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Um Mestre
Paulo Monteiro
Elvo Clemente ou Ir. Elvo Clemente ou Antonio Silvestre Mottin, seu nome civil, é um intelectual gaúcho nascido na Itália a 30 de outubro de 1921. Há longos anos doutor e professor de letras, seu destaque literário deve-se, no fundamental, aos trabalhos de historiador, ensaísta e cronista.
Nos últimos tempos li dois de seus livros, ambos da EDIPUCRS, “Folhas do meu Caminho” (2003) e “Quando a Crônica floresce” (2005). O primeiro reúne quinze ensaios; o segundo enfeixa cento e tantas crônicas.
O ensaísta ou articulista, em sendo fiel ao subtítulo do volume – “150 anos de Lobo da Costa e outros artigos” -, dá plena importância à temática literária.
Do inditoso romântico pelotense transita por outros escritores gaúchos como Alceu Wamosy, Simões Lopes Neto, Erico Verissimo, Paulo Corrêa Lopes, Aureliano de Figueiredo Pinto, Raul Bopp, Patrícia Bins e Mário Quintana. Autores de Portugal e África também merecem sua atenção.
Múltiplas leituras, gêneros literários variados merecem a análise de Elvo Clemente. Os autores mesmos e seus comentadores são dissecados pelo ensaísta que vai deixando seu caminho marcado com as folhas lidas e relidas.
Fiel aos princípios da ordem religiosa a que pertence é, em tudo o que escreve, um educador e como educador, um mestre. Mestre o é, ainda, num gênero exigente, a crônica. E dá lições até mesmo ao lembrar que a palavra crônica é, em etimologia, ligada a Kronos, deus grego do tempo.
Segundo alguns elevada a gênero literário por Machado de Assis, a crônica apresenta-se passageira, efêmera. Nada mais enganoso. É nos velhos cronistas que encontramos o spiritus das épocas pretéritas. E nos cronistas contemporâneos continuará o sopro vivificante dos anos que correm.
“Erico Verissimo e a Crítica Literária Brasileira”(Folhas..., pp. 93 a 103) é uma síntese feliz do quanto a obra romancista gaúcha é discriminada por uns e reconhecida por outros. Avesso à captura da ficção pela política, Erico foi sempre um contador de histórias. Assim, pela direita e pela esquerda, a crítica literária (ou seria melhor dizê-lo pretensa crítica literária?) assestou sobre ele todas as armas destrutivas que se carregue com juízos de valor. Certo é que a obra do criador de Ana Terra está mais firme do que um cambará.
Os elogios distribuídos generosamente entre os contemporâneos de Erico postados num flanco ou noutro da chamada vida literária, como esses contemporâneos, marcham para o esquecimento. Lembram-se deles apenas os eruditos, tendo à frente e os interessados na Sociologia da Literatura. Salvam-se um Gracilaino Ramos, um José Lins do Rego, um Mário Palmério e uns poucos mais.
Documentos de uma época em si, enquanto textos para si, os livros de Elvo Clemente ficarão como retratos vivos de nosso tempo e da inteligência hodierna. Escritor culto, seus textos transpiram ensinamentos por todas as letras.
O autor de “Folhas do Caminho” e “Quando a Crônica floresce” mostra à saciedade que só escreve bem aquele que tem pleno domínio do assunto. Mais do que doutor, um escritor culto precisa ser douto. Só assim será um Mestre, da escrita e no que escreve. E Elvo Clemente é tudo isso.
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