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Tempo
Tento arrancar de mim as palavras, que a força do silêncio teima em segurar.
Palavras que falem de mim sem que te digam.
Palavras que falem do tempo, esse que acalma a dor da ausência, mas não cala a ausência nos sentidos.
Palavras que falem do espaço, essa pequena imensidão que me separa dos teus poros.
As palavras, agitam-se no meu pensamento, ao ritmo das batidas céleres do fluxo da vida, pela força de te pensar com este querer de te sentir.
E na força da tua ausência, essa que tem a mesma intensidade do toque e da forma, que o teu ser exerceu sobre o meu, no repente em que nos inventamos com um só, Existes em mim, como uma tatuagem invisível impregnada sob a pele, que esse momento deixou como herança de nós em nós.
Hoje espero-te.
Espero-te em cada palavra largada ao vento, que me chega trazida pela brisa,
Espero-te em cada esquina do tempo, que no seu dobrar me traga o teu vislumbre,
Espero-te em cada levantar do lençol, em cada virar de cabeça, em cada sorriso sedento dos teus lábios.
Espero-te em cada som, em cada odor, em cada toque nos meus braços que hoje abraçam o nada.
Espero-te, assim como espero um sinal teu, que cada vez mais pareço sentir que não vem.
Mas a espera não desvanece,
E o meu sentir-te não esmorece…
E chamo a mim as palavras para a formação de frases novas, que quero sentidas ao longo do branco das folhas em que te sinto e te escrevo, espelhando-te nas curvas de cada letra que dando no seu fim início à próxima, me levam numa corrida de palavra em palavra em busca de ti, deixando-me ofegante, até ao fôlego do suspiro de uma vírgula ou término de um ponto.
E tu… tu estás presente em tudo, pois tu existes em tudo o que é de mim.
E assim, ficas tão por dentro de mim, que eu quase te sinto e quase te toco e fico assim a beijar em pensamento, esse teus lábios, pequenas fontes de calor húmidas, que me trazem o acelerar dos sentidos e a guerra à paz dos sentires, no calor do teu peito junto ao meu.
A música ecoa, mas não é a melodia dela que ouço. O que ecoa em mim, é o teu respirar, forte, profundo, o teu grito solto do fundo de ti, quando juntos, nos dávamos ao som destas mesmas músicas, balançávamos os corpos ao ritmo destas mesmas melodias e líamo-nos um ao outro, no fundo dos olhos de cada um de nós, a cada compasso, em profunda partilha de alma, em profunda partilha de Ser.
O tempo é contagioso e retém de nós os momentos que não estando juntos, ficam desperdiçados para proveito de ninguém.
O tempo é contagioso e leva-nos os sentimentos para auras do pensar em auroras de sentir.
O tempo é contagioso e leva-te a ti, de mim. Leva-me os teus momentos, leva-me os teus sorrisos, leva-me os teus olhares, leva-me o tudo e o tanto de ti, que por não te ter perto de mim, deles fico despido.
O tempo é contagioso, mas o tempo… o tempo não consegue apagar o tudo que vivemos, nem as saudades que eu tenho de ti e de tudo aquilo que contigo ainda não vivi.
O tempo é contagioso, mas o tempo…
Esse mesmo tempo,
Um dia,
Será para sempre…
…o “nosso tempo”!
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Comentários
Re: Tempo
Texto bem escrito, bem enquadrado no tema!
:-)