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Schopenhauer e o Idealismo Alemão - Parte II - Uma breve biografia
Cronologia:
1788 – nasce em 22 de Fevereiro, na cidade de Dantzig.
1807 – ingressa no Liceu de Weimar.
1813 – doutora-se pela universidade de Berlim com a tese “A quádrupla raiz do principio da Razão Suficiente”.
1816 – é publicado “Sobre a Visão e as Cores”.
1819 – é publicado “O Mundo como Vontade e Representação”.
1841 – é editado “Os dois Problemas Fundamentais da Ética”.
1842 – é publicado “Parerga e Paralipomena”.
1860 – morre em 22 de Setembro, na cidade de Frankfurt aos 72 anos de idade.
Filho de um comerciante famoso pela competência comercial, pela independência de espírito e pelo mau gênio; e de uma Romancista de razoável sucesso, personalidade difícil e vaidade aflorada.
Schopenhauer teve que abandonar a cidade natal logo aos cinco anos de idade por decisão do pai que não se conformava com a anexação que a Polônia fizera do lugar em 1793. Junto com os genitores, mudou-se para Hamburgo e cresceu em meio aos negócios paternos, os quais, aliás, abandonou tão logo foi possível. Contudo, conservou dos mesmos alguns saberes típicos que posteriormente lhe foram úteis por lhe permitirem administrar a sua pequena herança e com ela levar uma vida confortável, ainda que sem fausto; e certa aspereza no trato social que o fizeram diferente do estereótipo dos intelectuais que geralmente são imaginados como sorumbáticos, melancólicos, introvertidos etc.
Em 1805, segundo algumas versões, seu pai cometeu suicídio e como a sua avó paterna também falecera louca, alguns estudiosos consideram esses dois episódios trágicos como uma das causas de sua adesão ao estilo “Pessimista” que imperava nas Artes e na Cultura da época. Uma aproximação resultante de sua propensão genética. Tese, porém, que outra corrente de eruditos rejeita com veemência.
Contudo, independente da causa, o certo é que a sua personalidade influenciou fortemente a sua Filosofia, tanto no aspecto comportamental, quanto intelectual, pois como ele próprio dizia “se do pai herdou o temperamento difícil, foi da mãe que herdou a intelectualidade aguçada”; qualidade essa que permitiu a mesma romper com certos tabus de sua época como, por exemplo, entregar-se ao amor livre após ter-se enviuvado.
Essa liberdade de pensar e de agir da mãe, todavia, não contava com a simpatia do filho e foi, junto com a vaidade de ambos, o motivo preponderante para o rompimento entre ambos. Se a relação entre eles sempre foi conflituosa, uma discussão mais áspera e uma agressão da parte dela fez com ele se afastasse e não a visse mais nos últimos vinte e cinco anos em que ela viveu.
Esse desamor na infância e na mocidade certamente cobrou-lhe um preço alto e durante o resto da vida ele rejeitou compromissos mais sérios, levando uma vida solitária e amarga, repleta de manias, tiques nervosos, paranoias (como o de que seria assassinado e por isso dormia ao lado de duas pistolas carregadas), obsessão pelo silêncio, pavor de ser degolado pelo barbeiro (sic) e outras estranhas maneiras. E à solidão, à amargura, juntou-se a frustração por não ver a sua autoproclamada genialidade ser reconhecida.
Esse conjunto de fatores negativos levou-o a interiorizar-se cada vez mais, fazendo-o egocêntrico ao extremo e distanciando-o dos assuntos de seu tempo de forma quase absoluta. Ele sempre fugiu de qualquer comprometimento nacionalista, fosse de caráter político ou bélico, sendo que numa das raras exceções que abriu, em 1813, deixou-se influenciar pela arenga patriótica de Fichte que propunha uma guerra de libertação contra Napoleão, mas o seu entusiasmo pouco durou e ele mudou-se para a zona rural alegando que “afinal, o Corso limitava-se a dar uma vazão concentrada e desimpedida àquela confiança em si mesmo e àquela ânsia de viver”. Deste episodio, posteriormente, ele pinçou essa observação sobre o conquistador francês, citando-o como um dos mais claros exemplos da “Vontade”, enquanto a real essência da vida.
Para muitos críticos, a tese que ele escreveu durante essa temporada no campo, “a quádrupla raiz da razão suficiente”, não prima pela originalidade, sendo, a rigor, apenas uma versão da Lei de Causa e Efeito, onde:
1) Lógica – como a determinação de conclusão a base de premissas.
2) Física – com a determinação do efeito pela causa.
3) Matemática – como a determinação da estrutura pelas Leis da Matemática e da Mecânica.
4) Moral – como a determinação da conduta pelo caráter.
E como as críticas não se esgotaram nessa obra, logo os ataques se voltaram contra “O Mundo como Vontade e Representação”, que além das censuras, nada mais recebeu, sendo relegado ao completo ostracismo, apesar dos autoelogios que Schopenhauer nunca deixou de se fazer, acreditando piamente que a sua genialidade só seria entendida pelos homens do futuro, por estar muito além das mentes “boçais” de seu tempo. Considerações que podem parecer arrogantes, mas que se mostraram verdadeiras, pois o aplauso que tanto custou a lhe chegar é farto na atualidade, apesar das críticas que ainda enfrenta, como a que lhe fazem aqueles que afirmam que a sua obra posterior ao “O Mundo como Vontade e Representação” não passa de uma justificação e de uma apologia da mesma.
E o fracasso na carreira literária repetiu-se na carreira acadêmica. Após o rompimento com a mãe, ele deixou Weimar com a viva esperança de ser convidado para lecionar em uma das grandes universidades, mas esse convite só surgiu em 1822 quando ele foi chamado a ser “Privat Docent” na universidade de Berlim.
Porém, ele decidiu com certa arrogância que as suas aulas seriam nos mesmos dias e horários que as de Hegel, o grande nome do momento. Confiava plenamente em desbancar o grande ídolo, mas o seu sonho só durou até ele ver que lecionava para uma sala vazia, pois as suas aulas despertaram a mesma indiferença que os seus livros. Restou-lhe, então, demitir-se e reverberar suas criticas e até ofensas ao seu concorrente.
Dessa sorte, mal sucedido em ambas as tentativas, ele se valeu da herança que o pai lhe deixou para levar uma vida de estudos e de novas produções literárias, as quais, em certo momento começaram a ser reconhecidas e aplaudidas pelos leigos, que viam em seu ideário o avesso do indecifrável conteúdo abstrato que outros Filósofos ofereciam.
Ao contrário dos mesmos, ele ofertava aos advogados, aos comerciantes, aos artistas e a outros membros da classe média uma gama de assuntos diretamente relacionados com a vida prática, concreta; e essa população desiludida com a Metafísica abstrata e distante de suas penúrias presentes aderiu em massa àquele sistema que lhe parecia inovador.
Então, enfim, a fama consagradora chegou ao filosofo que apesar de seus sessenta anos de idade não teve o menor pudor em demonstrar o gozo que experimentava pelo reconhecimento que lhe era prestado.
E foi nesse êxtase que ele viveu até que na manhã de 21 de setembro de 1860 a sua senhoria encontrou-o morto à mesa do desjejum, na pensão onde morou por mais de trinta anos na companhia de apenas o seu cão de estimação, a quem dera o nome de “Mundo”.
Produção e divulgação de Pri Guilhen, lettre, l´art et la culture, no Rio de Janeiro, em Junho de 2014.
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