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"A PRINCESA DO MAR"

 

1º Capítulo

O dia estava luminoso... Tão luminoso quanto a bolha brilhante e transparente que os protegia das águas do mar o permitia.


Leeza olhou para cima e imaginou como seria o mundo para além daquele escudo protector, que lhes restringia tanto os movimentos como os sonhos de liberdade. Suspirou, conformada. Mais um dia desperdiçado naquele pequeno mundo que de tão calmo e organizado era entediante.


- Um dia - pensou - Um dia vou sair daqui e ver o que há para além do escudo!


Apenas conhecia as lendas e as leis. Para além do seu pequeno mundo existia um mundo imerso, destruído pelo caos a confusão e as gueras constantes. Mas nem assim a sua curiosidade e vontade de o conhecer esmorecia. Era a única, entre os habitantes do seu povo, que sofria com a vontade de um dia descobrir mais além do que aquilo que a sua vista alcançava.


- Impaciente, e inconstante - pensou divertida. Era assim que o seu pai a chamava muitas vezes, exasperado com o seu temperamento indomável, e explosivo.


-Bem... Não vale a pena estar para aqui a sonhar acordada! - exclamou em voz alta, enquanto descia da árvore onde se tinha empoleirado para mais uma vez olhar o firmamento.


- Leeza!!! - gritou Vany, sua melhor amiga que vinha a correr ao seu encontro. -Leeza, o teu pai está a chamar-te!!! Estás atrasada para a recepção dos embaixadores.... Outra vez! - finalizou sorrindo abertamente.


- Detesto essas malditas recepções! Não passam de um desfile sem fim de velhos chatos com ideias retrógadas, sem sentido de humor... - resmungou Leeza, enquanto saltava para o chão e sacudia a roupa, e o cabelo para retirar as folhas que se tinham colado a ela.


- Não sejas assim. - repreeendeu-a a amiga. - Um dia vais ser rainha, e vai ser a tua vez de enfrentar os velhos embaixadores, chatos, e com ideias retrogadas!!!


Leeza olhou para a sua melhor amiga, para os seus olhos simpáticos e sempre sorridentes. Vany sempre fora a sua consciencia, desde pequenas, e agora durante a adolescência tinha- ajudado muitas vezes a refrear a língua e o mau feitio que só lhe traziam problemas.


- Bem, eles que esperem! - Atirou Leeza com um sorriso travesso a bailar-lhe nos lábios, que se estendia aos seus brilhantes olhos verdes.- Como princesa que sou, posso dar-me ao luxo de chegar atrasada, pois ainda tenho de mudar de roupa. além disso o papá acaba sempre por me desculpar.


- E esse é que é o mal! - respondeu Vany rindo á gargalhada. - Um dia a boa vontade dele acaba-se e ainda te dá umas belas palmadas, minha princesinha mimada!!!


- Tens razão... Porto-me como se fosse... e arrependo-me por isso. Mas tem dias que estou tão farta desta monotonia. É sempre a mesma coisa, dia após dia.... Não há novidades, nada de excitante acontece!


- Devias dar graças aos deuses por assim ser. Não sejas ingrata, Leeza, pela paz que temos a sorte de usufruir. - Retorquiu Vany calmamente, habituada ás constantes queixas da amiga.


- Ok, mãezinha... vamos lá então.


E juntas encaminharam-se para a entrada do palácio.

 

2º Capítulo

Depois de devidamente vestida, escovada e ataviada pelas suas aias, coisa que Leeza detestava, pois na sua opinião não valia a pena ter tanta gente de volta dela a servi-la, dirigiu-se para a sala do trono seguida de Vany.

Ao chegar, os idosos representantes das várias tribos do reino ergeram-se e fizeram uma vénia á sua princesa que, naquele momento, preferia estar a mil léguas dali. As conversas e discussões sobre terras e tributos, entediavam-na de morte, mas tinha de cumprir o seu dever, por isso ali estava. Dirigiu-se para uma cadeira situada do lado direito do seu pai, que a olhou calmamente apenas levantando o sobrolho para lhe mostrar que estava desagradado com o seu atraso.

O rei Houriq era um homem viúvo, já com uma certa idade, cujo nascimento da filha apanhou-o numa fase da vida em que era por demais magnanimo e paciente com as maneiras e espirito idependentes de Leeza. Ela sabia disso e por vezes abusava um pouco, mas adorava-o com todo o coração.

Herdou dele os olhos verdes e o cabelo castanho ondulado, mas segundo o seu pai, tinha herdado o feitio indomável da sua mãe, que não chegou a conhecer, pois morreu ao dar á luz a única filha. Quem tinha criado Leeza tinha sido Margot, mãe de Vany e sua ama de leite. Desta forma, as duas raparigas tinham sido criadas como irmãs, tendo Vany também um lugar especial no coração do rei, que apreciava a sua maneira calma, e bem disposta de encarar a vida, sempre bondosa, sempre disposta a ouvir e a ajudar, ao contrário da sua impulsiva filha.

Leeza correu o olhar pelos diganatários que se encontravam presentes, assim que recomeçaram os discursos, rezando para que não começasse a bocejar de tédio a qualquer momento, pois isso iria deixar o seu pai realmente furioso.

Sempre lhe dissera "Os assuntos do reino, por muito chatos e absurdos que te pareçam, têm de ser encarados com a seriedade e o valor que merecem, pois é dos teus súbditos que estamos a falar, Leeza, e um dia será a tua vez de zelar pelo bem estar e felicidade de todos."

Mas não era fácil!

Por isso, numa tentativa de manter a atenção, Leeza voltou a relancear o olhar pela sala, e pelas caras presentes. Conhecia praticamente todos os representantes das tribos, mas o que lhe chamou a atenção foi ter reparado nos cientistas do reino que se encontravam por trás dos visitantes, sentados encostados a uma das paredes da sala.

"Que estranho!" pensou "O que estarão aqui a fazer? Nunca estiveram presentes em qualquer reunião deste género. O que se passará?"

Leeza olhou interrogativamente para o seu pai, que lhe fez sinal para que esperasse. No entanto, e pela primeira vez desde que entrara na sala, reparou em como o seu pai lhe parecia preocupado.

Procurou com os olhos Vany, que se encontrava sentada entre as damas que acompanharam os dignatários, tentando que esta lhe seguisse o olhar enquanto voltou a dirigir a atenção aos cientistas. A amiga assim fez, e também ela se mostrou curiosa sobre a situação.

Após as apresentações, chegou a vez de o rei falar. Houriq clareou a voz e começou.

- Caros amigos. Chamei-os hoje para falarmos sobre algo muito importante e grave, que chegou recentemente ao meu conhecimento. Algo que infelizmente colocará o nosso povo em grave perigo, ou pior.

Um burburinho instalou-se na sala, enquanto os presentes cochichavam entre eles após tal revelação.Leeza endireitou-se na cadeira, olhando para o seu pai, consciente de que algo estava muito errado.

 

3º Capítulo

O rei Houriq levantou a mão na tentativa de silenciar a sala, após o que o ruído cessou de imediato.

- Calma, silêncio!!! Se me permitirem explicarei tudo de seguida. - Respirou fundo, e aguardou que os presentes concentrassem a atenção na sua pessoa.

- Como vos disse, chegou ao meu conhecimento recentemente factos que dizem respeito á integridade do escudo que nos separa do mar. Como sabem, quando os nossos antepassados criaram este mundo, e conceberam o escudo, antes de afundarem no mar, partia-se do princípio que a energia que alimentava os geradores, que é originada sobretudo pelas correntes e composição da própria água do mar, se manteriam inalteradas durante o tempo que fosse preciso. - Houriq fez uma pausa e olhou em redor. Percebia pelas caras ansiosas que o fitavam, que ninguém poderia advivinhar o que ele estava prestes a revelar.

- Infelizmente, os geradores estão a falhar...

Nesta altura o rei foi interrompido por um coro de exclamações de pânico e incompreensão. Várias pessoas ergueram-se das cadeiras, massacrando o rei com perguntas impossíveis de perceber acima do barulho que se fazia sentir.

Leeza olhou para o seu pai, com o mesmo espanto e incredulidade das outras pessoas. O seu mundo sempre tinha sido perfeito, calmo e sereno durante milhares de anos, e apesar dos seus desejos de que algo de excitante acontecesse para quebrar a monotonia, não estava á espera de tal revelação, que tudo o que conhecia poderia estar á beira da extinção. O medo inundou-a, assim como a todos os que se encontravam naquela sala.

- SILÊNCIO!!!! - Trovejou a voz do rei. - Ainda não terminei!!! Sentem-se imediatamente!

Aos poucos, os ânimos foram serenando, mas o pânico que se sentia era palpável.

- Como dizia, recentemente os nosso técnicos e cientistas aperceberam-se que os geradores estão a falhar. A energia que os alimenta não é suficiente para manter o escudo operacional por muito mais tempo. Só agora foi possível comprovar a veracidade destes factos, após vários testes, para termos a certeza do que realmente se está a passar. E sim, comprova-se, devido a alterações climatéricas, mudança de correntes, e da temperatura do mar, neste momento a energia gerada está num mínimo de emergência, mas não se manterá por muito mais tempo. - Mais uma vez Houriq fez uma pausa no seu discurso. Não era fácil o que ia dizer, mas tinha de ser feito. - Assim, meus amigos, infelizmente temos de abandonar Altéria, o nosso lar, antes do inevitável acontecer.

- Mas senhor! - interrompeu Valdec, chefe da tribo Truar.- Estais a dizer que temos de evacuar Altéria? Mas para onde iremos? Não há forma de conseguirmos outro tipo de energia?

- Não, Valdec, neste momento seria muito arriscado demorarmos mais a evacuação, pois a qualquer momento os geradores falharão, e o escudo desaparecerá.... Morreremos todos. - respondeu o rei.

Mais uma vez dezenas de vozes ergueram-se, questionando o rei, desesperadas, algumas pessoas choravam, o pânico estava instalado e parecia impossível de acalmar desta vez.

Leeza levantou-se da cadeira e gritou silêncio até chamar a atenção dos presentes.

- Silêncio!!! Não vale a pena estarem a gritar e a chorar até sabermos ao certo todos os factos! - Olhou em redor. - Sim, o que vai acontecer é uma desgraça sem igual. Nunca em toda a nossa história se verificou uma calamidade assim, mas conseguimos descobrir antes de não haver mais solução. Por isso devemos ouvir o que o meu pai tem para dizer, de certeza que poderemos tomar medidas que nos salvem a todos, se não ao nosso mundo, pelo menos o nosso povo sairá ileso!!

O seu pai olhou-a, orgulhoso da sua menina, pois era a primeira vez que via Leeza a comportar-se como uma verdadeira princesa, como uma líder do seu povo, como ele sempre esperara que ela fosse. Não estava enganado. Um dia quando partisse, deixaria o reino em boas mãos. E no meio da infelicidade, sorriu.

- Sim - disse Houriq - existe uma solução. Ainda temos tempo para tentar corrigir este mal. Mas no entanto não quero arriscar as vidas do nosso povo, por isso a evacuação terá início dentro de alguns dias. Por esta razão vos convoquei, para nos organizarmos, e para vos falar do que poderá ainda ser feito para evitar que a tragédia se abata sobre Altéria.

- Então ainda existe esperança? - Perguntou Gutar, uma das conselheiras da tribo de Vulcan.

- Bem, - prosseguiu o rei, - a esperança é ténue mas existe. Por isso vou passar a palavra a Jonnar, o nosso chefe dos engenheiros. Jonnar por favor. - disse dirigindo-se a um dos cientistas que se encontrava presente na sala.

O pequeno homem levantou-se, não parecendo maior do que quando estava sentado. Era um senhor de meia idade, pequeno e esguio, calvo, com um aspecto nervoso, e em constante sobressalto, ar este que se acentuava pelo uso de uns óculos com lentes grossas que faziam os seus olhos parecerem permanentemente esbugalhados.

- Senhores e senhoras... Majestades... - começou ele hesitante. - Realmente, há poucas semanas deparámo-nos com uma diminuição na força do escudo, que se traduziu em quebras e inundações nas zonas periféricas da redoma. Após diversos testes, concluímos que nenhum dos nossos recursos tecnológicos poderá corrigir este problema. Infelizmente, calculamos que dentro de cerca de dois meses o escudo cederá de vez.

Mais um vez um burburinho se instalou na sala.

- Dois meses? - Exclamou Gutar.

- Não pode ser! - lamentou-se Lagus, chefe de outra das tribos.

Jonnar deixou o barulho diminuir antes de voltar a falar. Pigarreou, aclarando a voz e continuou:

- Sim, dois meses. Para já, e após muito debatermos este assunto, aconselhamos sua majestade, o nosso rei, a evacuar o nosso povo. Claro que como não temos tempo de construir uma cidade submersa em tão pouco espaço de tempo, teremos forçosamente de nos dirigir para a superfície.

Desta vez as exclamações de surpresa e indignação soaram como um estrondo de canhão dentro da sala de audiências.

- Superfície!!! Estão todos loucos? - Exclamaram alguns - Voltar para junto dos bárbaros do mundo imerso? Nunca!!! - Gritaram outros.

- SILÊNCIO!!! ORDEM NA SALA!!!! - Gritou mais uma vez o rei.

- Isto está a ficar descontrolado - exclamou Leeza, tentando manter-se calma, e aparentar uma confiança que não sentia. Esticou o braço e agarrou a mão do seu pai que permanecia sereno apesar da gritaria em seu redor.

- SILÊNCIO! - Gritou desta vez o capitão da guarda, que tinha entrado nessa altura alertado pelo barulho.

- Senhores! Por favor oiçam! - Gritava o pequeno cientista tentanto desesperadamente chamar a atenção. - A escolha de ir para a superfície foi muito bem ponderada, e o local escolhido é completamente deserto pelo que poderemos continuar isolados do resto do mundo até conseguirmos resolver o nosso problema!

- Então a nossa situação de refugiados não será permanente? - Perguntou um dos membros do conselho do rei.

- Não, temos a certeza absoluta que conseguiremos encontrar uma nova fonte de energia para substituir a presente. Mas precisamos de tempo. E tempo, aqui, é algo que não temos. Não há outra alternativa de momento. Vamos proceder á evacuação de Altéria, para o local escolhido, onde já começamos a construir um laboratório para prosseguirmos os nossos estudos.

Nesta altura o rei ergueu-se. Olhou para a filha, que ainda apertava a sua mão, e para os presentes.

- Voltem para as vossas tribos. Avisem o vosso povo. Começem os preparativos para partir, juntem provisões necessárias para uma estada longa, os bens essenciais e nada mais. Os transportes para a superfície partirão dentro de uma semana, do cais principal da cidade de Alleris. Por favor convençam todos a partir. Após a evacuação completa de todos os residentes, os guardas procederão a uma busca geral em todo o reino para garantirmos que ninguém ficou para trás.

- Esta reunião estão encerrada. Façam o que vos pedi, e que os deuses nos protejam a todos. - finalizou o rei Houriq voltando a sentar-se.

Um a um, os dignatários retiraram-se fazendo vénias ao rei e á princesa. No entanto parecia que cada um levava o peso do mundo aos ombros.

Assim que a sala ficou vazia, Houriq olhou para Leeza. Não eram precisas palavras. Leeza percebeu que o seu pai envelheceu durante aquelas horas.

- Pai...? - começou Leeza.

- Não filha, não digas nada. Não há nada a dizer. Nunca pensei vir a assistir ao fim de tudo o que conhecia no meu tempo de vida. Não era esta a herança que te queria deixar...

- Não pai, não digas isso! - Exclamou Leeza, com os olhos a encherem-se de lágrimas. - Vamos encontrar uma solução, sei que vamos!

- Assim o espero minha filha... Assim o espero... - levantou-se e dirigiu-se para uma das varandas onde ficou a contemplar o brilho e beleza azulada de Altéria.

Leeza aproximou-se dele e abraçou-o, e assim ficaram os dois, a guardar na memória a imagem do seu mundo, que provávelmente não voltariam a ver nos tempos mais próximos.
 

CONTINUA...
 

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quarta-feira, março 23, 2011 - 12:58
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Aline Jacinto

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Prosas/Ficção Cientifica "A PRINCESA DO MAR" 0 593 03/23/2011 - 12:58 Português