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Vida moderna
Seguramos com toda a força todos os sentimentos entre os dedos como se fosse possível segurar o tempo. Mas eles fogem, se transmutam, deslizam, se movem em um mar de viéses imponderáveis que se perdem em alguma imagem fractal em profícua vertente inexorável de possibilidades infinitas. E assim a análise mata o sonho, a essência se perde em prol da existência, o afeto se hierarquiza em função da sobrevivência, e organizamos, categorizamos, dissecamos, matamos... O afeto, como um feto indesejado advindo de um estupro do "estatus quo", depois o resto da vida ficamos chorando pela culpa de nunca ter visto o rosto deste filho indesejado, que nunca deixamos respirar. Então nos submetemos para sobreviver, nos matamos enquanto vivos, vivemos esperando a morte chegar, moribundos, enfarados de conveniência útil e fútil ,inútil na essência do real viver. Enquanto o mais simples, simplesmente, seria apenas soltar o coração do peito e amar sem preconceitos e regras e conveniências e convenções, sem projetos e projeções, viver com o essencial sem o enfaro do supérfluo que aprisiona e escraviza, que oprime os menos afortunados e esvazia o sentido dos mais afortunados, gerando este imenso vazio que permeia o mundo abjeto que vemos todos os dias no telejornal, entre um e outro comercial de algo que não nos faz falta.
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