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Meu pequeno depoimento em prol do ateísmo

Ninguém nasce com uma religião ou sob uma religião, acreditando em um deus, da mesma forma que ninguém nasce ativamente ateu (é um absurdo falar em criança católica ou evangélica, por exemplo, da mesma forma que é um absurdo falar em criança comunista ou liberal): esse é um assunto indiferente para o homem em seu estado natural, e deveria continuar assim; mas nossa sociedade, nosso bando necessita e insiste em acreditar na crença, insiste em acreditar que devemos acreditar em algo - pois acreditar em nada que seja divino ou religioso passou a ser um “pecado mortal” após o surgimento do cristianismo; e esses dogmas vêm sendo perpetuados por gerações através de violentas e inquestionadas imposições. Nasci e cresci em uma família católica, frequentei a igreja quando criança, fui batizado, passei pela primeira comunhão etc. etc. Nunca fomos muito religiosos, é verdade, nem éramos frequentadores muito assíduos da igreja. Tive sorte: nunca me foi imposta a religião. Fui algumas poucas vezes à missa de Domingo com a minha mãe (meu pai estava sempre trabalhando e, por uns bons anos, eu mesmo trabalhei com ele em seu pequeno comércio) e não me lembro de ter ido à igreja uma vez sequer por livre e espontânea vontade (principalmente depois de minha primeira comunhão por volta dos oito anos de idade), mas fui uma criança muito pacata e sempre procurei não desapontar minha mãe; mas algo me incomodava, e eu sempre me questionava sobre tudo aquilo: logo, me afastei de toda aquela coisa e, hoje, posso dizer que, na verdade, sempre fui ateu, porque logo aprendi diretamente com a fonte - a Bíblia e a própria igreja - e desde cedo com os próprios religiosos a sê-lo; bastou prestar bem a atenção: durante meus anos de formação, me despertou a mais absoluta descrença em valores que as autoridades religiosas transmitiam, ao tentar vender ideias que, no seu exercício diário, eram opostas ao que pregavam; as respostas que eu obtinha não eram satisfatórias às minhas perguntas; na verdade, aprendi muito com as “lições” machistas e terroristas da Bíblia, aprendi muito com os absurdos da História das religiões, aprendi muito com os traumas e aniquilações infligidos pelas catequizações forçadas mundo afora, aprendi muito com as maldades perpetradas em nome de Deus, aprendi muito me questionando sobre a religião em si, sobre as crenças em si, sobre a ideia de um deus criador e punidor, sobre os dogmas, sobre as homilias e rituais sem sentido, sobre a igreja como instituição mundana ou sobrenatural e sempre acima da lei, sobre a religião e a igreja como escudo ou como muletas para “suportar” nossa existência, sobre as “lições” das “sagradas escrituras” (que mais configuram uma confusa ilusão sem sentido), e principalmente, sobre um padre como sendo um confessor ou conselheiro... quem era ele? o que poderia ele saber da minha vida para me aconselhar que meus pais não saberiam fazer melhor? como o fato de rezar poderia resolver um problema de maneira melhor que a ação? (para mim, isso era o mesmo que contar apenas com uma superstição ou com a sorte...). Por que as mulheres não tinham voz nem participação importante nos altares? de quanto dinheiro mais eles tanto precisavam? por que não trabalhar por ele, então? (ou eles realmente acham que contar mentiras milenares às pessoas, alienando-as e afastando-as dos problemas reias da vida é um trabalho?) E quanta ostentação em seus templos... quantas estórias fantásticas, difíceis de se acreditar... Por que as tais escrituras eram ditas “sagradas”? quem as escreveu? Aliás, quanto horror há nelas... quanto machismo, quanta violência, quanto despotismo e sofrimento... quanto ressentimento... quanta culpa e tristeza... e, na igreja, quantas pessoas repetindo as mesmas ladainhas sem prestar atenção ao que era pregado... quanto “senta e levanta” inútil e enfadonho... Eu me sentia muito distante de tudo aquilo. Eu me questionava se apenas eu pensava assim. O que havia de tão errado comigo? qual era o meu problema? Simplesmente eu não tinha mais como continuar e não conseguia chegar a uma resolução ou conclusão sobre a ideia de Deus e tudo o mais que tinha a ver com fé religiosa. E por conta destas e outras questões, depois de tentar considerar Deus e a igreja, “voltei” a não mais acreditar nas fantasias e nas alucinações coletivas que as pessoas chamam de religião, de milagres ou de “provas” da existência de Deus. Cheguei à conclusão de que não se pode ser religioso e consciente ao mesmo tempo: ou nos fazemos de idiotas e desentendidos e, sem prestar atenção ao que é dito (ou fingindo não prestar atenção), continuamos a seguir os ritos, as homilias e as inúteis “lições”, sermões e cerimoniais das missas e suas falácias horrorosas, ou continuamos no caminho natural do ateísmo ou, ao menos, da indiferença perante a metafísica religiosa - do qual nunca deveríamos ter-nos desviado. Como toda criança e adolescente, eu tinha dúvidas enormes quanto à ideia de um deus, mas não sabia o bastante sobre nada para ter um bom modelo de qualquer outra explicação para a vida, o Universo, e tudo o mais que eu pudesse colocar em seu lugar. Mas insisti, e comecei a ler, e continuei pesquisando, e continuei pensando e refletindo... Em algum ponto, por volta do início da minha adolescência, tropecei na biologia evolutiva e então tudo se encaixou! Era um conceito de uma simplicidade impressionante, mas ele fez surgir em mim naturalmente o sentimento de toda uma infinita, maravilhosa e desconcertante complexidade da vida! Então, percebi que tudo isso estava à minha volta desde sempre, eu é que não percebia tudo isso! Então conheci Charles Darwin e seu maravilhoso livro, Carl Sagan e sua série Cosmos, o mundo de Beakman, Douglas Adams, Einstein, Espinoza, Epicuro, Diógenes, Nietzsche etc. e a visão da ciência e da filosofia sobre as coisas do mundo me cativou completamente. Por que deveríamos tentar acreditar em coisas que não podemos ver nem sentir, nem saber ou provar se existem ou se existiram, se as coisas reais são tão simples e tão maravilhosas? O maravilhamento que a ciência e a filosofia inspiraram em mim fez o sentimento da tal “experiência religiosa”, de que as pessoas tanto falam, parecer extremamente tolo e vazio... Eu não hesitaria um segundo sequer em trocar o “maravilhamento” religioso da ignorância pelo maravilhamento da compreensão séria e consciente da ciência. Achamos (ou melhor, fomos doutrinados a achar) que temos a necessidade de fé no sobrenatural. Achamos que temos a necessidade de alguém olhando por nós lá em cima: isso não passa de pura superstição! E para nos livrarmos de tudo isso, nem precisa muito; veja: não é preciso uma revolução para isso! Basta limpar a mente, soltar a carga e pensar seriamente por um minuto; basta apenas um questionamento individual que faça cada um perceber que ser religioso, ser cristão etc. é entregar sua vida a uma ilusão sem sentido... Esquecemos que temos de viver a vida da melhor forma possível e ser bons sem precisar de alguém olhando, anotando e julgando tudo o que fazemos: isso não passa de pura alienação moralista e amedrontadora! Esquecemos que temos uns aos outros quando precisamos de ajuda e não precisamos de mais ninguém fora daqui, tão distante “lá no céu”... Não conseguimos viver sem nosso bando, é verdade, mas nada justifica a invenção de um “pai” legislador, julgador e punidor para não nos sentirmos sozinhos. Achamos que somos ou temos de ser o centro do Universo, senão as nossas vidas não farão sentido, e isso tem nos doutrinado por milênios! Mas é justamente isso: a vida por si só não tem sentido mesmo! Nós é que damos sentido às nossas vidas, e este sentido tem de ser independente e imparcial, deve partir de nós mesmos, não externamente! A descoberta, por Darwin, de um processo viável que faz uma coisa tão contrária à nossa intuição é o que torna sua contribuição ao pensamento humano tão revolucionária e devastadora, e tão armada com o poder de conscientizar. Aprendi que a ciência (principalmente a física e a astronomia, e também a filosofia séria) nos coloca em nosso devido lugar, metafórica e literalmente falando, encolhendo a nossa vaidade para que ela caiba no minúsculo palco onde representamos as nossas vidas: nosso pedacinho de detrito de uma explosão cósmica que chamamos de Terra, na qual tudo e todos que conhecemos surgiram, vivem e viveram. Já a geologia nos faz lembrar da brevidade de nossa existência, tanto como indivíduos, quanto como espécie. O conceito de impressionante simplicidade de que eu falava era a teoria da evolução pela seleção natural de Darwin - a conscientizadora definitiva, a poesia científica em prosa: essa, sim, deveria ser ensinada e apresentada a toda a criança da Terra desde a mais tenra idade, mas não como uma imposição sem sentido, como fazemos com as religiões. As crianças deveriam sim aprender desde cedo que somos todos iguais e tão importantes quanto todos os outros seres do planeta e que evoluímos de um mesmo ancestral; deveriam aprender que este mundo faz parte deles e eles fazem parte deste mundo, aqui e agora, e que viemos do mesmo lugar e vamos todos para o mesmo lugar (ou seja, nenhum outro lugar) e não precisam fazer nada de bom ou de ruim esperando uma “recompensa no céu” ou uma “punição no inferno” após a morte, mas fazer aqui e agora, nesta vida, porque o aqui e agora é o que importa! Esta vida, este momento, aqui e agora, é o que importa! Essas pessoas reais que nos rodeiam aqui e agora é que importam! E o que é bom é e deve ser natural, não forçado, ou algo temendo punição ou esperando ser recompensado... Além disso tudo, podemos, a qualquer momento, estar no “céu” ou no “inferno”, depende exclusivamente de nós mesmos! Hoje, posso dizer que tenho minha própria “religião”: acredito em mim mesmo e nas pessoas as quais considero a minha família; se posso e se quero, faço o bem; se não, faço nada, não atrapalho; se eu tenho um problema ou alguém precisa de ajuda, parto para a ação (pois orações nunca salvaram nada nem ninguém!); não existe um deus, nem um alá, um baal, um deus-sol, nem qualquer outro ser sobrenatural para nos salvar; temos todos que entender, de uma vez por todas, que temos de resolver os nossos problemas nós mesmos!

E, antes de finalizar meu pequeno depoimento, deixo aqui uma pequena sugestão:
a Bíblia, o Alcorão, a Torá e todos os outros chamados “livros sagrados” deveriam vir com avisos e lembretes na capa com os dizeres: “isso é ficção”, “não tente isso em casa”, “isso é só mitologia”, “isso não deve servir como escudo, nem como fantasia social delirante ou desculpa para alucinações coletivas”, “isso não pode ser usado para tirar dinheiro dos outros”, “não imponha isso como verdade a ninguém”.

Esse pequeno gesto resolveria muitos problemas do mundo...

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quarta-feira, setembro 19, 2018 - 19:13

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