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O fantasma da velha escola - 1
Fazia já algum tempo que aquela escola fora fechada e se dizia que a razão se devia ao fato de que, nos últimos tempos, os pais dos alunos estavam retirando seus filhos, o que dera motivos para boatos de todos os tipos. Muitas pessoas não entendiam por que os pais estavam tirando os filhos de uma escola conhecida pela alta qualidade do ensino e os interrogavam,mas recebiam apenas respostas vagas. Apenas a mãe de uma aluna falou:
-Minha filha está com medo e não dorme mais à noite.
Ao lhe perguntarem do que a menina teria medo, ela se negou a dar mais detalhes. Devido à grande saída de estudantes, o dono da escola resolveu fechá-la.
Na época em que os alunos estavam saindo, o porteiro comentou com amigos num bar:
-Isso tem a ver com aquela tragédia.
-Que tragédia?perguntaram-no.
-A menina que caiu da escada.
-Ah - lembraram - a aluna que morreu.
-Mas o que você está dizendo? Que o fantasma da menina anda por lá assombrando o povo?
-Eu nunca vi nada, mas alguns alunos falam que a veem e o vigia noturno disse que escutou choro de criança.
Pouco antes dos alunos começarem a sair em massa, uma aluna fora encontrada morta e todas as investigações levaram a concluir que ela caíra da escada, quebrando o pescoço. Muitos pais começaram a dizer que a escola não dava segurança aos estudantes e os pais da menina resolveram processar o colégio.
Não demorou a circular o boato de que a antiga escola era assombrada por um fantasma e pessoas que passavam perto do prédioo alegavam ver a menina.
-Ela tem o olhar vazio, a cabeça pendendo e ri de um jeito perverso.
Logo, a história do fantasma da velha escola se tornou uma lenda e muitos tinham medo de passar perto. Entretanto, não faltava quem tivesse a curiosidade atiçada e, naquele momento, dois adolescentes passavam em frente ao prédio, falando:
-Você acredita mesmo que há um fantasma aqui, José Afonso?
-Sei lá, Marcão. Por que um fantasma ficaria num mesmo lugar? Que coisa sem graça!
-Você teria medo de entrar aí à noite para investigar se há um fantasma nesta escola?
-Eu não, Marcão, mas sei quem teria.
-O Alfredinho, não é?
-Ele é o cara mais frouxo do mundo. Iria se borrar de medo.
-Vamos à escola ou nos atrasaremos para a nossa aula.
Correram até à escola onde estudavam, entrando às pressas na sala de aula. Alfredinho estava sentado logo na primeira carteira e José Afonso e Marcão o provocaram:
-Bom dia, nerd. Como sempre, sentado na frente, não?
-Não encham, seus dois burros!
-Com licença, quero passar. disse uma voz atrás de José Afonso e Marcão.
Era Lilith, a gótica da sala. De cabelos escuros até a cintura e pele muito pálida, Lilith usava também delineador, sombra escura nos olhos, batom muito vermelho e jaqueta escura sobre a farda,além de coturnos e acessórios extravagantes.
-Oi, fantasma.
Litlith os olhou com indiferença e foi sentar no seu lugar. Muitos falavam coisas sobre ela, que era filha adotiva de um casal sem filhos.
-A fantasma caprichou hoje. Vai assombrar quem?riu Marcão.
-Tome cuidado, Marcão. Você não deve brincar com os mortos.respondeu Lilith.
-Ué, olha só quem fala. A gente gostaria de saber o que você disse no enterro da dona Teresinha. Até hoje, o filho dela está assombrado.
Dona Teresinha era a mãe do dono da padaria próxima à escola. Morrera em consequência de um enfarte e, durante o velório, Lilith se aproximou dele, que chorava muito.Com muita tranquilidade, a garota lhe disse algo que os demais presentes no velório não ouviram, mas que encheu o homem de horror. Instantaneamente, ele gritou:
-Fora, fora daqui, sua apaniguada do diabo!
Ninguém entendeu e Lilith, sem se perturbar, retrucou:
-Nada pode mudar a verdade.
O dono da padaria jamais revelou o que a menina dissera e, aos que perguntavam o que o perturbara tanto, ele apenas respondia:
-Fiquem longe dessa menina! Ela é uma apaniguada do diabo!
Lilith nunca disse nada sobre o estranho episódio nem mesmo aos pais adotivos e isso apenas reforçou a fama de estranha que já possuía.
-Melhor se afastar dela! Com esse nome e se vestindo desse jeito...era o que dizia o dono da padaria.
Marcão e José Afonso adorariam descobrir o que ela dissera. Perguntaram:
-Lilith, o que você disse a ele? Que a mãe dele está no inferno? Já que você é uma apaniguada do diabo, deve saber, não é?
Houve um momento em que Lilith pareceu realmente se zangar e, olhando Marcão e José Afonso bem nos olhos, disse:
-Vocês gostariam de ouvir as palavras de alguém que esteve no inferno? De saber como seria sentir uma angústia além de todo consolo, uma solidão infinita, mãos de ferro arrancando suas tripas, garras dilacerando suas carnes e fogo alcançando seus ossos? É uma dor tão grande que você deseja morrer, mas você não terá o alívio da morte!
Os olhos de Lilith, já muito escuros, tornavam-se quase negros quando ela se enraivecia, lembrando dois poços profundos. Eram olhos estranhos e impenetráveis e Marcão e José Afonso, ao lembrar do que ela dissera, admitiam em silêncio que tinham um certo medo dela.
O professor entrou, obrigando os alunos a deixar de lado suas conversas e os celulares para prestar atenção. Alfredinho, como sempre, era o mais participativo, ao passo que Marcão e José Afonso conversavam o tempo todo. Lilith permanecia quieta.
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