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O desafinador de criações
O desafinador de criações
No tempo do antes, ainda muito antes do nascer do mundo e do existir do homem parece que a única coisa com vida era um piano de cauda. O Deus parece ter-se inspirado para a sua vontade de criação, soprando nas sete notas, criando esse poder de fazer e soprar as águas; viu ele que havia melodia e com o ritmo encheu os lagos, os rios e os mares de peixes e outros aparentados, depois tocou o ré e o dó, assim sucessivamente como criança saltando de pedra em pedra; fez macho e fêmea sensuais e elegantes como uma clave de sol, depois pediu que as suas criaturas fechassem os olhos, assim ficou de noite, uma noite tão íntima de tão escura. O Deus imaginou que o mi era erva a crescer e o sol uma árvore a pingar de frutos. Nesse tempo, no tempo do antes pensou ele em compor uma canção e do verbo fez um anjo, um anjo que dançava e que com as suas asas sacudiu uma pequena nuvem que por ser frágil sentiu uma dor de ficar chuva, assim se pode explicar o sofrimento do mundo.
Adão e Eva os habitantes daquele jardim correram para se abrigarem na densa folhagem da árvore da sabedoria. Rastejando pelos costados de seu tronco ia a serpente considerada o desafinador de criações. Por causa daquela chuva torrencial o piano de cauda tinha apodrecido e eles tinham que sair, ir serrar madeira para construírem de novo um grande piano de cauda e encontrarem ao mesmo tempo alguém que caminhando nas suas teclas juntasse de novo o primeiro som e a primeira origem da água ser água e o fogo ser fogo e o amor andar a fermentar poesias e satisfações. Passaram já muitos milhares, milhões de anos, homem e mulher trabalharam o ferro, fizeram tanques de guerra, coroas para coroar reis, espadas para decepar suas raízes de irmandade. Deus continua á espera de um piano de cauda e o mundo é ainda uma serpente e um desafinador de criações.
de Lobo
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