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Rousseau e o Romantismo - Parte III - Jean Jacques - Notas biográficas
Jean Jacques era filho de Isaac Rousseau, um relojoeiro que dependia de seu labor para sustentar a família, composta por ele, pela esposa Suzanne Bernard, filha de Pastores religiosos e pelos dois filhos.
Perdeu a mãe logo após ter nascido, pois passados nove dias do parto, Suzanne morreu vitima de infecções. Restou-lhe, além do pai, um irmão mais velho, François e a tia paterna que o criou em conjunto com uma Ama.
Para vários estudiosos, a orfandade deixou-lhe marcas dolorosas e perenes, as quais o faziam procurar a figura materna nas amantes que teve. A convivência com o genitor não era totalmente pacífica e feliz e o mal estar foi agravado quando o pai teve que fugir da cidade após ter agredido um desa-feto em plena rua.
Embora tenha ficado sob os cuidados de um tio materno, Gabriel Bernard – engenheiro militar – que era conhecido pela severidade, mas também pela generosidade, foi uma época difícil para o menino, que já se ressentia de um maior aconchego familiar.
Jean, até então não havia tido nenhum educação formal, regular, e o que aprendera foi graças ao seu interesse pela leitura. Ainda em plena infância já havia lido todos os livros que herdara da mãe e do avô Pastor.
Dessa sorte, o tio Gabriel enviou-o, junto com seu filho, para a localidade de Bossey onde ambos foram educados por um Religioso Protestante e a-prenderam latim e as outras disciplinas que compunham a grade escolar da época.
Após esses estudos iniciais, os meninos voltaram para Genebra e enquanto o primo era encaminhado para estudar as matérias relativas à futura faculdade de engenharia; Jean, então com doze anos de idade, era enviado para servir em um Cartório com vistas a se preparar para futuramente estudar Direito. Porém, ele não gostou do trabalho e devido ao seu desinteresse acabou sendo despedido pelo Notário. Após algum tempo de ociosidade, foi encaminhado para uma oficina de gravações, onde a rudeza do patrão, que o maltratava regularmente, acabou fazendo com que se lhe endurecesse o coração e ele passou a se vingar do mesmo através de pequenos furtos e da cunhagem de medalhas que distribuía aos amigos. Com o modesto salário, comprava livros e com isso dava continuidade à sua autoinstrução.
Quando a adolescência lhe chegou, por volta dos dezesseis anos de idade, gostava de acompanhar os amigos em longos passeios pelos arredores da cidade e numa ocasião o passeio estendeu-se para além do horário normal e ao retornarem encontraram as portas da cidade já fechadas.
Após pernoitar no exterior dos muros e temeroso dos castigos que receberia pelo atraso, ele decidiu fugir e rumou para a localidade de Contignon, na região de Saboia, na França.
Na nova cidade um padre o encaminhou para uma senhora que geralmente abrigava os necessitados. Foi o seu encontro com a Sra. Louise Eleonore de La Tour du Pil, (Mme de Warens após o casamento) que teria um relevante papel em sua vida afetiva e, indiretamente, em sua Filosofia.
Louise havia sido Protestante pietista, mas após separar-se do marido aceitou converter-se ao Catolicismo e praticar a benemerência na localidade Annecy, aos pés dos Alpes, para receber uma pensão paga pela Corte de Amadeus II, duque de Saboia e Rei da Sardenha e de Piemonte (na atual Itália).
A primeira das quatro vezes em que Rousseau e Louise viveram juntos transcorreu sem grandes atropelos. Ela o encaminhou para Turim, crente que lá o jovem seria bem sucedido após estudar e converter-se ao Catolicismo. E, de fato, após instruir-se, ele abjurou o Protestantismo e com o donativo (cerca de vinte francos) que recebeu na cerimônia de abjuração, estabeleceu-se na cidade após encontrar um trabalho que lhe agradava razoavelmente.
Porém, ainda que a vida estivesse correndo agradavelmente, após encontrar-se com um antigo amigo de Genebra, abandonou o trabalho e voltou para Annecy. Assim, a Primavera de 1729, encontrou-o, novamente, na casa de Louise, onde ele a ajudava na farmácia naturalista da mesma e onde dava vazão à sua paixão pela literatura. Também nessa ocasião iniciou os seus estudos de música. Essa rotina durou alguns meses, mas foi interrompida quando ela o enviou para um Seminário católico de onde ele saia apenas nos finais de semana. E dessa maneira passou-se um ano, no qual Rousseau percebeu que estava apaixonado por sua protetora.
Entrementes ela lhe pediu que acompanhasse o Maestro da Catedral em uma viagem a Paris, pois o ancião sofria de epilepsia e demandava cuidados especiais, mas ao contrário do que prometera, ele abandonou o idoso logo na primeira crise que o mesmo sofreu e voltou para a casa de Louise, que, por sua vez, também viajara a Paris para tratar da pensão que lhe era paga por Amadeus II, que acabava de abdicar do trono.
Então, sem nada que o retivesse ali, também partiu para a “Cidade Luz” e nela perambulou por certo tempo, sustentando-se como Professor de música. Dois anos depois, em 1732, decidiu ir para a cidade de Chambéri, ao sul de Annecy, para reencontrar-se com Louise, que para lá se mudara.
Nesse terceiro período de convivência, ela contou-lhe de seus amantes passados e do atual – um botânico – e o iniciou no amor; e como amantes eles ficaram juntos até o ano de 1740, quando ela o empregou em um escritório e, depois, em uma pequena fazenda. Nessa época ele começou a escrever, enquanto continuava com a sua leitura obsessiva.
Todavia, novamente a inquietude de seu espírito não cedeu ao relativo conforto de que desfrutava e ele passou a se sentir incomodado com a sua situação financeira e emocional. E o estresse resultou em um tipo de enfermidade que atualmente seria rotulada como “a síndrome do pânico”. Em busca de tratamento ele decidiu ir até Montpelier, mas uma aventura amorosa no caminho afastou qualquer temor e ele voltou sentindo-se plenamente curado, porém encontrou Louise nos braços de novo amante e a decepção e a tristeza fizeram-no mudar-se para a cidade de Lyon, onde se tornou o tutor das crianças de Jean-Bonet de Mably (irmão mais velho do filósofo Condilac e do escritor político Abade de Mably).
Após algum tempo voltou para Louise, mas, por fim, aceitou que o rompimento entre ambos era definitivo e em 1741 seguiu novamente para Paris levando os esboços da comédia “Narcisse” e de um novo esquema de anotação musical. Dessa vez sua estada seria permanente.
Continua...
Produção e divulgação de Pat Tavares, lettré, l´art et la culture, assessoria de Imprensa e de Comunicação com o Público. Rio de Janeiro, Primavera de 2014.
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