Entrevista do mês de Novembro de 2009:Conchinha

Recentemente saiu o teu primeiro livro de Poesia "sabes?". Como descreverias o caminho que percorreste até agora?

Bem, diria que foi um caminho de entrega pessoal. O trabalho, quando nos entregamos a algo, sai muito naturalmente.
O meio que permitiu que isto acontecesse foi o WAF. Sim, é verdade, só havia escrito uma dezena de poemas antes de aparecer por aqui. Fui trabalhando sempre, desde que aqui entrei, mas devo muito a este espaço. A troca de idéias, as críticas/comentários/avaliação, as leituras e a amizade que sempre aqui encontrei, permitiram-me evoluir num período muito curto de tempo.

Foste eleito o "Ministro da Poesia 2009". O que sentes perante este "cargo"?

Na continuação do que dizia, sinto-me uma materialização do que julgo ser um objectivo (o sonho, talvez) do Ex-Ricardo, com a criação e manutenção deste espaço - poesia acessível a todos.
Normalmente sinto a obrigação de fazer saber que assim foi comigo. Trabalhar e aprender com os outros. Aliás, a melhor parte a "extrair" ao outro é o seu melhor. A melhor forma de o mostrar é continuar por aqui, lendo, escrevendo, apreciando os amigos que fiz e estando receptivo ao que possa aparecer - cada novo membro é uma oportunidade para todos.
Sinto-me muito contente por ter sido escolhido. Não costumo ganhar prémios e, sem querer estabelecer hierarquias, posso dizer que o momento em que o soube ficará gravado em mim para sempre.

Quais são as tuas influências literárias?

Fui uma criança de Abril. Nasci em 1971 e durante muito tempo a forma de arte com que eu mais me relacionava era a música. Posso até dizer que foi a minha mulher que me trouxe o hábito da leitura. As palavras entravam em mim sob a forma de letras de músicas que eu ouvia e cantarolava, mais tarde tocando guitarra e cantando em serões familiares. Gostava muito de ouvir o Zeca Afonso, José Mário Branco, Vitorino, Janita Salomé, o Sérgio Godinho e os poemas do Ary dos Santos cantados por exemplo pelo Carlos do Carmo. Já crescido ainda fui descobrir o Adriano Correia de Oliveira, as letras do Carlos Tê e o Jorge Palma.
Por exemplo, o Alexandre O'Neil ou a Florbela Espanca entraram em mim sob a forma de música e só depois os li.
Apesar de achar que tudo isto faz parte de mim, há apenas um autor cuja influência na minha escrita é inquestionável, que é o Alberto Caeiro.

Para além de um apaixonado pelas letras é também um apaixonado pela fotografia. Qual o papel da fotografia na tua vida?

A fotografia começou por ser uma ferramenta de apoio à pintura.
Nos tempos livres pinto aguarelas e criei um blogue onde pudesse expor os meus trabalhos. Mais tarde, porque procurava interacção, entrei num sítio (deviantArt, onde ainda existo como "Shellydude"). Foi aí que me comecei a aperceber do potencial da fotografia. Então comecei a fazer, a estudar e a trocar experiências. Evoluí e tenho gostado muito de algumas coisas que faço, pelo que não pretendo parar.
A fotografia está hoje muito acessível: há máquinas de qualidade a baixos preços e o método de aprendizagem tentativa-erro (e correcção) tornou-se fácil com a crescente digitalização do processo. Talvez arrisque a dizer que a técnica é hoje uma porção mais reduzida na fotografia, deixando muito espaço livre para a intervenção do autor.
Estou a passar por uma fase em que me sinto muito bem com os registos que faço no meu caderno, escritos e desenhados, porque traduzem de uma forma mais fiel aquilo que eu realmente vi. Mas, como disse, vou continuar.

Fala-nos dos teus projectos futuros...

Não tenho muitos projectos... Tenho sonhos, mas esses estão guardados, até que se transformem em projectos...
Sei que vou fazer outro livro de poesia.
Iniciei agora um curso de aguarela, donde penso obter e aperfeiçoar novas formas de expressão.

Ficha Técnica

- Obra Marcante: Rioseco, de Manuel Rui; Sidharta, de Herman Hesse, Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago

- Fonte de Inspiração: TUDO é uma boa fonte de inspiração. O essencial é ver e registar. Muitas das vezes que me sento a escrever, estou apenas a rever, ou adaptar um texto do meu diário gráfico.

- Filme Preferido: O destino fabuloso de Amelie. Não aprecio cinema. As poucas vezes que me sento frente a um ecrã é para ver documentários.

- Canção de Eleição: Não é fácil o amor, de Janita Salomé. Emociono-me muito ao ouvir a Balada do Outono cantada no último concerto do Zeca Afonso "Águas das fontes calai Ó ribeiras chorai Que eu não volto A cantar" e adoro o Jorge Palma.

- A Imagem que Valeu Mil Palavras: 3 imagens, 2 positivas e 1 negativa - os meus filhos (2), acabados de nascer. A forca a ser colocada no Saddam Hussein, ao vivo (para o mundo dos que têm TV), que representa o estado a que chegámos.

- Uma palavra para o descrever a si: Apaixonado

- O Jantar Perfeito: Sou um sortudo. Gosto dos meus jantares diários. O perfeitíssimo jantar é a dois com a Ana. Podem ajudar, a música, o mar, o pôr-do-sol, o mar, a planície, as pessoas a passar.