CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Rótulo Vencido

Para os Conservadores, um “antro de perdição”. Para os Liberais (tanto os autênticos quanto os oportunistas) um espaço que definem usando o mais puro “Politicamente Correto” e repetindo os lugares-comuns que as televisões lhes ensinam. E fazem com tanta veemência que é possível que se acredite em suas sinceridades quando chamam o local de “POINT” das pessoas “de orientação sexual heterodoxa”.
E essas pessoas, após cumprirem tudo que a vida lhes exige; ali, na praça, exercem o sagrado direito de praticarem o lazer que é comum a todos. Heteros ou Homossexuais. E entre alguma música, alguma bebida e algum cigarro (que é fumado bem longe de todos, pois “DURA LEX, SEDE LEX”) expõem suas idiossincrasias, afetos, alegrias, mágoas etc. E tudo se resume nisto. Não se tem noticia de que ali exista maior criminalidade, perturbação excessiva ou qualquer outro motivo real que pudesse embasar a “má fama” do local. E, no entanto, a “má fama” persiste. Ou persistia?
Após comprar cigarros (que provocam câncer) e tomar o habitual café, começo o caminho de volta para casa, justamente na praça. Cronistas antigos e conservadores a chamariam de “Logradouro do Pecado”, mas como eu sou só Antigo, pouco me incomoda o que se imagina que lá ocorre e que eu nunca vi. E me bastaram alguns passos, em tal logradouro, para que eu ouvisse dois jovens ao meu lado comentarem com a eloqüência própria da idade: - cara! Olha o maluco, lá!
E de fato, à frente, um rapaz seminu, com um saco de lixo cobrindo as partes (atenção cronistas de antanho) pudendas, um saco de papel a guisa de capuz e sacolas de Supermercados no lugar dos sapatos. Declamava frases desconexas, mas talvez de temáticas complexas e, certamente, atinentes à aventura do Homem nesse ponto azul que nos foi dado habitar. Junto dele, uma jovem de meias-pretas e vestido bordô dançava ao som de sinos (sim, carrilhões) e em sua coreografia expunha a dor e a delicia embutidas no ato de viver.
Não me peçam para comentar performances, textos ou mensagens. A falta de um equipamento de som para os atores e de melhor audição para esse escrevinhador, impediram-me de ouvir e entender o teatro que ali se fez. E na verdade, pouco me interessava textos e mensagens. O meu interesse estava na platéia, que então já se compunha de mães com suas pequenas crias, homens sisudos (sérios?) e “por trás dos óculos1” e senhores e senhoras que dividem comigo essa meia ou mais idade. Gente que a natureza, ao impor algumas restrições físicas, induz ao Conservadorismo como tática de não se expor a riscos que já não se suportaria. E foi essa mescla entre Conservadores, Liberais, Heteros, Homossexuais, Crianças, Idosos e mais um punhado de pessoas de todos os tipos que me chamou atenção.
Foi esse pacto tácito entre todos no momento de viver Cultura que me despertou, ou melhor, renovou minha esperança nesse bicho estranho que chamamos de Humanos. Foi bom ouvir que todos recompensaram a jovem atriz, que simulara uma queda, com um generoso suspiro de alivio ao lhe ver salva por um cabo de segurança.
Por aproximadamente sessenta minutos aquela trupe reviveu o singelo, mas esplêndido teatro de rua. O mais puro teatro de rua. Revimos uma Commedia dela’arte. Por aproximadamente uma hora aqueles jovens fizeram que todos se esquecessem que o lugar era “maldito”, “mal afamado”. Fizeram com que não fosse mais “maldito”. A praça tinha voltado “a ser do povo2”.
Saí antes do fim. Menos por desinteresse e mais pelo temor de que junto com o final da apresentação voltassem a existir os Muros que nos cercam em Guetos estanques. Foi-me preciso deixar a praça daquele jeito. Generosa como toda praça deveria ser e que abrigasse e relevasse as superficiais diferenças que não sobrevivem à igualdade de nossas Essências.
Quero, enfim, deixar um beijo com muita gratidão àqueles jovens que tão despretensiosamente resgataram o que somos: somos pessoas! Os rótulos? Estão com o prazo de validade vencido.

Dedicado ao "Grupo Teatral do Trecho"

1 – da poética de Carlos Drummond de Andrade
2 – da poética de Castro Alves.

Submited by

segunda-feira, outubro 5, 2009 - 15:45

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

imagem de fabiovillela
Offline
Título: Moderador Poesia
Última vez online: há 8 anos 4 dias
Membro desde: 05/07/2009
Conteúdos:
Pontos: 6158

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of fabiovillela

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Prosas/Outros ALCESTE, Gluck - Óperas, guia para iniciantes 0 2.886 08/14/2015 - 14:26 Português
Prosas/Outros ORFEU e EURÍDICE, Hydn - Óperas, guia para iniciantes - Ensaio completo 0 2.560 08/14/2015 - 01:24 Português
Poesia/Tristeza Atos 0 1.320 08/11/2015 - 15:41 Português
Poesia/Geral A Canção de Hiroshima 0 1.850 08/05/2015 - 20:11 Português
Prosas/Outros RIGOLETTO, Verdi - Óperas, guia para iniciantes. 0 2.990 08/04/2015 - 20:49 Português
Poesia/Amor Serenidades 0 1.333 07/29/2015 - 14:57 Português
Poesia/Geral Os Traços 0 1.319 07/26/2015 - 14:14 Português
Poesia/Geral Luna 0 1.564 07/21/2015 - 15:32 Português
Poesia/Geral Assombros 0 2.181 07/19/2015 - 17:23 Português
Prosas/Outros Pagliacci, Leoncavallo - Óperas, guia para iniciantes 0 2.486 07/16/2015 - 15:34 Português
Poesia/Geral A Moça de Cima 0 1.130 07/14/2015 - 15:14 Português
Poesia/Amor O Grito 0 1.950 07/11/2015 - 19:14 Português
Prosas/Outros Óperas, guia para iniciantes - Cavalleria Rusticana, Mascagni - Ensaio completo 0 3.934 07/10/2015 - 15:25 Português
Prosas/Outros Da Maioridade Penal 0 1.247 07/09/2015 - 23:46 Português
Poesia/Geral Paraty 0 3.524 07/06/2015 - 01:09 Português
Prosas/Outros Óperas, guia para iniciantes - LUCIA DE LAMMERMOOR, Donizetti - Ensaio completo 0 632 07/01/2015 - 15:56 Português
Poesia/Tristeza As Idades 0 1.494 06/27/2015 - 16:07 Português
Poesia/Amor As Separações 0 2.300 06/25/2015 - 22:51 Português
Poesia/Geral K., onze anos, apedrejada 0 550 06/22/2015 - 15:26 Português
Poesia/Amor Sax 0 1.804 06/19/2015 - 15:17 Português
Poesia/Geral Matem 0 2.146 06/16/2015 - 15:23 Português
Prosas/Tristeza Óperas, guia para iniciantes - EUGEN ONEGIN, Tchaikovsky - Ensaio completo 0 4.223 06/15/2015 - 20:09 Português
Poesia/Amor Ao filho que fiz 0 1.563 06/13/2015 - 16:59 Português
Poesia/Geral Negra Calíope 0 2.176 06/12/2015 - 14:04 Português
Poesia/Amor Enigmas 0 2.547 06/11/2015 - 15:20 Português