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OS GÉMEOS - 35

Com desprazer e as minhas melhores desculpas aos Leitores pela imprópria paginação que o Editor de Texto está a usar desde há dois dias. Agradeço-lhes a paciência. Nuno Lago.            (continuação)
  

  
Quando voltava para dentro de casa, já tarde, viu luz na janela do seu quarto e julgou que a empregada andava lá, a fechar as portadas e a abrir-lhe a cama. Por essa razão surpreendeu-se de afinal a encontrar a aguardá-lo na sala para lhe servir o jantar.
— Cláudia, por distracção devo ter deixado a luz acesa no meu quarto. — disse ele, tendo quase a certeza de que tal não acontecera, e apenas como sugestão para ela ir desligar o candeeiro.
— É a senhora que anda lá. Diz que como não a deixo ocupar com mais nada, pelo menos pode providenciar para que o senhor tenha no mini-bar as suas bebidas preferidas. É uma tolice, que eu consinto por amizade, pois eu também já conheço os seus gostos, Dr. William.
De súbito apercebeu-se que estava a olhar para ela com uma concupiscência imprópria e que Cláudia estava a notar isso. Contudo, não se retraiu e ela também não mostrou tenção de se furtar ao abuso. Bem pelo contrário. Como se entendesse estar a esconder de mais o seu viço, debruçou-se à sua frente a estender-lhe a travessa com salada e a deixar o decote esbambear e os peitos amorentos a avivarem o desejo dele, e não contente com isso fez um guardanapo cair ao chão e ao acocorar-se para o apanhar, com lentidão, como para certificar-se de que era capaz de fazer os olhos dele obedecerem-lhe, escarranchou-se num desequilíbrio graciosamente controlado, a saia a entreabrir-se com generosidade e por deliciosos instantes as coxas de luxúria morena desbaratando toda a pressuposta serenidade dele.
Lamentando-se consigo próprio, porque desejo com a intensidade que ela lhe despertara raro lhe vinha assim espontâneo, e desta vez não se atreveria a satisfazê-lo, ajudou-a a levantar-se e pensou que não deveria castigá-la por tentar excitá-lo. Teria uns vinte e tal anos, era recém-casada e italiana, dissera Madeleine na apresentação, e pelos vistos muito latina!
— Se eu não tivesse feito voto de castidade estaria agora a pensar em seduzi-la... É claro que uma mulher não tem culpa de ser muito atraente, mas se eu perdesse a cabeça e fosse ao ponto de violá-la, quem é que deveria ser responsabilizado por isso?... — pronunciou ele, evitando encarar Cláudia, consciente de que estava a acicatá-la e de que se não tivesse tento ainda acabaria com ela na cama, desrespeitando o acolhimento de Madeleine.
— Oh!... Mas porque razão? — retrucou Cláudia, a fazer-se ainda mais engraçada, perfil todo acentuado de curvas sensuais, a levar ao sítio o vestido na cintura e a aprumar-se como se aquele momento de desalinho tivesse sido uma tontura involuntária.
— Por que razão fiz voto de castidade? Ou por que razão você é atraente?... Ou por que razão alguém deveria ser responsabilizado? Qual das razões é que a Cláudia quer conhecer?
— Um homem só é aquilo que quer... Viemos ao mundo livres para escolhermos o mal ou o bem, mas na certeza de que seremos todos avaliados pelos nossos actos no Dia do Juízo Final. Se procedemos mal... — replicou-lhe ela, enfrentando-o com um sorriso santimonial.
— O caso é que somos nós quem ao longo do tempo tem definido o que é mal e o que é bem... Você acha que o sexo é uma coisa má? — revidou William, interessado no rumo que a conversa estava a tomar.
— Eu não!... Após a Criação, o Senhor até disse “Crescei e multiplicai-vos”. Mas a sua Lei de hoje também diz que o sexo só deve ser praticado no matrimónio.
— Insisto, Cláudia: durante toda a vida, o homem é que tem feito a lei conforme as conveniências da ocasião. Ao tempo da Criação praticou-se o incesto, e não era pecado, viveu-se em poligamia, e não era pecado!
— Mas passou a sê-lo. À medida que a humanidade vai mudando Ele também vai adaptando a sua Lei. Não estamos aqui abandonados... Ele vai-nos dando a conhecer os seus desígnios.
Ora toma! Estavas a divertir-te e deste de caras com uma pregadora! — reflectiu William, admirado com a fluência dela. Era melhor desistir de a incitar. E tudo ocasionado por Madeleine, que decidira deixá-lo a jantar sozinho...
— Eu sou um céptico, Cláudia. Obrigado... por hoje não vou precisar de mais nada. Um dia havemos de conversar mais sobre as nossas convicções acerca do bem e do mal. — asseverou-lhe, expressão de seriedade no rosto, para cortar a palestra.
— Quando quiser, doutor William. Tenho um livro, que é a verdadeira interpretação das Escrituras, um livro de estudo, que o senhor havia de gostar de ler...

A cena incutiu-lhe sinuosa perplexidade no espírito. A rapariga respirava sensualidade por todos os poros, assumia atitudes ousadas, para não dizer descaradas, o objecto das quais era ele, sem dúvida. E no entanto, de modo contraditório com os seus actos, pronunciava-se como se longe dela estivessem quaisquer propósitos menos inocentes, antes de tudo implicada numa missão catequista. Suborno moral por recurso ao desejo que os seus cobiçáveis dotes físicos naturalmente despertavam, ou esforçado Auto exorcismo da tentação instintiva, química pura, que lhe revolvia os centros nervosos? Teria ele sido bem sucedido em conseguir levá-la para a cama servindo-se das vulgares cortesias de enamoramento, ou daria ela preferência a que ele agisse com impulsividade, que utilizaria como desculpa para não se negar, talvez mesmo como sacrificante oferta no altar da sua dogmática religiosidade? E seria que ela, durante o sexo, em ato de contrição, o abençoaria com algum sermão? Teria ele capacidade para lhe desatinar a líbido, desmobilizando-lhe a fé, com gestos de prazer insano?
Zirá e Amélia não carregavam consigo nada destes matizes romanescos, e estava a sentir-lhes a falta. Não havia dúvida de que Cláudia fizera vibrar, com não oportuna melodia, as cordas demasiado tensas da sua sensibilidade de solteirão!
Entre sair de casa à procura de satisfazer os seus lúbricos apetites com alguma companhia da noite, ou pôr de lado todos os escrúpulos avançando com frontalidade, desse no que desse, à conquista do corpo de Cláudia, escolheu ir dormir, adiando a questão. Com paciência, agarrou-se à leitura de um livro policial e, enquanto a trama da história não o entusiasmou, teve de ser perseverante a acalmar a insaciedade que insistia em desviá-lo das páginas do livro sempre que inventava algum ruído junto da porta do seu quarto, na esperança narcísica de que Cláudia entrasse por ali dentro em transparente camisa de noite, ou sem ela, oferecendo-se-lhe com langor e indeclinável voluntariedade.
Adormeceu tarde, a meio do livro, e com a desolação vencida em amigável acareação com a ideia de que Cláudia sofria de uma doutrinação tão fundamentalista que só com muita dificuldade resistiria à atracção do abismo que ele era e, por conseguinte, mais noite menos noite, mais prudência menos prudência, ou escândalo, se imolaria sob dissoluta depravação, para caridosamente o converter.
  
  
                                                                                                                                                                                   (continua)                                                                                                                                          Escrito de acordo com a Antiga Ortografia  
    (continuação)

Quando voltava para dentro de casa, já tarde, viu luz na janela do seu quarto e julgou que a empregada andava lá, a fechar as portadas e a abrir-lhe a cama. Por essa razão surpreendeu-se de afinal a encontrar a aguardá-lo na sala para lhe servir o jantar.
— Cláudia, por distracção devo ter deixado a luz acesa no meu quarto. — disse ele, tendo quase a certeza de que tal não acontecera, e apenas como sugestão para ela ir desligar o candeeiro.
— É a senhora que anda lá. Diz que como não a deixo ocupar com mais nada, pelo menos pode providenciar para que o senhor tenha no mini-bar as suas bebidas preferidas. É uma tolice, que eu consinto por amizade, pois eu também já conheço os seus gostos, Dr. William.
De súbito apercebeu-se que estava a olhar para ela com uma concupiscência imprópria e que Cláudia estava a notar isso. Contudo, não se retraiu e ela também não mostrou tenção de se furtar ao abuso. Bem pelo contrário. Como se entendesse estar a esconder de mais o seu viço, debruçou-se à sua frente a estender-lhe a travessa com salada e a deixar o decote esbambear e os peitos amorentos a avivarem o desejo dele, e não contente com isso fez um guardanapo cair ao chão e ao acocorar-se para o apanhar, com lentidão, como para certificar-se de que era capaz de fazer os olhos dele obedecerem-lhe, escarranchou-se num desequilíbrio graciosamente controlado, a saia a entreabrir-se com generosidade e por deliciosos instantes as coxas de luxúria morena desbaratando toda a pressuposta serenidade dele.
Lamentando-se consigo próprio, porque desejo com a intensidade que ela lhe despertara raro lhe vinha assim espontâneo, e desta vez não se atreveria a satisfazê-lo, ajudou-a a levantar-se e pensou que não deveria castigá-la por tentar excitá-lo. Teria uns vinte e tal anos, era recém-casada e italiana, dissera Madeleine na apresentação, e pelos vistos muito latina!
— Se eu não tivesse feito voto de castidade estaria agora a pensar em seduzi-la... É claro que uma mulher não tem culpa de ser muito atraente, mas se eu perdesse a cabeça e fosse ao ponto de violá-la, quem é que deveria ser responsabilizado por isso?... — pronunciou ele, evitando encarar Cláudia, consciente de que estava a acicatá-la e de que se não tivesse tento ainda acabaria com ela na cama, desrespeitando o acolhimento de Madeleine.
— Oh!... Mas porque razão? — retrucou Cláudia, a fazer-se ainda mais engraçada, perfil todo acentuado de curvas sensuais, a levar ao sítio o vestido na cintura e a aprumar-se como se aquele momento de desalinho tivesse sido uma tontura involuntária.
— Por que razão fiz voto de castidade? Ou por que razão você é atraente?... Ou por que razão alguém deveria ser responsabilizado? Qual das razões é que a Cláudia quer conhecer?
— Um homem só é aquilo que quer... Viemos ao mundo livres para escolhermos o mal ou o bem, mas na certeza de que seremos todos avaliados pelos nossos actos no Dia do Juízo Final. Se procedemos mal... — replicou-lhe ela, enfrentando-o com um sorriso santimonial.
— O caso é que somos nós quem ao longo do tempo tem definido o que é mal e o que é bem... Você acha que o sexo é uma coisa má? — revidou William, interessado no rumo que a conversa estava a tomar.
— Eu não!... Após a Criação, o Senhor até disse “Crescei e multiplicai-vos”. Mas a sua Lei de hoje também diz que o sexo só deve ser praticado no matrimónio.
— Insisto, Cláudia: durante toda a vida, o homem é que tem feito a lei conforme as conveniências da ocasião. Ao tempo da Criação praticou-se o incesto, e não era pecado, viveu-se em poligamia, e não era pecado!
— Mas passou a sê-lo. À medida que a humanidade vai mudando Ele também vai adaptando a sua Lei. Não estamos aqui abandonados... Ele vai-nos dando a conhecer os seus desígnios.
Ora toma! Estavas a divertir-te e deste de caras com uma pregadora! — reflectiu William, admirado com a fluência dela. Era melhor desistir de a incitar. E tudo ocasionado por Madeleine, que decidira deixá-lo a jantar sozinho...
— Eu sou um céptico, Cláudia. Obrigado... por hoje não vou precisar de mais nada. Um dia havemos de conversar mais sobre as nossas convicções acerca do bem e do mal. — asseverou-lhe, expressão de seriedade no rosto, para cortar a palestra.
— Quando quiser, doutor William. Tenho um livro, que é a verdadeira interpretação das Escrituras, um livro de estudo, que o senhor havia de gostar de ler...

A cena incutiu-lhe sinuosa perplexidade no espírito. A rapariga respirava sensualidade por todos os poros, assumia atitudes ousadas, para não dizer descaradas, o objecto das quais era ele, sem dúvida. E no entanto, de modo contraditório com os seus actos, pronunciava-se como se longe dela estivessem quaisquer propósitos menos inocentes, antes de tudo implicada numa missão catequista. Suborno moral por recurso ao desejo que os seus cobiçáveis dotes físicos naturalmente despertavam, ou esforçado Auto exorcismo da tentação instintiva, química pura, que lhe revolvia os centros nervosos? Teria ele sido bem sucedido em conseguir levá-la para a cama servindo-se das vulgares cortesias de enamoramento, ou daria ela preferência a que ele agisse com impulsividade, que utilizaria como desculpa para não se negar, talvez mesmo como sacrificante oferta no altar da sua dogmática religiosidade? E seria que ela, durante o sexo, em ato de contrição, o abençoaria com algum sermão? Teria ele capacidade para lhe desatinar a líbido, desmobilizando-lhe a fé, com gestos de prazer insano?
Zirá e Amélia não carregavam consigo nada destes matizes romanescos, e estava a sentir-lhes a falta. Não havia dúvida de que Cláudia fizera vibrar, com não oportuna melodia, as cordas demasiado tensas da sua sensibilidade de solteirão!
Entre sair de casa à procura de satisfazer os seus lúbricos apetites com alguma companhia da noite, ou pôr de lado todos os escrúpulos avançando com frontalidade, desse no que desse, à conquista do corpo de Cláudia, escolheu ir dormir, adiando a questão. Com paciência, agarrou-se à leitura de um livro policial e, enquanto a trama da história não o entusiasmou, teve de ser perseverante a acalmar a insaciedade que insistia em desviá-lo das páginas do livro sempre que inventava algum ruído junto da porta do seu quarto, na esperança narcísica de que Cláudia entrasse por ali dentro em transparente camisa de noite, ou sem ela, oferecendo-se-lhe com langor e indeclinável voluntariedade.
Adormeceu tarde, a meio do livro, e com a desolação vencida em amigável acareação com a ideia de que Cláudia sofria de uma doutrinação tão fundamentalista que só com muita dificuldade resistiria à atracção do abismo que ele era e, por conseguinte, mais noite menos noite, mais prudência menos prudência, ou escândalo, se imolaria sob dissoluta depravação, para caridosamente o converter.

(continua)

Escrito de acordo com a Antiga Ortografia(continuação)

Quando voltava para dentro de casa, já tarde, viu luz na janela do seu quarto e julgou que a empregada andava lá, a fechar as portadas e a abrir-lhe a cama. Por essa razão surpreendeu-se de afinal a encontrar a aguardá-lo na sala para lhe servir o jantar.
— Cláudia, por distracção devo ter deixado a luz acesa no meu quarto. — disse ele, tendo quase a certeza de que tal não acontecera, e apenas como sugestão para ela ir desligar o candeeiro.
— É a senhora que anda lá. Diz que como não a deixo ocupar com mais nada, pelo menos pode providenciar para que o senhor tenha no mini-bar as suas bebidas preferidas. É uma tolice, que eu consinto por amizade, pois eu também já conheço os seus gostos, Dr. William.
De súbito apercebeu-se que estava a olhar para ela com uma concupiscência imprópria e que Cláudia estava a notar isso. Contudo, não se retraiu e ela também não mostrou tenção de se furtar ao abuso. Bem pelo contrário. Como se entendesse estar a esconder de mais o seu viço, debruçou-se à sua frente a estender-lhe a travessa com salada e a deixar o decote esbambear e os peitos amorentos a avivarem o desejo dele, e não contente com isso fez um guardanapo cair ao chão e ao acocorar-se para o apanhar, com lentidão, como para certificar-se de que era capaz de fazer os olhos dele obedecerem-lhe, escarranchou-se num desequilíbrio graciosamente controlado, a saia a entreabrir-se com generosidade e por deliciosos instantes as coxas de luxúria morena desbaratando toda a pressuposta serenidade dele.
Lamentando-se consigo próprio, porque desejo com a intensidade que ela lhe despertara raro lhe vinha assim espontâneo, e desta vez não se atreveria a satisfazê-lo, ajudou-a a levantar-se e pensou que não deveria castigá-la por tentar excitá-lo. Teria uns vinte e tal anos, era recém-casada e italiana, dissera Madeleine na apresentação, e pelos vistos muito latina!
— Se eu não tivesse feito voto de castidade estaria agora a pensar em seduzi-la... É claro que uma mulher não tem culpa de ser muito atraente, mas se eu perdesse a cabeça e fosse ao ponto de violá-la, quem é que deveria ser responsabilizado por isso?... — pronunciou ele, evitando encarar Cláudia, consciente de que estava a acicatá-la e de que se não tivesse tento ainda acabaria com ela na cama, desrespeitando o acolhimento de Madeleine.
— Oh!... Mas porque razão? — retrucou Cláudia, a fazer-se ainda mais engraçada, perfil todo acentuado de curvas sensuais, a levar ao sítio o vestido na cintura e a aprumar-se como se aquele momento de desalinho tivesse sido uma tontura involuntária.
— Por que razão fiz voto de castidade? Ou por que razão você é atraente?... Ou por que razão alguém deveria ser responsabilizado? Qual das razões é que a Cláudia quer conhecer?
— Um homem só é aquilo que quer... Viemos ao mundo livres para escolhermos o mal ou o bem, mas na certeza de que seremos todos avaliados pelos nossos actos no Dia do Juízo Final. Se procedemos mal... — replicou-lhe ela, enfrentando-o com um sorriso santimonial.
— O caso é que somos nós quem ao longo do tempo tem definido o que é mal e o que é bem... Você acha que o sexo é uma coisa má? — revidou William, interessado no rumo que a conversa estava a tomar.
— Eu não!... Após a Criação, o Senhor até disse “Crescei e multiplicai-vos”. Mas a sua Lei de hoje também diz que o sexo só deve ser praticado no matrimónio.
— Insisto, Cláudia: durante toda a vida, o homem é que tem feito a lei conforme as conveniências da ocasião. Ao tempo da Criação praticou-se o incesto, e não era pecado, viveu-se em poligamia, e não era pecado!
— Mas passou a sê-lo. À medida que a humanidade vai mudando Ele também vai adaptando a sua Lei. Não estamos aqui abandonados... Ele vai-nos dando a conhecer os seus desígnios.
Ora toma! Estavas a divertir-te e deste de caras com uma pregadora! — reflectiu William, admirado com a fluência dela. Era melhor desistir de a incitar. E tudo ocasionado por Madeleine, que decidira deixá-lo a jantar sozinho...
— Eu sou um céptico, Cláudia. Obrigado... por hoje não vou precisar de mais nada. Um dia havemos de conversar mais sobre as nossas convicções acerca do bem e do mal. — asseverou-lhe, expressão de seriedade no rosto, para cortar a palestra.
— Quando quiser, doutor William. Tenho um livro, que é a verdadeira interpretação das Escrituras, um livro de estudo, que o senhor havia de gostar de ler...

A cena incutiu-lhe sinuosa perplexidade no espírito. A rapariga respirava sensualidade por todos os poros, assumia atitudes ousadas, para não dizer descaradas, o objecto das quais era ele, sem dúvida. E no entanto, de modo contraditório com os seus actos, pronunciava-se como se longe dela estivessem quaisquer propósitos menos inocentes, antes de tudo implicada numa missão catequista. Suborno moral por recurso ao desejo que os seus cobiçáveis dotes físicos naturalmente despertavam, ou esforçado Auto exorcismo da tentação instintiva, química pura, que lhe revolvia os centros nervosos? Teria ele sido bem sucedido em conseguir levá-la para a cama servindo-se das vulgares cortesias de enamoramento, ou daria ela preferência a que ele agisse com impulsividade, que utilizaria como desculpa para não se negar, talvez mesmo como sacrificante oferta no altar da sua dogmática religiosidade? E seria que ela, durante o sexo, em ato de contrição, o abençoaria com algum sermão? Teria ele capacidade para lhe desatinar a líbido, desmobilizando-lhe a fé, com gestos de prazer insano?
Zirá e Amélia não carregavam consigo nada destes matizes romanescos, e estava a sentir-lhes a falta. Não havia dúvida de que Cláudia fizera vibrar, com não oportuna melodia, as cordas demasiado tensas da sua sensibilidade de solteirão!
Entre sair de casa à procura de satisfazer os seus lúbricos apetites com alguma companhia da noite, ou pôr de lado todos os escrúpulos avançando com frontalidade, desse no que desse, à conquista do corpo de Cláudia, escolheu ir dormir, adiando a questão. Com paciência, agarrou-se à leitura de um livro policial e, enquanto a trama da história não o entusiasmou, teve de ser perseverante a acalmar a insaciedade que insistia em desviá-lo das páginas do livro sempre que inventava algum ruído junto da porta do seu quarto, na esperança narcísica de que Cláudia entrasse por ali dentro em transparente camisa de noite, ou sem ela, oferecendo-se-lhe com langor e indeclinável voluntariedade.
Adormeceu tarde, a meio do livro, e com a desolação vencida em amigável acareação com a ideia de que Cláudia sofria de uma doutrinação tão fundamentalista que só com muita dificuldade resistiria à atracção do abismo que ele era e, por conseguinte, mais noite menos noite, mais prudência menos prudência, ou escândalo, se imolaria sob dissoluta depravação, para caridosamente o converter.

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