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O LOBISOMEM

O LOBISOMEM

Interior e cidade pequena sempre existem as superstições, os casos estranhos que o povo conta. São estórias as mais engenhosas possíveis sobre aparições, animais peludos que cruzam as ruas com gritos estarrecedores e coisas do outro mundo. Aprendi muitos destes assuntos ouvindo a conversa dos outros. Sempre fui muito curioso, bastava alguém começar a contar alguma estória para eu estar ali de prontidão para ouvi-la. Acumulei assim muitos fatos misteriosos, assombrosos e até engraçados. Um deles me foi contado um certo dia quando eu passava a semana santa num interiorzinho do Maranhão, perto de onde eu nasci.
O dono da casa, seu Tunico, gostava muito de contar estórias. Acendia-se uma fogueira no terreiro da casa e todos ficavam ao redor, ouvindo suas narrações. Dizia ele que quando menino fora mandado pelo pai para vigiar uma velha casa onde estava estocada a safra do ano: arroz, feijão, milho, sacas e mais sacas. Não podiam ficar sozinhas sem alguém para vigiá-las, mesmo porque a casa ficava a alguns quilômetros, três ou quatro, da pequena cidade onde moravam.
Tunico convidou um colega para fazer-lhe companhia e ajudá-lo na tarefa. Quando foram para a casa já era noite e no caminho, iluminado pela luz das lanternas, contavam “causos” mal-assombrados sobre aparições que aconteciam no lugar que servia de depósito. Contavam os fuxicos que vez ou outra aparecia por lá um lobisomem grande e peludo, orelhas pontudas, afiadas presas e enormes olhos vermelhos como brasas.
Ao chegarem a casa, um jumento estava na frente da porta, roçando-se à parede e impedindo-lhes a passagem. Eles, muito levados que eram, quiseram divertir-se à custa do animal. Chegaram-se de mansinho e espantaram o jegue que saiu assustado para longe. Riram-se a valer do pobre jumento que cada vez corria mais e mais com medo deles. Depois de entrarem, acenderam algumas lamparinas, encostaram uma tábua na porta para fechá-la, pois estava com a fechadura desmantelada, armaram suas redes no único quarto da casa e ficaram conversando até tarde da noite antes de dormirem.
Perto da meia-noite ouviu-se um barulho na porta como se estivessem tentando abri-la pelo lado de fora. Tunico acordou e sacudiu a rede do amigo para acordá-lo:
– Dário, você ouviu esse barulho?
– Não, Tunico, você deve estar muito impressionado, vá dormir.
Os dois se calam e Tunico senta-se na rede e fica em silêncio para ver se ouve alguma coisa.
Novamente ouve-se o barulho na porta e Dário levanta-se com medo e pergunta:
– Você ouviu?
Tunico não diz nada, apenas balança a cabeça assustado, os olhos arregalados de medo.
Houve silêncio por alguns instantes e pela terceira vez escutou-se o barulho na porta. Parecia que alguém ou alguma coisa estava decidido a entrar, o barulho era cada vez mais alto e as pancadas cada vez mais fortes. Um estranho som era ouvido como se fosse um rosnado rouco.
– Tunico, deve ser o lobisomem, disse Dário com medo.
O amigo nada soube responder, apenas ficou calado ouvindo o barulho na porta. Ouviu-se um baque seco no chão, era a tábua que fora usada para fechar a porta. Um rangido de dobradiças velhas ecoou pela casa revelando a presença de alguém adentrando no local. Com a abertura da porta um forte vento penetrou no recinto apagando as lamparinas e deixando tudo no mais completo escuro. Aquela noite fatídica, Tunico jamais esqueceria. Uma chuva fina começava a molhar o telhado como se os céus já soubessem que deveriam lavar o sangue que seria derramado no chão dali a alguns minutos.
Os dois garotos começaram a ficar apavorados e olharam apreensivos para a entrada do quarto que sem porta os deixava sem proteção. Alguma coisa vinha caminhando ao lado do quarto na direção deles e uma sombra aos poucos começou a se projetar. Eram duas grandes e pontudas orelhas, Dário ao ver aquilo começou a chorar e abraçou-se ao amigo:
– É o lobisomem, Tunico, vai nos matar.
Tunico também não se conteve e começou a chorar:
¬¬ Meu Deus, me Deus, eu não quero morrer.

Os gritos podiam ser ouvidos a uma grande distância, mas ninguém estava por perto para ajuda-los. Eles já imaginavam a fera penetrando no quarto e saltando sobre os dois com as enormes presas e garras prontas para despedaçá-los e ficavam cada vez mais apavorados. Aqueles pequenos instantes pareciam uma eternidade, seriam talvez os últimos momentos de suas vidas, pois a fera estava cada vez mais próxima. Ouviam-se os pesados passos do bicho ao lado do quarto avançando mais e mais. Um relâmpago iluminou a casa como se a natureza quisesse saber o que se passava ali, mas parecia que nem os céus nem a natureza iriam impedir aquele ato tão sangrento.
Os meninos estavam os dois abraçados, chorando, apenas esperando a hora da morte. As calças molhadas de xixi de tanto pavor e os passos se tornando cada vez mais próximos. Uma cabeça enorme foi aparecendo ao lado da porta e surgiu ali na frente deles a temível fera:
Era o jumento que com fome empurrara a porta para comer um resto de milho jogado num canto.
Após saciar a fome o jumento sai correndo mundo afora, zurrando: rooon ííííroon ííííroon rooon rooon. Parecia que estava sorrindo do susto dos dois, ainda surpresos.

Wallery Giscar Desten A. da C. Raposo.

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terça-feira, março 23, 2010 - 14:50

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