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A Estrada e o Violeiro (Sidney Miller & Nara Leão)
Sou violeiro caminhando só,
por uma estrada caminhando só
Sou uma estrada procurando só
levar o povo pra cidade só
Parece um cordão sem ponta,
pelo chão desenrolado
Rasgando tudo que encontra,
a terra de lado a lado
Estrada de Sul a Norte,
eu que passo, penso e peço
Notícias de toda sorte,
de dias que eu não alcanço
De noites que eu desconheço,
de amor, de vida e de morte
Eu que já corri o mundo
cavalgando a terra nua
Tenho o peito mais profundo
e a visão maior que a sua
Muita coisa tenho visto
nos lugares onde eu passo
Mas cantando agora insisto
neste aviso que ora faço
Não existe um só compasso
pra contar o que eu assisto
Trago comigo uma viola só,
para dizer uma palavra só
Para cantar o meu caminho só,
porque sozinho vou à pé e pó
Guarde sempre na lembrança
que esta estrada não é sua
Sua vista pouco alcança,
mas a terra continua
Segue em frente, violeiro,
que eu lhe dou a garantia
De que alguém passou primeiro
na procura da alegria
Pois quem anda noite e dia
sempre encontra um companheiro
Minha estrada, meu caminho,
me responda de repente
Se eu aqui não vou sozinho,
quem vai lá na minha frente?
Tanta gente, tão ligeira,
que eu até perdi a conta
Mas lhe afirmo, violeiro,
fora a dor que a dor não conta
Fora a morte quando encontra,
vai na frente um povo inteiro
Sou uma estrada procurando só
levar o povo pra cidade só
Se meu destino é ter um rumo só,
choro em meu pranto é pau, é pedra, é pó
Se esse rumo assim foi feito,
sem aprumo e sem destino
Saio fora desse leito, desafio e desafino
Mudo a sorte do meu canto,
mudo o Norte dessa estrada
Em meu povo não há santo,
não há força, não há forte
Não há morte, não há nada
que me faça sofrer tanto
Vai, violeiro, me leva pra outro lugar
Eu também quero um dia poder levar
Toda gente que virá
Caminhando, procurando
Na certeza de encontrar.
Sidney Miller, grande músico e compositor brasileiro (1945-1980), morreu precocemente de forma trágica, deixando uma bela obra. Participou de diversos festivais de música naquela década, classificando algumas canções e obtendo prêmio de melhor letra em 1967, no festival da Record, com "A Estrada e o Violeiro", com esta música que foi interpretada pela inesquecível Nara Leão e pelo próprio. Quando morreu, trabalhava na Funarte RJ, no departamento de projetos especiais. A sala em que trabalhava ganhou o seu nome.
Esta é uma das canções que mais marcou os meus tempos de estudante.
Veja este vídeo no Youtube, da célebre apresentação em dueto no Festival de Música da Record.
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