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O TOQUE
Giovana estava casada há pouco tempo. Nunca havia saído de casa, a não ser agora, para morar no apartamento do marido,em uma cidade próxima da capital. Tinha o seu trabalho, que lhe tomava o tempo todo. Lecionava em uma grande escola de nível médio e apesar do pouco tempo na escola, já fizera algumas amizades. Mas em casa, ficava sempre sozinha...ou quase. Uma noite,enquanto lavava a louça na cozinha,seu pensamento a conduzia para muito distante dali. Perdia-se em pensamentos, como sempre fazia. Não conseguia se concentrar numa coisa só. Sempre fora assim. Estava num lugar, mas sempre imaginando estar em outro. Nessa noite, estava tão distraída que chegou a se assustar,quando sentiu um leve toque em seu ombro. Virou-se rapidamente, imaginando que fosse Carlos, o seu marido, querendo lhe fazer uma surpresa. Surpreendeu-se, quando não viu ninguém. Olhou novamente ao redor, mas não avistou ninguém. Mas aquela estranha sensação continuava a lhe impressionar. Sentira nitidamente aquela mão tocando o seu ombro, como se quisesse lhe chamar a atenção ou lhe falar alguma coisa. Outra vez, teve essa mesma sensação. Essas coisas aconteciam sempre que se encontrava sozinha, em silêncio e duas vezes ela estava na cozinha, de costas para a porta. Algumas vezes, sentia a presença de alguém ao seu lado. Virava-se rapidamente, e só via um vulto passando rápido,para lugar nenhum. Essas estranhas sensações vinham acontecendo já há vários anos. Quando ainda era adolescente, perdera o irmão mais velho, de maneira que muita dor lhe causara. E a dor não era fictícia, era real, mesmo. Lembrava-se nitidamente desse dia. Estava na varanda da casa, conversando com o irmão, quando ele sofreu o primeiro infarto. Tinha só dezoito anos, mas sofria de uma doença cardíaca desde que nascera. Seus pais e irmãos sabiam, alertados pelo médico, de que ele não viveria muito tempo. E assim aconteceu. Giovana ficou impressionada e sem saber o que fazer, gritou para a mãe e correram atrás de socorro e o conduziram ao hospital. No outro dia, pela manhã, Giovana estava em frente ao espelho, no quarto da mãe, reunindo algumas coisas para enviar para o hospital, quando sentiu um frio que lhe penetrou até os ossos. Olhou o relógio do irmão e percebeu que ele estava marcando onze horas. Poucos minutos depois, tocaram a campainha e a notícia de que o irmão havia falecido a deixou sem saber o que pensar. Nunca havia perdido ninguém e não sabia definir aquela sensação que estava sentindo. Era muito apegada ao irmão e isso a impressionou muito. Pouco tempo depois desse dia, Giovana começou a sentir um estranho aperto no peito, igual aquela dor que o irmão sentira, quando teve o ataque cardíaco. Já não sabendo mais o que fazer, um dia não suportou mais a dor e desmaiou da mesma forma como havia acontecido com o irmão. Ficou mais impressionada ainda, pois nunca havia desmaiado. Só voltou a si, quando a mãe a puxara pelos braços e o seu tornozelo se ferira ao ser arrastada até a cama. A mãe a levara ao médico e ficou constatado que tudo era psicológico. Com o tempo, ela esqueceria e tudo voltaria à sua rotina habitual. Só que os anos se passaram e aquela estranha sensação que oprimia o seu peito acontecia novamente, sempre no mês de abril, mês em que o irmão havia falecido. Lembrava-se disso agora, ali,naquele momento. Procurou pela irmã, que já tinha conhecimento dessas estranhas sensações de Giovana e ela a convidou a ir até a sua cidade, onde procuraram por uma pessoa que conseguia psicografar mensagens espirituais. Na carta que Giovana recebeu do irmão,datada daquele mesmo dia em que ele partira,estava a sua mensagem de adeus. Uma mensagem linda, em que o irmão dizia a ela que a amava e desejava que ela fosse muito feliz. Dizia ainda, que seria o seu anjo amigo. Quando quisesse falar com ele, não o procurasse na terra, porque na terra ela só encontraria os vestígios de que um dia ele estivera ali. Mas que mantivesse a calma e procurasse ouvir o silêncio, que ele lá estaria a lhe escutar. E assim aconteceu. A dor que Giovana sentia, nunca mais a incomodou. E quando ouvia o silêncio, podia perceber que não estava sozinha.
Débora Benvenuti
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sexta-feira, junho 4, 2010 - 18:15
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