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O fantasma da velha escola - 14
-Marcão, será que ela...
-Vamos ver!Marcão se aproximou dela.
-Meu Deus, todas as janelas quebraram! O que faremos?
Marcão viu que Lilith respirava e tinha pulso.
-Ela está viva! Lilith, Lilith!
Sacudiram-na e ela abriu os olhos, confusa. Sua palidez era assustadora e lágrimas escorriam das laterais dos seus olhos.
-Lilith, você está bem?indagou Marcão.
Lilith olhou para os dois, atordoada e, repentinamente, começou a chorar desesperadamente.
-Calma, Lilith. pediu Alfredinho.
Os dois, debruçados sobre Lilith, não ouviram o pai dela chegar e abrir a porta, deparando-se com um horrível espetáculo: a filha estendida no chão, dois desconhecidos e todas as janelas quebradas.
-Seus desgraçados! Que estão fazendo com minha filha?
Assustados, Marcão e Alfredinho saíram de perto dela. O pai se aproximou, preocupadíssimo.
-Lilith, querida! Que aconteceu? O que fizeram a você?
Um pouco mais calma, Lilith respondeu:
-N-não foram eles...
Com ar severo, o pai de Lilith olhou para os rapazes e perguntou:
-O que aconteceu aqui? Por que as janelas da minha casa estão quebradas e minha filha está assim?
-P-pai, e-eu p-posso ex-explicar...
-Calma, vamos para o quarto. Vocês dois esperem aqui, porque vou querer uma explicação!
Com muita delicadeza, o pai pegou a filha nos braços, carregando-a até o quarto. Ficaram conversando por um longo tempo e, durante esse tempo, Marcão e Alfredinho esperaram sentados no sofá, sem ousar dizer nada. Escutaram o pai abrir a porta e falar:
-Está tudo bem, querida. Vou ligar para sua mãe e chamá-la.
-Pai, está zangado?
-Não, eu entendo. Fique deitada. Está tudo bem.
-E os rapazes?
-Vou conversar com eles.Descanse, certo?
Viram o pai sair e fechar a porta do quarto, indo até onde eles estavam. Encolheram-se. Ele era um homem muito alto, de cabelos grisalhos e barba bem-aparada.
-Co-mo ela está?atreveu-se Marcão.
O rosto do homem era uma esfinge.
-A Lilith vai ficar bem?perguntou Alfredinho.
-Quem de vocês é o Alfredinho?
-Eu.respondeu Alfredinho.
-Então, você é o Marcão. o homem voltou-se para Marcão.
-Sim, sou eu.
-O que a Lilith contou é difícil demais de digerir.
-O-o que ela contou ao senhor?Marcão não ousava olhá-lo nos olhos.
-Ela me contou sobre o... que ela tem visto desde os quatro anos e me falou sobre o fantasma da menina que assombra aquela escola que fecharam e o que aconteceu com o José Afonso. Então, você e o José Afonso queriam pregar uma peça no Alfredinho, não é? a voz engrossou.
Marcão baixou a cabeça e o homem insistiu:
-Responda, rapaz!
-Sim, a gente queria pregar uma peça no Alfredinho.
-Agora você, Alfredinho. A Lilith avisou para você não ir à escola, não foi?
-Foi, senhor.
-Fale-me sobre o que ela disse e o que ocorreu na velha escola. Aliás, quero que me contem tudo.
Alfredinho contou sobre o aviso de Lilith para que ele não fosse à velha escola, a morte de José Afonso e a visita que Lilith fizera à sua casa.
O pai de Lilith escutou com o rosto inexpressivo. Depois, perguntou:
-A Lilith disse a vocês que o José Afonso queria ser enterrado, não é?
-Sim, senhor.responderam os rapazes.
-Mas pelo visto vocês não iam fazer nada e o corpo do José Afonso iria apodrecer lá se ela não tivesse ligado anonimamente para a polícia, eu suponho.
-Senhor, queremos que entenda que...
-Quero que continuem contando a história!
Vendo o olhar fixo do pai de Lilith sobre ele, Alfredinho contou que Lilith o procurara no velório de José Afonso para avisar que o morto não queria Marcão e ele no funeral.
-A Lilith me contou que o morto falou com ela no velório. Sabe, a mãe dela e eu a ouvimos falando com alguém e não entendemos. Ela não quis dizer o que era no dia, mas disse hoje que ele estava dizendo que assombraria vocês até o fim de suas vidas.
-Ele estava fazendo isso, senhor.adiantou-se Marcão.
-Como?
Marcão e Alfredinho foram contando sobre os pesadelos. Nesse tempo, a mãe de Lilith chegou e, ao ver os vidros quebrados, assustou-se.
-Jônatas, que é isso? O que houve com a Lilith?
Ele foi até a mulher e pediu:
-Querida, sei que é tudo muito estranho, mas prometo que vou explicar. Agora, vá ficar com a Lilith.
-Ela...?
-Ela está bem.
A mulher foi ao quarto de Lilith e o homem, olhando os vidros quebrados, falou:
-Agora, expliquem o que foi isso que aconteceu na minha casa!
-Bem, senhor...
-Falem, eu estou esperando! Não escondam nada, entenderam? Quero a verdade! Não tentem mentir!
-Nós resolvemos fazer um ritual para afastar o espírito do José Afonso.esclareceu Marcão.
-E o que vocês são para fazer isso? Padres, exorcistas? Têm ideia do que fizeram? Mas como a Lilith se envolveu nisso?
-O ritual precisa de um médium, senhor.disse Alfredinho.
-E minha filha entrou nisso por vontade dela?
Os dois se entreolharam e o homem os pressionou:
-Ela quis participar disso?
-Hum...os dois não ousavam responder.
-Ou vocês fizeram chantagem para convencê-la, dizendo que, se ela não concordasse, espalhariam o segredo dela, não? Não precisam se preocupar, ela falou que até disse a você, Marcão, que você não poderia provar, mas você disse que todos adorariam ter mais uma razão para chamá-la de esquisita! Você disse isso?
-Senhor, eu não pretendia fazer isso, juro. A gente estava desesperado para se livrar do problema. Não temos nada contra a Lilith.jurou Marcão.
-Certo, vocês não têm nada contra ela, o que não os impediu de usar o ponto fraco dela para envolvê-la nessa burrada! Aliás, essa história começou com uma burrada sem tamanho! Como vocês saem à noite, escondidos de suas famílias, para ir a um lugar abandonado? Vejam o que houve! O rapaz está morto! Morto numa idade em que tinha toda a vida pela frente! Meu Deus, vocês não são criancinhas! Como podem fazer uma idiotice dessas? E depois tentam resolver com outra burrada, envolvendo minha filha? Ela não tem nada a ver com o grave erro que o rapaz morto e vocês cometeram! E de onde pegaram esse ritual?
-Da Internet.confessou Marcão.
-Da Internet? Vocês pegam um ritual da Internet como quem pega uma receita de bolo, sem saber o perigo?
-Tomamos as precauções necessárias para nos protegermos.protestou Alfredinho.
-É - o homem olhou ao redor - vejo que tomaram! Olhem a minha casa! Vejam como a Lilith está!
-O-o que o senhor vai fazer?
-Vou chamar os pais de vocês e eles vão saber a verdade!
-Não, por favor.imploraram os rapazes.
-Vejam o que quase fizeram com minha filha! Tudo porque foram burros de ir a uma escola fechada à noite e depois, covardes para enfrentar as consequências dos seus atos!
Marcão estava quase chorando ao dizer:
-Senhor, todos os dias, eu sinto culpa por ter deixado o meu amigo.
O pai de Lilith não se comoveu.
-Sua culpa não o impediu de silenciar sobre o qeu houve com seu amigo e de fazer o que fez com a minha filha!
-Mas senhor, isso causará muito sofrimento a nossos pais!Alfredinho tentou argumentar.
Irredutível, o pai de Lilith mandou que os jovens fizessem os telefonemas e, pouco tempo depois, a mãe de Lilith desceu, o olhar de quem exigia explicações.
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