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Portugal era um império...

Os pés da minha carne pediram o calor do mijo amarelo e farto do gado que pastava, numa manhã de gelo, entre o medo das couves orvalhadas serem comidas. Os pés meninos da minha Mãe, franzinos no corpo miúdo, despiram a miséria no mergulhar desse brejo, entre o tricotar de um casaquinho de lã, cantado no olhar esguio de uma criança que vigiava.
Os pés do meu Pai eram alegres, corriam o monte com o vento, na companhia do cão rafeiro. Ambos distraídos, no couro da sola despida só esquecida na maioridade, procuravam na seiva dos carvalhos, o besouro de chifres que trazia a miséria enganada no sorriso de uma criança, sem quotidiano.
As costas dobradas da carne que me trouxe sentiram na vertigem da queda sobre a terra alagada até aos joelhos, a vontade de crescer contra os ossos, deixando a erva ceifada para trás, com medo da água, no peso do molho verde, tanto como a menina.
O cão rafeiro do Pai puxava a carroça cheia de erva, quando o engenho desse sorriso enganava a míngua, nos corpos deitados de alegria pelo esvoaçar do besouro preso na linha à volta do carvalho.
A Mãe atirava a prato à parede, quando o avô acabava à mesa. O Pai tinha outro caldo de farinha aguada, no afagar dos cabelos de um sorriso livre.
O terço rezado na sombra da luz de cera, cantava-se no cinto zumbido contra o ar que tombava, todos os dias, repetidamente em família, sobre os meninos que crescem.
O Avô, velhinho, encostado à bicicleta, procurava receber o Pai pela noite escura, acompanhando-o de volta a casa.
A professora ia a casa pedir para acabar a Escola. Os cromos caíam, e a cara do Fialho, do Porto, surgia para não mais esquecer.
No emergir do sacerdócio - o que restava das pedras nuas de neve dos altos montes -, os homens lembravam-se do que lhes tinham soprado aos ouvidos quando eram meninos e, com medo que lhes cortassem a virtude, fugiam para a metrópole; elas, serviçais, copeiras, entre água e azeite.
Amor, tudo isto é amor.
Portugal era um império…
Eles morderam. Nós sonegamos… Posso, ao menos, uivar?

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sábado, junho 12, 2010 - 21:24

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Jorgelupus

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Re: Portugal era um império...

Estupendo eclodir de emoções e lembranças.
Abraços
Susan

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