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Meu Anjo Negro - 1ª parte

Lembro-me dele, encontrei-o a vaguear pela Terra. Envolto pela escuridão a que fora condenado, chamou-me a atenção pelo seu olhar triste e solitário. Uma força invisível puxou-me para aquele ser que se identificava mais com um traste que com outra coisa qualquer. Aproximei-me e ele fitou as minhas asas e a pureza do meu vestido branco. Sentiu-se incomodado. Segundo ele, não era digno de me observar. Sim, ele não seria digno de me observar visto ser notório que aquele ser pertencia às trevas, era um demónio, e nunca ele seria merecedor de observar um anjo. Mas ao contrário dos outros demónios, não me tentou fazer mal. Aliás, mal se apercebeu da minha natureza desviou o olhar e não me voltara a fixar. Sentei-me ao pé dele. Ele voltou a dizer que não me podia observar, tinha a vista corrompida de tanta maldade. Quando disse isto, despertou a minha curiosidade. E então ele contou-me a sua história.
            Aquele demónio que ali procurava matar todas as suas mágoas, na esperança que pudesse aniquilar aquilo que ainda restava vivo em si, já fora um humano outrora. Um humano que, tal como tantos outros, se apaixonara e vivera um amor proibido. Vivera fazia já muitos séculos, numa época em que tudo era diferente, numa época em que o berço em que se tinha nascido contava. E infelizmente, o seu berço de palha não podia concorrer com o berço de ouro daquela rapariga que o enlouquecera. E muito menos com o berço de diamante do homem que a tomava nos braços. Sim, aquela luz que o enfeitiçava estava nas mãos de um outro homem, um homem de poder que o aniquilaria com um estalar de dedos.
             Lembrava-se perfeitamente de como a tinha conhecido. Muitas vezes ele ia vender para o mercado com a sua mãe, que com a idade que tinha, coitada, já não tomava conta do recado sozinha. Foi lá que a viu pela primeira vez, cheia de encanto, cheia de energia. Viu-a a aproximar-se da sua banca, a pegar numa rosa branca e a cheirá-la. Guardou todos os seus movimentos, não conseguia deixar de a observar. Sabia que estava com aquele sorriso idiota, mas nem conseguia pensar em tirá-lo. Não conseguia pensar em nada. E então quando ela lhe retribuiu com aquele sorriso inocente, cheio de magia, sentiu que o seu mundo tinha parado. Delicadamente, ela pousou a rosa e, quando se preparava para virar costas, ele chamou-lhe a atenção num som inaudível. Não era sua intenção incomodá-la, não queria que ela o ouvisse, mas o olhar dela caiu-lhe em cima. E então, sempre em silêncio, perdido na sua vergonha, ofereceu-lhe aquela rosa branca. Mais uma vez ela sorriu-lhe, também ela embaraçada, e após um obrigada despediu-se. Viu-a afastar-se e a levar com ela todo o seu calor, toda a sua vida.
            A partir daquele dia, ansiava por voltar a vê-la, rezava para que ela passasse ali novamente. E, para sua grande alegria, ela passava. E para seu maior deleite, ela sorria-lhe quando o via! Oh, como ele adorava vê-la passar, com os seus lindos cabelos loiros soltos e com os seus olhos verdes cintilando. Nunca outra rapariga tinha entrado na sua cabeça daquela maneira! Tornara-se personagem principal de uma quantidade enorme de sonhos, em que uma história de amor se desenrolava. Até ao dia em que o jovem descobriu que os sonhos não passavam disso mesmo, de sonhos, o que o fez passar para a vida real, onde o seu pesadelo começou.
Sabia que ela era de outro homem, já o tinham advertido disso. Mas ele continuava a sonhar, na esperança de que um dia ela fosse sua. Enquanto tivesse fé, nada o podia demover dessa sua ilusão. Mas então ele percebeu que não passava disso mesmo, de uma quimera impossível, quando a notícia do casamento dela eclodiu. Não podia ser, não podia acabar assim! E então viu-os, abraçados, aos beijos. O seu coração cortou-se em mil pedaços, com umas lâminas fortes e dolorosas. Apeteceu-lhe chorar como uma criança, como nunca tinha chorado até então. As lágrimas foram contidas, mas o seu coração chorava desalmadamente, libertava lágrimas de sangue. A vida do jovem ruiu, tudo aquilo que era vida desapareceu, dando lugar a uma mera existência. E enquanto os via, conseguia distinguir aqueles olhos verdes, agora escuros, sem qualquer vestígio da vivacidade que os caracterizava. Ela também o observava, e no entanto retraía-se, tentava fazer-se desaparecer nos braços daquele homem. Ele entendeu que o que via apenas se tratava de uma mulher a manter-se fiel aos valores que lhe tinham sido incutidos. E, por mais que isso pudesse doer aos dois, ambos sabiam que aquela atitude era a correcta.

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quarta-feira, fevereiro 29, 2012 - 19:40

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Beth222

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