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"A Esganiçada" 5ª história do livro "Estrelas Apagadas"

"A Esganiçada"

 

 


V
i passar a Esganiçada, emproando a alvorada; trazia no dorso um molho de silvas, amarrado por uma corda com o nó do enforcado, que, segurava, com a mão firmemente cerrada, no meio dos seios. «Foi cuspida ao sol, para nascer há vida; todas as madrugadas têm a sua presença marcada, para lembrar o momento em que o sonho terminou e, o seu corpo, não o ocupou».
- Esta visão abria um livro (Sagrado) aonde, nunca: Alguma mão, humana, haveria tocado e as minhas mãos também não lhe tocam; ele é próprio: Desfolha-se há humanidade; pois, os Deuses, que nele produzem a escrita, não a ocultam; pelo contrário: Procuram a expansão, os caminhos de sangue e de dor; procuram levar harmonia; furar a terra e plantá-la no seio, onde frutifica e abre seus braços para aceitar os espinhos da sociedade:
A princípio, a página estava suja, manchada pelas voltas que lhe dera o tempo; depois, lentamente, a página começara a difundir-se em cores auto-activando-se, com se fosse um monitor: iniciando uma viagem, através de um Universo perdido, que se esquecera, de que, ele próprio: Mostrou-se-me como uma criança, para me provar que, estava esquecido e de que, era um pedaço vindo do céu. Nós vimos do céu: A inocência, o encanto, a pureza da simplicidade dos bebés são prova suficiente de que nós vimos do céu. Há bebés, que o serão sempre, como pessoas marcadas, do céu... - “ Eu garanto que, os corredores são estreitos e só os mais estreitos de todos levam aos reinos dos céus – se não vos tornardes como crianças, nunca o encontrareis”. – Lá dizia, em letras bem pintadas; que, as pessoas boas quase me fazem acreditar que aqui é o céu. As pessoas boas trazem-nos o céu; um bocadinho do céu, para aqui... Mas eu sei que aqui não é o céu! Não! Não é o céu; porque: Há poucas pessoas boas; ou seja: Mais um pouco boas, que as que, normalmente, são boas. Não é o céu porque, alguma coisa acontece aos bebés, que, eles deixam de ser bebés: Deixam de ser simples, encantadores e inocentes. Deixam de ser santos.
Existem muito poucas coisas que sejam simples, puras, inocentes, santas. Há volta da humanidade, quase não se vê o céu; a não ser nos bebés e nos santos. No entanto, há volta da humanidade só há antigos bebés, bebés que deixaram de o ser. Assim, o mistério do misterioso mundo é o próprio ser: Marcando território, ambíguo, entre o céu e a usurpação.
- A esganiçada procura o estreito corredor; agora, com uma mão, segurando um molho de silvas; com espinhos cravados nas costas; na outra mão, um ramo de flores... Seus olhos, como duas rosas, fecham-se na cor do sangue: Escorrido do seu corpo, até hás chagas dos calcanhares.
«Enquanto sou jovem, visto-me e vou para onde quero; lembrando sempre, que um dia, estenderei as minhas mãos a outra pessoa e ela me vestirá e me levará para onde não desejo ir».
Sonhei que era um pescador encantado pela melodia da madrugada, com um pleno silêncio a acariciar o mar; não pescando nada, recolhia as redes; quando, uma voz dentro de mim, perguntou: “ Filho, tens algo para comer?” Olhei para o alforge, instintivamente e apercebi-me que os alimentos tinham acabado; como, por um reflexo, respondi em voz alta, tão alta que, preenchia todo o silêncio do mar: - Não! Não tenho nada para comer. – Com as redes na mão, vivera este pedaço de momento e, logo a seguir ao meu não, porque realmente não; a voz fez-se de novo ouvir, dizendo, quebrando o espaço entre a minha resposta e aquela observação; secreta, instintiva: “- Lança as redes do lado direito do barco.” Confesso que fiquei um pouco intrigado, pensando até em menosprezar a minha sanidade mental; mas valeu: Era um sonho e eu podia decidir entre sonhar, ou não sonhar: Podia decidir, acordar e ficar a meditar sobre o que se estava a passar no sonho, mas, depois íria-me arrepender de ter acordado e tentar voltar ao sonho com o antídoto moldado na realidade pausávél; mas, o sonho já não recebe o espertalhão, que pensa que o pode manipular. Sem mais nem porquê; lancei a rede e não consegui recolhe-la à mão, (tal era a quantidade). Dirigi o barco para a praia, arrastando a rede; pois não tinha ninguém para me ajudar; mas eu estava muito satisfeito com a pescaria que nada mais me tocava no consciente, a não ser a ideia de tirar aquela rede, cheia de peixe, do mar... Coisa que nunca aconteceu a ninguém! Se, todo aquele peixe entrasse para o meu barco, acho que, ia afundar. Por tal: Era uma festa: Já ouvia os foguetes a assobiar e a rebentar numa chuva de lágrimas luminosas. Quando desembarquei, vi ali uma fogueira, peixe sobre brasas e um pouco de, mal-me-chega, de pão. Reparei logo, que, pouco: Era o pão; pois, peixe: Eu tinha o suficiente na rede, que me estava a puxar o barco de novo para o mar. Então, como que vinda da fogueira, a voz fez-se ouvir pela terceira vez; sem a ver, disse: - Trás algum do peixe que acabas-te de pescar. – Corri para ancorar o barco e sem nunca saber quem me ajudou: Arrastei a rede para a praia. Ela tinha: Cento e cinquenta e três peixes! Enormes peixes. Embora houvesse tanto peixe, reparei que a rede não se rompeu. O vulto sentou-se na sombra da fogueira e novamente aquela voz dizendo: - Vem... Vem comer. – Senti um arrepio, da cabeça aos pés e, uma luz, serena, apropriou-se de mim: Como que, tudo era doce; uma confiança, de segurança, tomou rumo no meu coração: Eu não sabia quem era aquele vulto, mas, fazia-me sentir tranquilo, como o silêncio do mar e o seu murmúrio nas noites de luar. Sentei-me em frente da fogueira e tentei; em observá-lo... Mas em vão: Não consegui ver mais do que uma aparência; aquela voz é que contava... Vinha de um profundo trovão; como que se, de ela própria, saísse a massa que segura o mundo. Pude observar, porque o permitiu: Cabelos longos, sedosos, encaracolados, como as ondas do mar. Nas pontas dos cabelos; que se misturavam com as pontas das barbas: Parecia uma montanha largada para as mãos do Inverno...
Aproximou-se, tomou o pão e o deu a mim, fazendo o mesmo com o peixe. Olhei para o pedaço que ele me deu e ele cresceu na minha mão, no mesmo instante em que veio há minha mente a lembrança do primeiro; de, como é que, repartias o pão; de uma forma que, a parte que partias com a tua mão, era maior que todo o pão. Então, ali; logo ali mesmo; senti o gosto da sua carne, repartida por mim e soube que era ele... Ainda o olhei, como quem espreita pelo direito da permissão; cobriu o vulto com uma capa de névoa, pois a havia tirado e lançou-se na direcção do horizonte... Fiquei a vê-lo: Crescendo nas braçadas do mar, em direcção ao lugar do sol; até tudo se aclarear e que resolva aparecer para beber da sua água, no meu cálice.
- A esganiçada aparece em todas as voltas soltas, que, o livro, livremente quer abrir. Continua com as silvas hás costas e os olhos cravados no céu, dando a impressão de que, todo o seu corpo e toda a sua vida: Estão dependurados dentro de ela própria; graças há suspensão do seu coração, sem dor: Entre o sacrifício da espera, paciente por um pouco de paz; para que o corpo possa ter o valor suficiente da inspiração; na resolução da criança que a espera com o peso do mundo inteiro para embalar.
FIM

 

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segunda-feira, dezembro 20, 2010 - 02:56

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