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Strange V - A vida é tão curta

O perigo tornara-se uma ameaça bem real.
 

Depois do fósforo acendido e do tapete incendiado
era a vez dos cortinados terem os últimos instantes;
tomara conta das tábuas envernizadas do chão
uma chama incandescente muito semelhante ao ódio
dos guerreiros que matam inocentes sem sentido.
 

Erguia-se o fumo em colunas demasiado altas
para lhe escapares por cima ou por baixo.
- Era chegada a hora da despedida?
os vidros estilhaçados pelo calor espetando-te a pele,
as lágrimas de agonia
tentando apagar as labaredas incontroláveis.
 

Sabias que a morte viria num dia de maior cansaço,
quando não sentisses os membros e a boca secasse,
e agora, a sede mantinha-se mas os membros doíam.
Doíam tão intensamente que os gritos me chegavam.
 

A água das mangueiras batalhava com as chamas.
- Que guerra cruel lutar contra esse demónio imprevisível.
Encharquei as roupas e corri entre os escombros,
sem saber se a aqueles eram os escombros com que sonhava
tantas vezes, e que haviam sido a realidade
do meu estado de espírito mais maltratado.
Ainda assim avancei sem vacilar,
ainda assim caminhei sem hesitar um segundo
ou uma milésima que fosse.
 

Por fim alcançei-te num canto a chorar, ensanguentada,
e a pele queimada como se o sol tivesse entrado pela janela,
ou uma estrela cadente te tivesse circundado a alma.
 

Resgatei-te e nesse preciso momento o fogo extinguiu-se.
Porque me havia zangado contigo antes,
se afinal a vida é tão curta?
 

Agora olho-te as cicatrizes que ficaram para sempre.
Reconheço-as como sendo a minha culpa. Fora a minha
raiva que ateara as chamas...
No entanto a voz do coração alertou-me a tempo:
 

- Hoje sei porque em mim não há raiva nem ódio. Porque
não há chamas destruidoras nem pensamentos maléficos.
Enfim reconheço a casa onde sem saber me embalaste,
onde cresci, e por mais que chorasse e irritasse...
nunca me odiaste.

 

rainbowsky

2002

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sexta-feira, janeiro 7, 2011 - 15:37

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