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SEGREDO - Conclusão

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(Conclusão)

 

Se eu não conhecesse alguma coisa sobre o Maurício, quase tudo por interpostos colegas, ficaria com a impressão de que ele era bastante ingénuo e pouco experiente em matéria de mulheres, que o seu comportamento comigo, não adivinhasse eu que ele estava secretamente seduzido a meu contento, continuou a pecar por muito recato. Sei que ele é casado e tem dois filhotes já cresciditos, vivendo calmamente o seu ramerrão conjugal, mas nunca escutei grandes zunzuns acerca de aventuras amorosas suas, que eu por acaso sei que houve. Por isso não era inexperiência o que o acanhava; num relâmpago concluí que a minha inopinada familiaridade estaria a revelar-se tão inesperada que o Maurício temesse interpretá-la mal. Tanto melhor. Assim teria eu mais o prazer de, feita a conquista, a que ele não teria condições de eximir-se, oferecer-lhe também a minha rendição. Também é certo que a minha intenção não era a de entrar na vida do Maurício e apropriar-me dele.

Mas pudesse eu ali sem escândalo público agarrar-me a ele aos beijos, para retribuir-lhe a admiração e depois a tentação que lhe li no olhar quando verdadeiramente deu fé de que eu usava um biquíni muito pequenino, e logo não me mostraria avara. Para mim, não acho que seja a pouca ou nenhuma ou muita roupa com que me cubro ou descubro o que me torna atraente, mas a atitude com que estou seja onde for. E esse porte, que é espontâneo e provem do meu íntimo, não costuma dar margem para atrevimentos de quem me observa. Depois que convenci o Nando a praticarmos nudismo, onde o pudor não é adequado nem permitido, e o que não foi tão delicado de conseguir como estava a prever, julgo que por ele possuir uma figura atlética e a sua vaidade ter sido preponderante, senti que tinha acedido a uma afirmação de personalidade a que nesta terrinha ainda poucas mulheres dão valor. De modo que os meus biquínis são mais bandeiras da minha liberdade do que realces da minha lindeza e amadurecida feminilidade. Mas que digo eu! Naquele momento, tão pequenos bocados de pano presos por pedaços sedosos de cordão, transformaram-se em conveniente instrumento de fascinação. Permitam-me que diga que às vezes os homens são muito tolinhos. Estava eu ali praticamente nua, e ele a apreciar-me o biquíni!

Bem, os atalhos da sedução são imaginosos – decerto estará agora o Maurício a recordar-se com ternura – e não tardou que, como se nos quiséssemos assemelhar a dois inocentes garotos, íntimos e de fáceis diabruras, quase logo, de pernas traçadas, sola contra sola, os nossos dedos dos pés entraram num amoramento indisfarçável, enquanto eu, olhar ao longe, o aticei sem piedade, até que, de relance notando-lhe sob os calções de banho a acentuada premência da sua virilidade, quis prolongar o enleio em sítio de mais segura discrição, saltei para a areia e fui deitar-me mais adiante no sítio molhado pela maré a vazar, sugerindo-lhe promissoramente que se me juntasse lá.

Pobre Maurício! Terá pensado que eu lhe fugia, ou ficou a dar-se tempo para arrefecer a sua excitação. E quando foi estender-se ao meu lado já me encontrou de bruços sobre a toalha, e viu-me dar-lhe as costas e aninhar a cabeça sob um braço – para esconder dele o meu sorriso de contentamento e o brilho de prazer que os meus olhos não saberiam ocultar – a pretender que nada mais queria do que bronzear-me, morta de preguiça e gozando tão deliciosa manhã de praia. Estive assim por um bocado à espera de uma reacção dele, aflita para controlar a respiração de maneira a parecer calma e profunda, talvez fazendo-me rogada, no sentido de que ele já dispunha de bons indícios de que esta nova Patrícia aceitaria e favoreceria agora o enlaçamento afectivo que por muito tempo a outra trouxera suspenso por mútuo temor da timidez dele, e esperava agora serenamente que ele assumisse o seu papel de ingénito predador e conduzisse o ritual da nossa inevitável união.

Equívoco meu. O Maurício estava tão ensimesmado, ou pasmado pelos encandeantes reflexos do mar, que já nem o meu biquíni atraía o seu entusiasmo. Então aguçou-se-me o espírito e prometi-me arrebatá-lo eu sem mais titubeação. E furtivamente desenlacei nas costas o cordãozito do sutiã do biquíni deixando a peça soltar-se e o peito despontar sob o ângulo do braço em que apoiava a cabeça. Esperei mais um bocado por um propósito do Maurício e, desconfiando da sua fleuma, soergui-me a perscrutar o que veria ele de tão curioso no mar para não ter olhos para mim. Ah, nem se via sequer o barquito de pesca que andara a boiar nas vagas muito longe, mas impante sob os calções vi-lhe eu novamente assanhada a sua virilidade, e pesarosa ainda divisei alguns colegas nossos na Esplanada.

Momento asado? Corri para a água, chamando-o – Anda! Está óptima. Anda, vem! – disposta a tudo, pronta a saciar o muito desejo que nos consumia e que o Sol mais acicatava. Pois sim! O Maurício quedou-se onde estava, indiferente ao meu apelo, alheio até, pois se virou de barriga para baixo não mais ligando ao meu alvoroço. Por largos minutos fiquei na água, refrescando-me, espantando o meu desconsolo e cogitando que os homens nunca sabem o que queremos, nós mulheres desejadas que quando lhes cedemos precisamos de levar longe de mais a nossa capitulação sob risco de os humilharmos por incapacidade de ebriamente nos submeterem...

O Maurício esteve a dormitar, porque quando saí da água e me aproximei ele despertou sobressaltado e me concedeu um olhar aflitivo, diria que constrangido entre a vontade de mirar a minha quase nudez e o receio de parecer abusivo ou provinciano porque top less já eu fizera em anteriores retiros e pois não seria agora novidade nem meu particular exibicionismo. Nesse momento por mim já desistira de o namorar, embora com sinceridade não soubesse se definitivamente. Desapontada, cuidando de não respingar água para cima dele, enxuguei um pouco o cabelo e voltei a deitar-me ao Sol, de bruços, agora com intenção de dormitar eu.

Estás passada. Já não tens sedução que valha para submeteres o futuro Director-Adjunto, dizia-me eu com sarcástica ironia quando fui atingida em cheio na minha complacência por este primor de desafio: – Se tirasses também a parte de baixo, secavas mais depressa... – E não pude se não olhar o Maurício de esguelha e dar de ombros como que a dizer: – Pois... Só conversa!

A nenhuma subtileza daquele dizer dele e a frieza da minha consequente réplica fizeram-me voltar atrás nas minhas intenções. Eu queria-o, e isso sabia-o desde aquele instante no Bar quando ele desajeitadamente se levantara e saíra de ao pé de mim. Então, deveria ir até ao fim da sedução. E ainda me restavam mais alguns recursos para, sem perder a face, lhe afastar aquela raça de timidez que ainda o inibia.

Soltou-se-me uma gargalhada e o meu passo seguinte foi a singela aquiescência à exortação que ele formulara. Como se ali estivesse sozinha, com a maior naturalidade e sem espavento, mesmo deitada na areia fiz deslizar para os pés a cueca do meu biquíni.

Estava ligeiramente de costas para ele mas foi fácil aperceber-me que ele estava inquieto e por duas ou três vezes mudou de posição, ora de barriga para baixo e rosto escondido sob os braços, como querendo esquecer a minha provocação, ora de papo para o ar, não querendo resistir ao subentendido chamamento do meu corpo. Por fim, com um suspiro, sentou-se e eu arrepiei-me com a volúpia do olhar dele a acariciar-me, definitivamente rendido, virilidade petulante e confessada pelos calções de desengraçado padrão aos quadrados azuis e castanhos.

Já nada mais me deteve. Levantei-me, consciente de que aos seus olhos eu resplandecia como Eva no Paraíso, sorri-lhe uma censura de amor por tanto desejo e tanta irresolução e dando-lhe a mão levei-o correndo para o mar, onde a coberto de olhares indiscretos poderia recebê-lo exultante na minha ansiedade de amor.

Acabámos no meu quarto, naturalmente.

Nunca deixara um homem possuir-me tão sem limites, pertencendo-lhe por puro e acendrado amor e luxúria, como se me desconhecesse a mim própria e ele também fosse apenas um estranho, escolhido pela providência dos deuses para me enfeitiçar e em mim, a mulher dos cabelos doirados, como me alcunhou, exercer os seus divinos poderes de alegria e de vida.

Sim, estou grávida. O Maurício ainda não sabe que para mim não vai haver mais seminários de Marketing. Não mais voltarei a fazer amor assim tão loucamente. Decidi deixar a empresa. De qualquer modo, a sua enfadonha esposa poderia estar tranquila que eu não lhe queria o marido. Mas é ele o pai da minha filha, segredo que vai comigo para o túmulo. Esta Quarta-feira que passou, o Nando fez anos. Proporcionei-lhe uma boa surpresa, uma comemoração de aniversário apaixonada como noutros tempos... agora está radiante com a Patrícia futura mamã. Finalmente estou completamente feliz...
 

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NOTA FINAL:

Como o autor teve conhecimento deste segredo? Há uma vintena de anos foi-lhe contado, comovidamente, numa melancólica noite de copos e Blues, pela filha da Patrícia de cabelos doirados a quem por amor de mãe não foi legada a ignorância da realidade. Até porque, quer Maurício quer Nando já haviam falecido acidentalmente. Mas o segredo mantém-se em anonimato, que o autor é leal e respeita as confidências que lhe são feitas. 
 

 

Qualquer coincidência entre a realidade
e os factos ou personagens deste obra é,
precisamente, coincidência ficcional.

Escrito de acordo com a Antiga Ortografia.

 

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terça-feira, maio 28, 2013 - 14:43

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Nuno Lago

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