para a floresta e lembrava-se do canto dos pássaros nas manhas de primavera. E ouvia a melodia da natureza a chamar por ela. E lembrava-se do som das balas a trespassarem os pássaros e o seu canto. O som de pesos mortos a cair no chão. E ouvia o lume a crepitar na sua lareira. O som do calor a entranhar-se nos ossos. E arvores caíam diante de si, as labaredas e línguas de fogo erguiam-se entre os vultos da floresta pintando os céus de fumo. Ouvia a água harmoniosamente a rolar sobre pedras, rãs e sapos a marcarem presença. E ouvia também o último coaxar do sapo no rio seco.
E desapareceu por entre as árvores.
Foi a última vez que alguém viu a menina que parecia um anjo. Nos dias que vieram a vila não falava noutra coisa. A menina que parecia um anjo correu pela floresta dentro e nunca mais voltou. O tempo foi passando e a vila foi retomando o seu ritmo. Lento, quase inexistente. As pessoas parecem que se esqueceram. Já não cochicham entre si olhando em direcção à floresta.
Mas eu não esqueci. Eu ainda me lembro. Foi há vinte e sete anos. Eu estava à minha janela e vi a menina que parecia um anjo a correr desalmada pelas ruas da vila. A minha avó estava ao meu lado e disse-me “Esta já não há-de durar muito mais”. Eu nunca a compreendi, mas desde aquele dia que venho todos os dias a esta janela e imagino-me no lugar da menina que parecia um anjo, e como seria se eu um dia descesse até à rua e corresse sem retorno em direcção à floresta. Porque afinal eu também sou um anjo. E os anjos não pertencem a este mundo. Eu não pertenço.
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