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OS GÉMEOS - 22

.

 

(continuação)

 


Quis ver o Baubau. Zirá tinha-o escondido no jipe. O cão não tinha ferimentos, mas tinha o corpo retesado e os olhos vítreos e esbugalhados, como se tivesse visto um fantasma e perecido de horrendo susto.

— Envenenado! — concluiu Louise. — Vamos deitá-lo ao rio. Por enquanto o seu marido não precisa de saber. Por mim não saberá mesmo, e por si...

— Cruzes! — assentiu Zirá, recompondo-se da sua atrapalhação. — Como é que pode ter acontecido? O Dr. William não disse nada. Também, mal conversei com ele...

— Vocês... En... Eu depois hei-de descobrir acerca do cachorro. Tenho estado ocupada demais e era necessário ir pelo menos uma vez por semana ver se o Dr. William precisa de alguma coisa... Zirá, você pode passar a ir lá? — sorriu-se descarada e depois como não contava que Zirá ficasse corada teve de fazer de conta que nada vira, mas ficou sem saber se tinha sido a decência ou o prazer, o que a enrubescera  — Mande-me cá o Zeca para eu combinar uns trabalhos com ele...

Preferia assim. Seria mais fácil estar sossegada, por William. Enquanto não estivesse certa do que acontecera de facto, era bem melhor que ele não aparecesse em Lameira Grande. Se ele a quisesse, iria ela cuidar-lhe da sexualidade, mas William sobre isso já dissera tudo. Sendo assim, e uma vez que admitia que Hana não fosse mulher para dar a William mais do que apoio cerebral, e isso fazia-o bem, Zirá era a melhor solução... Era bem proporcionada em atributos femininos, atraente, discreta por força da sua infidelidade conjugal, e havia a vantagem de William gostar de a possuir. Decerto que pouco saberia da arte de fazer amor, mas ele também não deveria ser muito experiente nisso. Além de tudo, a constância de Zirá a aprazer William não passaria despercebida de Hana e contribuiria para sofrear qualquer tolice que a esta pudesse acometer. Nunca se sabia...

Negociou com Zeca o trabalho de superintender na prevista construção de mais uma nave para ampliação dos armazéns da ECLG, encarregando-o de ir a Lisboa escolher e encomendar os materiais e acabamentos que melhor qualidade garantissem. — De passagem, sugiro-lhe que trate de obter uma cópia da certidão da venda das terras que foram de seu pai... com vista a um futuro, que nunca se sabe quando poderá acontecer... Compreende? — incitou-o ela, ciente de que entre a viagem, a burocracia e a tarefa Zeca ocuparia tempo bastante para amainar a sua crescente irrascibilidade.

A quietude regressou às madrugadas no complexo laboratorial de William. O cachorro que ladrava a horas despropositadas era de facto o Baubau.

Quando, decorridos alguns dias, se encontrou de posse de informações que lhe permitiram fazer um raciocínio circunstanciado acerca da extemporânea morte do Baubau, censurou-se por se ter precipitado a providenciar as idas de Zirá até à cama de William.

A vida sem amorosidade, para ela, seria uma frustração contínua e, por mais aliciantes e absorventes que fossem as suas actividades em qualquer momento, nunca abdicaria dos seus ocasionais recreios de lençol, consoladores da sua carne e da sua alma, mesmo engrandecedores da sua generosidade. Com o crescer de Lameira Grande e muito menos companhia de William, as suas noites de fim-de-semana nas cidades dos arredores tinham esmorecido. Mas bastantes forasteiros por ali iam em negócio com as suas empresas e os que lhe agradavam ela cumulava de amizade. Fizera repor a verdade, de que nunca fora casada com William, e usava sempre de bastante cuidado para não atrair maledicência, ainda que isso por vezes implicasse alguma peripécia, e a sua influência e astúcia para se subtrair à curiosidade pública, e do seu lado estava sempre sô Jão, desvelado caseiro, seguro amigo e fidedigno zelador da sua idoneidade.

Na intimidade de uma noite com o seu preferido viajante de alfaias agrícolas, soube que Zeca voltara para a terra porque andava a desconfiar de Zirá — alguém dera com a língua nos dentes... — e, por sô Jão, confirmou que ele já afirmara que quando descobrisse com quem ela o enganava mataria os dois a tiro de caçadeira. Era ciumento e burro que chegasse para isso, pensou Louise. E fora logo ela agora colocar William debaixo de mira!

E pior! Descobrira que Hana, não gostando de ver o seu sono interrompido três dias consecutivos, e até julgando tratar-se de animal malvado, não estivera com contemplações, envenenara comida e espalhara-a estrategicamente e mais tarde Baubau tivera um fim rápido.

Para Louise era evidente que Zeca não se teria limitado a fazer passar Baubau para dentro da cerca para que o bicho fosse gozar umas noitadas a farejar no complexo. Zeca também teria lá andado a cheirar e com intenções malevolentes. Se a morte do animal pudesse ter servido de exemplo de como a ele também poderia acontecer algum acidente nefasto por se introduzir em propriedade privada...

Guardou a conclusão para si, sem a comentar com William e após um breve e misterioso telefonema que logo efectuou, e do qual nunca alguém mais teve conhecimento, pôs uma pedra sobre o assunto.

A voz popular de Lameira Grande justificou o novo e apressado salto de Zeca ao Luxemburgo com a necessidade de ir tratar dos papéis da segurança social, e depois, afinal, o seu não regresso, por ter apanhado doze anos de cadeia, envolvido que andara, em facadas homicidas, numa briga violenta em terras do Alzette. Zirá chorou publicamente algumas lágrimas de crocodilo, e passou também a andar sempre vestida de escuro, como se de fato tivesse enviuvado, mas isso ainda lhe trouxe um aspecto mais insinuante. Aliás, Louise encarregou-se de a compensar de qualquer eventual desgosto, assim como à cunhada, a Amélia, tomando ao seu cuidado a sofisticação do porte delas, promovendo-lhes os seus apetitosos dotes naturais, partilhando com elas, com mútuo contentamento, a avançada liberalidade com que encarava o prazer de viver.

Nunca engraçara com Zeca, antes pelo contrário. O homem era rude de mais, e parecia-lhe que toda a ambição dele por recuperar um nico de terra provinha apenas de um sentimento odiento de inveja. Tinha um palpite de que o recente azar de Zeca não teria sido mera obra do acaso ajudado pelo feitio briguento dele, mas não era algo por que ela se devesse interessar. O importante era que Zeca estaria longe dali por bastante tempo. Tomar à sua conta a mulher dele e a irmã era de certa forma uma irónica obrigação, e isso Louise fazia-o com gosto, por feminina cumplicidade e, antes de mais, por mor de William e do seu trabalho.
 


 
(continua)

Escrito de acordo com a Antiga Ortografia

 

.
 

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segunda-feira, maio 6, 2013 - 15:23

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