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Recordar o passado em Praga

I Amar apaixonadamente

Reencontro-te em Praga.
Estou acompanhada por um jovem que desconheces. Finges que não me vês, mas percebo que ardes em curiosidade e ciúme.

Segues-nos até ao restaurante, depois pelas ruas, que há anos percorremos juntos, quando jurámos amor eterno, que o foi enquanto durou.

Estranho encontrar-te ali...Será que alguma vez regressaste? Será que te vieste embora, no mesmo dia em que te disse que não te amava? Tu que me querias ensinar o que era o amor. E em Praga.

Mas eu, embora mais jovem, acho que sabia mais de paixão, que tu de amor. Ou pensava que sim. Porque ainda hoje não tenho a certeza.

Passeio-me com uma paixão jovem, para me esquecer que envelheço. Olho-te e continuas com a mesma aparência, apesar da diferença de mais 20 anos de idade. Olhas-me, procurando em mim, a pupila de outrora, apaixonada pelo mestre, que queria ensinar o amor, enquanto nos dávamos em paixão.

Olho-te. E recuo no tempo.

Que será que farei a seguir?

-.-.-.-.-.-.-.-.-.
II Regresso a Praga

Confortada pela voz do Rufus Wainwright, relembro as ruas estreitas onde nos perdemos tantas e tantas vezes, nas tentativas contínuas de me encontrar.
No teu olhar ou através do teu toque. Suave. Sabedor. Experiente. Catedrático.

E eu, na aprendizagem que jamais esqueci, regresso às cores, aos sabores e aos odores de uma Praga envelhecida e sempre renovada. Em vielas e monumentos. Em quartos de hotel com cheiro a mofo. Em noites de Praga que guardo na memória.

Inesquecíveis, por mais que quisesse esquecê-las.

Pelo vazio que ficou. Quando decidi partir.

Estranho. Ter ficado vazia de ti, mesmo tendo sido eu que parti.
E ao rever-te, nesse olhar penetrante e intemporal, não posso negar que o meu coração acelerou...Porque razão?

O teu olhar, esse olhar que me penetra até à alma, que me desvenda os segredos, mesmo os que guardo de mim. Como podes ainda manter esse olhar hipnótico, que me seduzia, ao qual me abandonava? O teu olhar onde me perdia e reencontrava, simples esvoaçar de borboleta, fugaz o toque, as palavras que permaneceram na minha boca, assim o decalque do teu corpo em mim, os sabores e a ausência…A minha.

De ti e de mim mesma.

Sempre em fuga, dizias.

.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

III Ambassador Zlata Husa Hotel

Tento um esquecimento.
A mão do jovem que me acompanha ensaia um gesto atrevido, como que a lembrar-me, que está ali. Puxa-me para ele, molda-me ao seu corpo, sinto-o excitado...
O ciúme excita?
Correspondo, com um atrevimento que o surpreende: descalço-me e toco-o por debaixo da mesa, até quase ao clímax.Aceito o beijo apaixonado do meu jovem companheiro.Esboças um gesto de enfado, chamas o empregado e sais.
Por momentos não sei o que fazer.
Debato-me ente o Querer e o Dever (numa luta antiga, que nunca me deu tréguas).
Entretanto perdi a fome. Acuso uma indisposição, o meu namorado sorri compreensivo, paga a conta e saímos.
O vento revolve-me os cabelos. Lembro-me das tuas mãos na minha face, sempre que uma madeixa teimava em cobrir-me os olhos…
Chegamos ao hotel e subimos ao quarto. Sinto que tenho que compensar o meu namorado e enquanto fazemos amor, eu de uma forma quase mecânica, embora em entrega total, recuo no tempo e lembro aquela tarde em que fiz amor contigo (porque a maioria das vezes fazíamos sexo) e em que parti.

Talvez por te amar demais.

-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
IV Despedida

Percorro entre lágrimas o caminho que me levará à estação, onde todas as vezes que tinha que regressar a Lisboa e deixar-te, porque os teus concertos não te permitiam acompanhar-me, te despedias de mim, em derradeiras tentativas de me fazeres ficar.

Mas Lisboa chamava-me sempre, quando mais precisavas de mim. Era uma das ironias desta relação única: quanto mais precisávamos um do outro, mais longe acabávamos por ficar.

E esta era a primeira passagem de ano que faríamos separados.

As ruas enfeitadas com as iluminações de Natal, dão-me um aconchego caseiro, de cidade que aprendi a amar.

O caminho não é longo, o casaco de peles protege-me do frio.

A diferença é que o percorro só e não te vou ter a reter-me num abraço, enquanto ao comboio dão o sinal de partida. Nem ver-te a correr ao lado do comboio, mão na janela, onde também num gesto infantil, espalmava a minha.

Relembro como o teu rosto se encrespava, para que eu não te adivinhasse a tristeza.

Lembro como forçavas um sorriso para secar as lágrimas que me bailavam nos olhos. Sempre. De todas as vezes que nos despedimos. Tantas vezes, que lhes perdi a conta. Mas guardo o cheiro da Estação, as luzes, o movimento dos carregadores, as bagagens e os olhares discretos, mas curiosos, sobre nós. Porque nos despedíamos, para não termos que nos despedir, num “até já” que me irritava.

Penso-te neste percurso em que me deixas à deriva, neste casaco de peles que me aquece da tua ausência.

Casaco que foi a ultima prenda com que me mimaste, apesar de seres um acérrimo defensor dos direitos dos animais. Mas foste convencido sempre pelo animal que havia em mim.

Entro na Estação. E por momentos sinto-me atordoada, não percebo o que faço ali. Para onde vou.

E tu, onde estás?

-.-.-.-.-.-.-.

V Lisboa

Em Lisboa.
A rua onde me esperaste tantas vezes; tantas quantas as que me atrasava a tentar ficar bonita para ti. E tu a passeares de um lado para o outro, no passeio, numa impaciência difícil de disfarçar . E eu a espreitar-te entre os cortinados da varanda da sala. A espreitar-te e a vestir e a despir peças numa indecisão que nem parecia minha. Acabava por vestir o que vinha à mão, enervada pela tua espera. E tropeçava , na pressa, calçada de um só pé, porque os sapatos nunca combinavam com a roupa escolhida à pressa. Mas quando descia, o teu olhar iluminava o crepúsculo, iluminava-me e nada importava, nem o que eu tinha vestido, nem o tempo que tinhas esperado.

A emoção do primeiro encontro, como se fosse sempre, cada vez mais, a primeira vez...

Subo no elevador (lembro o dia em que o porteiro nos ia apanhando, porque ficámos parados entre andares...) ao apartamento onde ainda permaneces. Em memória e objectos. Pouso a bagagem (sempre excessiva, na tua opinião) e atiro-me para o sofá.

Deito-me, fecho os olhos, para sentir no escuro, o silêncio do vazio cheio de ti.

Ligo o rádio e está a passar uma musica que adoro ("Better in time"). Sorrio ao imaginar o que dirias por eu gostar desta melodia. Tu tão erudito, tão crítico, tão hermeticamente fascinante...

A viagem cansou-me. Abandono-me a esta melodia romântica. Deixo que uma lágrima de saudade me salgue os lábios, nem a tento parar.

A musica agora é da Rita Red Shoes.

Levanto-me tropega desligo o rádio, procuro o último CD que gravaste, um concerto ao vivo, alguns temas originais, outros conhecidos, numa versão que me deixa em extâse.

Toco-me devagar, como que a embalar-me na tua musica, que sei tantas vezes inspirei. E num tributo a ti, acaricio-me, oferecendo-me, dando-me, entregando-me a um prazer solitário, embora te sinta presente, pois adoras observar-me quando me masturbo.

Exploro-me como se fossem teus os dedos ágeis e sôfregos. Primeiro devagar, num aflorar que me faz estremecer, promessas de prazeres antecipados.

Provo-me, sabor agridoce, continuo, a mão espalmada, em movimentos batidos, circulares, depois dois dedos, um dedo, o encontro do ponto que procuro, a outra mão na rigidez dos mamilos, aperto as pernas, retenho a respiração, o corpo distende-se, contorce-se, torna-se rígido, continuo mais depressa, tenho que me segurar, a vertigem é imparável, não há retorno.

Atinjo o orgasmo ao mesmo tempo que grito o teu nome.

E tu, a observares-me deliciado, enquanto tocas piano no CD, uma das sonatas de Wagner, que tentas em vão dar-me a conhecer e a reconhecer.

Relaxo e sinto o sono a tomar conta de mim.

Deixo-me ficar mais um pouco, a gozar este momento de comunhão comigo.

Mais tarde, arrumarei a bagagem.
Mais tarde, regressarei a casa.

(Continua)

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sábado, setembro 19, 2009 - 18:58

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AnaMar

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Comentários

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Re: Recordar o passado em Praga

Uma bonita história sem dúvida alguma. Gostei bastante mas, e se me permites, poderia estar melhor escrita ;-)

Muitas das vezes temos tanta pressa em expressar o que está cá dentro que nos esquecemos do receptor da mensagem, de como ele interpreta as palavras. Quão mais belo elas ficariam se tivessemos um pouco mais de calma ou de lucidez a expressa-las.

Só te estou a dizer isto porque também já cometi esse erro (e ainda cometo algumas vezes), além disso, não seria bonito da minha parte ler e dizer que gostei de tudo só para ficar bem.

Mas como te disse, é uma belíssima história!

Fez-me pensar num sentimento chamado de amor. Fez-me reflectir. Fez-me reconhecer nele em alguns momentos.

Existe sempre um alguém mais especial nas nossas vidas, ou pelo menos, que o foi em determinada etapa da nossa vida. Aquela pessoa que nos conheceu quando pouco ou nada sabiamos e, que nos conhece sempre, porque nunca deixamos de ser essa pessoa completamente. Aquela pessoa que nos deixa com enormes pontos de interrogação dentro da nossa cabeça quando a reencontramos...

Porque terminámos? Porque não fui capaz de ser tão lúcido(a) naquele momento? Como seria se ainda estivessemos juntos?

Mas a vida é isso mesmo, um algomerado de interrogações e de respostar tardias. No fim, resta-nos sempre a nostalgia dos bons momentos, algo que ninguém pode apagar.

Os meus parabéns :-)

imagem de AnaMar

Re: Recordar o passado em Praga

Grata pela tu análise, nunca tinha visto desta forma. mas é verdade que não tenho cuidado na escrita.
Esta história inacabada, nasceu em frases soltas, em que se foi construindo pelos sentimentos.

Como a juntei em capítulos, deve ter perdido alguma conexão, pois nunca a li. Escrevo e não leio. Pois se leio, altero e se altero já é outra coisa.

Embora fazendo todo o sentido ter cuidado, num respeito a quem nos lê, como não considero que escrevo, mas apenas me liberto em palavras, talvez seja um dos meus defeitos...Mas fico muito agradecida pelo reparo e opinião que prezo, pois gostei imenso da tua escrita.

Obrigada!
:-)

imagem de RodriguesPedro

Re: Recordar o passado em Praga

Olá Ana.

Sim, foi o que me pareceu. Quando juntamos coisas podemos sempre cuidar a articulação, esse é, inclusive, um passo importante para quem sabe escrever um livro. No fim de contas, um livro é isso mesmo, um conjunto de várias histórias dentro de outra história.

Eu tbm gostei bastante da tua escrita e tenho a certeza de que os teus contos poderão ser sublimes se tiveres atenção nesse pequeno pormenor. No entanto é apenas uma opinião, uma das humildes :-)

Os meus cumprimentos.

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