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Uma última palavra

Tudo acabou como o mar que destrói o castelo de areia. Sim! Uma criança inocente o construiu, com toda ingenuidade e pureza que possa existir, com amor e estima. Foi fazendo cada detalhe, e o mar em momento de fúria não se conteve em estragar tudo. Culpa-se o mar pela fúria, falta de compaixão ou a criança inocente que ainda constrói castelos de areia?
Fácil encontrar culpado em meio aos dissabores da vida. Difícil é assumir a culpa, é pedir perdão, é se colocar no lugar do outro. É com o coração apertado que decido não mais construir castelos na areia, estou crescendo e sei qual o final dele. Vou embora construir casas firmes, onde o lobo mau não derrube com assopros. Ficarão guardados na memória todos os deliciosos momentos ao sol, quando sentava e me divertia na areia, me sentindo realizado com a nova criação. Fica também a frustração de em algum momento perder tudo aquilo que projetei com tanto esmero, alegria e confiança.
É com muita dor no peito, que dou adeus ao sol, a areia, aos brinquedos e principalmente a você castelo, e a você mar. Você que também fazia parte do meu castelo, a piscina que me refrescava, outrora me fazia bem outrora me fazia mal.
Adultos não fazem mais castelinhos na areia! Poderias tu mar me considerar em algum momento? Poderias tu compartilhar da minha alegria, ou poderias tu sentir o desespero do meu coração ao ver as ruínas de minha obra de arte? Ou, ainda poderias tu compadecestes dos meus esforços?
Bravo mar, gigante mar, genioso mar, contigo aprendi muitas lições, e vou levar para aonde eu for, onde estiverem minhas próximas construções. Perigoso mar, ainda não conseguir desvendar seus mistérios, não entendo seus critérios, és vulgar, és de todos, és tolo! Maior que tu és o universo.
Ah! Traiçoeiro mar, quem se aventurará por suas águas belas e astutas ondas? Quem se enganará com sua calma no domingo de manhã e surpreendido com sua revolta logo mais à noite? Quem confiará dormir em suas águas que a todos refrescam?
Saibas mar, ainda que a todos banhe, uma hora precisarás de conforto em um só lugar, precisarás desaguar, e chorar e confiar. E só em um lugar poderás fazer isso, então sentirás falta do rio. Sim, aquele corpo d”água infinitamente menor que você, mas doce, que ameniza suas salgadas águas. Aquele corpo menosprezado por sua grandeza, traído por seu egoísmo, e por sua insaciável vontade de ser por todos adorado, e amado e usado.
Apago-te da minha vida, sem lembrar do refrigério de suas águas, sem o teu sal colado em meu corpo, sem o caldos que me destes de surpresa, sem os choros dos castelos derribados. Descanse em outro leito mar!
Despeço-me de ti, com sentimentos diversos, mas com esperanças de ter aprendido a lição dos castelos de areia, e assim, construir um novo amor em bases sólidas.

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terça-feira, julho 5, 2011 - 01:51

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