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SEGREDO - 3

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(continuação)

 

Comecei a cansar-me da posição de reclinado apoio sobre os cotovelos e também o reverberar do Sol em redor do barquito deu em perturbar-me porque a cada momento vagas maiores pareciam ameaçar engoli-lo definitivamente. Por isso girei sobre mim e estendi-me mais uma vez de barriga na areia. Ela percebeu que eu me voltara e quando rodou a cabeça para ver-me já eu fechara os olhos, pelo que não lhe permiti desfrutar aquele íntimo sorriso que se apoderara de mim.

Talvez o Sol... Não, o Sol, e o azul portentoso do céu, também eram parte no nosso comportamento mais e mais irrequieto, mas a principal responsabilidade cabia aos nossos instintos. Foi isto que conclui quando quase logo a seguir lhe escutei uma sonora gargalhada e por entre uma solerte ranhura nos meus cílios a vi mover os braços mansamente a fazerem deslizar-lhe para os pés a cueca do biquíni. Vitória! Ah, se ela pudesse notar o meu íntimo sorriso... Para quê? O Sol fez-te mal. – Relutei eu, silenciosamente. – Ora achas que podes, e queres, ora resolves que não podes, e não queres. Em que ficarás? Suspirei, e esforcei-me por não pensar em nada. Tentei escutar os pios das gaivotas, o som cavo, misterioso e brutal do mar, a rebentação das ondas contra as rochas da costa, até o sussurro da respiração da Patrícia ou o imaginário bater do seu coração, e conseguir diferençar os cheiros: o poeirento da areia, o marisqueiro das algas, o salgado da água, e sim, o leitoso da pele da Patrícia e o odor extravagante do seu cabelo doirado, encara coladito e ralo entre as pernas, esfarripado e basto na cabeça, mas tudo pêlo doirado. Parcas escusas, para nada, pois por fim uma ideia já nada abstrusa, isto é, claramente racional, cruzou-me o pensamento: E se me ocupasse simplesmente a viver com intensidade cada segundo que os Deuses me estão a oferecer aqui e agora nesta deliciosa manhã de lazer? Seja! – respondi-me então, aliviado e auto-perdoado.

Provavelmente aquele suspiro ainda indeciso actuou como baque de fascinante tantan no espírito amodorrado da Patrícia, porque terá compreendido que eu tomara privilegiada posição para a admirar, sentando-me a seu lado e sem rebuço comprazendo a minha alma, e aceitou sem reacção enfadada a minha atitude. Preferi não tirar a limpo este raciocínio, e ela, sempre de olhos fechados, foi-se oferecendo à blandícia do Sol e à dos meus olhos, alternando a cada passo a exposição da sua inteira nudez, como na esperança de bem se bronzear, ou na certeza de que eu a queria mas... Até que ali já não era eu, mas o meu profundo devaneio, e era já uma e meia da tarde, e ela terá assente que talvez bastasse de tontura e então abriu os olhos e, encarando a dita minha masculinidade ousadamente em riste sob a mistura de quadrados azuis e castanhos do tecido dos calções, me brindou com um trejeito de amorosa censura e, risonha como uma das virgens do Paraíso, se levantou e me tomou a mão e em gingada correria me levou com ela para o mar, o que eu achei bem, talvez lá eu serenasse enfim. Enganei-me. A Patrícia já antes descobrira que, de momento, na água seria o único lugar onde sem despertar atenções de maior poderíamos iniciar o nosso folguedo pré-nupcial.

Eu estava inocente e tolhido do raciocínio, já se vê, pois só dentro de água, e de modo algum apaziguada, bem pelo contrário, a minha incontornável demanda sexual, é que dei fé da incongruência da situação: a Patrícia, nua e fulgurante, abraçada a mim, e eu ainda de calções vestidos! Na travessura da nossa folia aquática, desenvencilhar-me deles não foi fácil, mas lá me desembaracei e eles por lá ficaram, ou melhor, simbolicamente, e sob efusivo aplauso da Patrícia, deixei-os ir com a maré.

Em incontida alegria, brincámos e amamo-nos, mas não por muito tempo, que descuidando-nos seriamos vistos em flagrante delito que nem um nem outro em sete anos havíamos praticado ou favorecido circunstâncias para tal. Mal trocávamos palavra. Os nossos gestos ou os nossos olhares, tão em harmonia de sentidos e de vontades, bastaram-nos. A única frase mais articulada de que ainda me recordo foi a meiga reprimenda com que ela antecedeu o nosso primeiro beijo: “– Por que não vieste logo, quando te pedi há bocado!”

Depressa nos transferimos, enrolados nas toalhas e apesar de tudo discretamente, para o quarto dela onde então sofregamente consumamos as nossas núpcias por anos adiadas.

Anos desperdiçados, por inexplicável indiferença; abençoadamente continuarão a existir as reuniões da força de vendas.

Como uso dizer, pragmaticamente, quando temos um problema nada ganhamos em adiar a sua resolução.

A TEMPO: Sobre este acontecimento apenas decorreu uma semana mas entretanto, por iniciativa da Patrícia, já contraí uma nova amizade, o marido dela, o Nando, a quem, por sinal, acabei de telefonar parabenizando-o pela bonançosa novidade que a sua esposa me trouxe hoje: engravidou e em princípio vem aí uma loirita, como a mamã.

 

*  *  *  *  *

 

A ler depois do meu passamento

 


Eu sou a Patrícia. Como dizem os meus colegas de trabalho, aquela loira trintona, eficiente, que há vários anos consegue manter-se no top dos cinco melhores elementos da força de vendas, cumprindo sempre com excelência os objectivos trimestrais que lhe são atribuídos. Isto é um elogio, obviamente, que me agrada tanto como saber que também sou conhecida por aquela jóia de rapariga, sociável e camarada, a quem não se conhece uma única inimizade na empresa. Ou, em dois casos especiais, por “aquela adorável gata ruça com quem eu até casaria se ela desse valor a uma relação estável melhor do que a que mantém com o pachola do marido que tem.” Mas acreditem que eu não sou nem trabalhadora compulsiva nem assim tão boazinha nem volúvel, dêem aos conceitos os significados que derem.

Acabo de comunicar ao novo Director-Adjunto uma notícia que o deixou radiante: engravidei e vem aí uma menina, adivinho. Estou feliz e tenho a consciência de que a minha vida irá levar uma grande mudança. Soube-o por intuição desde o fim-de-semana passado, mas, como só ontem depois de confirmar por teste informei o Nando, o meu querido marido, fui-me contendo sem deixar transparecer a minha alegria, nem mesmo ante o Maurício.

Quem é o Maurício? É o tal Director-Adjunto e, como vão saber, o meu último amante. Ele é também o motivo por que eu estou a escrever esta espécie de Testamento de Amor. Vou ver se consigo evitar termos algo excessivos como este, que vem do pendor romântico que pouca gente me atribui porque as mais das vezes eu o dissimulo. O que vai aqui, precisa de ser dito. Tudo visto, é uma homenagem aos dois, ao Nando e ao Maurício. Acabam ambos de me assegurar a felicidade, melhor exprimindo, um e o outro recuperaram-me a ambição e o prazer de viver. Serei feliz, coisa que qualquer deles muito me deseja. Que sejam pois felizes por eu o ser.

 

(Continua)

Qualquer coincidência entre a realidade
e os factos ou personagens deste obra é,
precisamente, coincidência ficcional.

Escrito de acordo com a Antiga Ortografia.

 

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terça-feira, maio 21, 2013 - 09:19

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