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Entrevistado do mês de Junho de 2011 : apsferreira

Entrevistado do mês de Junho de 2011 : apsferreira
O Albano é um dos waffers mais antigos e um dos mais estimados e respeitados na nossa casa, nomeadamente pela sua postura, sempre elegante e correcta, e pela forma activa como sempre contribuiu para o site.
Esta entrevista é um justo reconhecimento de um poeta e de um homem nobre que faz da palavra uma emoção irrecusável, numa poesia muito marcada por uma imensa nostalgia e melancolia, mas também por uma intensa paixão.

 
1. “Eu corro e percorro, todo o meu pensamento, e quase morro...”
(Do poema “Que a minha loucura seja perdoada”, em http://www.worldartfriends.com/pt/club/poesia/que-minha-loucura-seja-per...).
No início era o verso. Foi o Albano que encontrou a poesia ou foi a poesia que o descobriu?
 
Albano
Eu acho que a poesia há muito que me acompanha e sempre foi uma vertente muito importante, em mim, a qual senti impregnar a minha maneira de ser e estar na vida, desde muito cedo. Sempre fui uma pessoa romântica e bastante sentimental, pelo que me deixava embalar, por ela. O facto de ser um bom ouvinte de boca discreta, sempre trouxe pessoas, até mim, que me abriam a sua Alma, sem restrições. Eu acho que isto foi muito enriquecedor e me deu uma visão do mundo/vida muito consistente, a este nível. Foram imensos os sentimentos que eu analisei e o resultado destas análises tantas vezes projectados nas vivências do quotidiano de outras pessoas e no meu próprio, aliado a um certo idealismo foi tornando a poesia mais vivida, na minha vida, a cada dia.
Durante muito tempo ela esteve aí, sem que eu tivesse tido a capacidade de a lavrar, em palavra escrita. Isso requeria uma certa coragem - eu diria atrevimento, até, dado que a minha formação sempre se desenvolveu mais noutras vertentes. Uma vez ultrapassado, isso, a continuidade dessa prática foi muito importante, principalmente, depois que senti um acolhimento crescente das pessoas ao que escrevia. Agora, escrevê-la é um prazer imenso, que faz parte do meu quotidiano - uma prática, que eu não dispenso.
 
 
 

2. “Deixem os ventos soprar / As penas do meu amor / Deixem, os ventos, as levar… / Pois, que as carrego, com dor...”
(Do poema “As penas do meu amor”, em http://www.worldartfriends.com/pt/club/poesia/penas-do-meu-amor).
A tua escrita é marcada por uma imensa nostalgia e uma intensa melancolia.
Na tua poesia, a saudade é um espaço a menos ou um espaço a mais?
 
Albano
Saudade, toda a gente a sente, por alguma coisa, ou por alguém ao longo da vida.
É um facto que a nostalgia é uma constante em mim, porém, não uma nostalgia, saudade do passado, em si, propriamente, mas sim uma saudade de um passado que, se bem que vivido, é agora um pouco idealizado, também. Muitas ocorrências da nossa vida repetem-se. Assim, é muito natural que as sonhemos um pouco, também, acrescentando qualquer coisa que lhes possa ter faltado - idealizamo-las e tomamos gosto até de as desenvolver, um pouco.
Da minha infância, eu tenho recordações muito gratas. Sempre fui uma pessoa muito apegada às pessoas e à vida. Sendo idealista bastante, eu também sofro um pouco com o sofrimento dos outros. Sonho constantemente um mundo diferente, que vejo evoluir num sentido diverso do eu o idealizo e isso acaba por vincar a minha nostalgia, sobremaneira.
 
 
 
 

3. “São horas de vivência, incompreendida / Que tu embalsamas, com as tuas lágrimas / Com as tuas palavras / Com o teu ardor / Ah, quantos baldios lavras, tu, poeta, por amor…!”
(Do poema “Lavrador de baldios”, em http://www.worldartfriends.com/pt/club/poesia/lavrador-de-baldios).
O poeta é um “lavrador de baldios” ou é “compulsivamente mundo”?
 
Albano
A meu ver, o poeta pode ser compulsivamente mundo, mas ele é um constante analista desse mundo, essencialmente. Ele existe nele e ao vivê-lo compulsivamente ele retira todas as ilações, disso. Analisa tudo o que sente e vê e que deixa entranhar-se em sua alma. Olha, sente, analisa e forma visões que descreve a partir de sentimentos e sensações, que foram percebidas pelos seus "sentidos psíquicos", que os tem desenvolvidos, à semelhança dos seus cinco sentidos existentes na sua vertente fisiológica. Assim, a sua vertente psicológica - a sua Alma - tem os cinco sentidos também, como toda a gente, porém, bastante apurados, nele. A sua Alma tem a capacidade da visão, do olfacto, do ouvido, do gosto/sabor e do tacto e à semelhança da sua vertente fisiológica, ela colhe a informação que é enviada a um sistema central de processamento - não o cérebro, mas a Alma, que a trabalha e a prepara para ser exteriorizada, exprimindo-o, de alguma forma.
A capacidade maior ou menor que ele tem de fazer isto varia na razão directa do seu conhecimento, adquirido, entendendo-se por conhecimento, tudo o que os seus sistemas sensoriais - o fisiológico e este psíquico, captaram nas vivências que já teve e que se encontra armazenado tanto no cérebro - na memória - uma panóplia de conhecimentos, como na Alma - desta feita uma panóplia de sentimentos, que se percebem presentes na parte média superior frontal do tórax.
O poeta tem uma apurada capacidade, para os analisar e a habilidade de os saber conjugar.
Assim ele está compulsivamente a ser lavrador de baldios, mas a colher, a analisar, a seleccionar, a ordenar, a armazenar para poder produzir o seu produto final, que acaba por ser a visão que tem de um determinado mundo, e a expressar.
 
4. Neste país, que dizem “ser de poetas”, o verso resiste como um deserto.
A poesia é um espaço marginal ou um espaço á margem?
 
Albano
Na minha opinião a poesia é um espaço à margem, pois, de facto existe uma fronteira que a separa do restante, porém, uma fronteira que não é intransponível, de todo. Muitos leigos faz incursões no território da poesia, muitas vezes esporadicamente, apenas, mas em outras em que consegue perceber a beleza que a poesia tem, sente-se tentado a, a saborear e vai deixando-se ficar, ou volta com frequência - quantas vezes acaba por a procurar e integrar-se no meio, mesmo, que com um papel passivo - como consumidor, apenas.
No entanto, a poesia é marginalizada, também, e de forma discriminatória. Por exemplo, num passado muito recente, eu dirigi-me a um jornal e disse que tinha um texto de cariz cultural, alusivo a determinada ocorrência de certa importância sócio/cultural, que gostaria que o jornal publicasse. Expliquei de que se tratava e o acolhimento da ideia foi bastante bom, até momento em que receberam o texto e verificaram, que o texto estava escrito em forma de poema. Telefonaram-me e disseram-me que não publicavam poesia e, portanto, não poderiam publicar o meu texto.
Eu perguntei, qual era o motivo, por que não o faziam e respondeu-me, o meu interlocutor, que era um responsável, por o jornal, que era por ser um princípio de há muito desse órgão de comunicação - não publicar poesia. O poema foi publicado por outro jornal e posteriormente recebi um email do primeiro, com um cariz mais pessoal, fazendo um vincado elogio ao texto, e lamentando a situação que impediu de o publicar.
 
 
 
 
5. O que é o WAF para ti e qual o seu lugar na tua vida?
 
Albano
A WAF para mim é muita coisa. Foi o primeiro site de poesia que eu conheci e onde me inscrevi. Foi onde eu publiquei o meu primeiro poema, que recebeu de imediato o acolhimento do nosso caríssimo Marne, que me animou imenso, recordo-me. Foi onde eu publiquei dezenas de textos, e apenas o fazia lá e no meu blogue, que foram acolhidos com muita simpatia, por os restantes utentes. O ambiente, então, era muito acolhedor e proliferavam as amizades entre os seus membros. Eu diria que foi a WAF que me educou, preparou para a "vida poética" portanto e ensinou-me a caminhar. Aí aprendi quase tudo, lendo os outros autores e praticando a minha escrita. A sua importância foi fundamental, para mim.
A minha participação no site, actualmente, tem sido extremamente parca, por motivos que resultaram da nova orgânica, pós reestruturação.
Optou-se por se liberalizar o número de textos a serem publicados por autor, contando que o bom senso e respeito mútuo se encarregaria de dosear os textos dos diversos autores, intercalando-os. Isto não veio a verificar-se. Ao publicar um texto vi, com muita frequência, ele ir parar para a terceira página e, num espaço de minutos, perder-se a sua visibilidade, por completo. Não consegui apresentar argumentos que levassem os responsáveis a reanalisar a situação e tenho-me mantido afastado, assim.
Neste momento, tenho vindo a publicar os meus textos no meu blogue e no Facebook, apenas, depois de já ter experimentado um outro site de poesia, isto, enquanto aguardo uma oportuna revisão desta situação na WAF, com esperança.
 
 
Obras marcantes
Eu tenho uma pena, imensa, de não ter alguma vez criado o gosto por a leitura, pois, tenho plena consciência de ser bem mais medíocre do que o seria se eu tivesse lido e absorvido o modo de ver o mundo e o pensar de outras pessoas, para além daquelas com quem me relacionei ao longo da vida. Esta, foi uma falha na minha formação, sem dúvida, e eu tenho consciência da riqueza que não adquiri, por nunca ter fomentado, no meu dia-a-dia, esta prática. E como eu acho que eu valho por o que sou, eu escuso-me a enfeitar esta entrevista, com títulos conhecidos, que não os li.
Os meus interesses estiveram sempre virados para outros campos e nunca gostei de ler e nem os livros que era obrigado a ler aquando da frequência da matéria de português, enquanto estudei, embora, esta atitude não tenha resultado, nunca, em resultados nefastos drásticos no aproveitamento escolar, de então.
Recordo-me de ter lido o Crime e Castigo e mais um ou outro.
 
Fonte de inspiração
Sempre gostei muito de psicologia, embora o curso que frequentei tivesse sido o de engenharia.
Eu escrevo o sentimento e exploro isso, tanta quanto eu posso. A minha inspiração assenta na minha interligação com as pessoas e na análise das suas e minhas vivências, nos sentimentos emergentes, como sejam o amor, a paixão, a amizade e tantos outros, congéneres. Portanto, a Alma do ser humano é a minha principal fonte de inspiração.
 
Filme Preferido
Psycho de Alfred Hitchcook
 
Canção de Eleição
Gosto muito de música e de quase todos os géneros musicais, desde a romântica à clássica, passando pelo rock e tanta outra exceptuando a sinfónica e algum jazz.
Citar uma preferência seria difícil, pois, ela depende do estado de espírito do momento em que a ouço.
Então, cito a música que tenho no meu blogue "Estados d`Alma" –
É uma música de que gosto, sem dúvida.

Imagem, que valeu por mil palavras
A imagem, que valeu por mil palavras, para mim, foi a do momento em que vi o meu filho mais novo vir à luz.
Teria sido um momento sublime e tocante, por si só, não fora a imensa panóplia de sentimentos e sensações, que se misturavam, essencialmente, com a agonia, a expectativa e a alegria, contrastando e elevando-se, com essa série de outros que se misturavam. O eclodir do alívio foi uma sensação extraordinária. Foi o estabilizar de tudo na alegria final, que prevaleceu.
 
Uma palavra que me defina
Amor (porque o tenho, a tudo, incondicionalmente)
 
O jantar perfeito
O meu jantar perfeito é aquele em que eu digiro uma boa companhia, bastante agradável, uma pessoa que me diga algo forte, num ambiente com uma certa mística de romantismo.
Para a entrada uns sorrisos doces, caem muito bem.
É então que começo a saborear a presença da minha companhia, que é sem dúvida, o prato principal, que vou temperando com aqueles olhares cúmplices, que são deliciosos.
Para sobremesa cai sempre bem um delicioso toque de mãos, entre beijos, tudo isto servido sobre uma toalha bordada de ternura e paixão.
Para acompanhar, uma boa garrafa de felicidade, bem fresquinha.

 
Entrevista realizada por Giraldoff
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Comentários

imagem de Susan

Albano como foi bom ler tua

Albano como foi bom ler tua entrevista e saber mais de ti , mesmo sendo sua amiga já ha um

bom tempo .Sem pre deixamos coisas por dizer e assim conheço ainda mais a beleza que carregas consigo , no seu modo de 

ver a vida .

Fico feliz por ti e desejo que teu estrela brilhe imensamente, sempre !!!!

Um beijo 

Susan

imagem de Elizaete

Meu amigo Albano

Que felicidade ver e ler a tua entrevista, quando eu cheguei no WAF, o Albano foi bastante acolhedor, e depois passamos a nos falar sempre, criamos laços de amizade e poéticos. Realmente, é enriquecedor por Waf ter um poeta e escitor do porte do nosso amigo poeta, Albano Ferreira, quando eu crescer, quero ser igual a ele...

Parabéns para a direção e equipe do WAF  pela a entrevista do mÊs.

imagem de SuzeteBrainer

 Gostei muito da

 Gostei muito da entrevista,nesse espaço conhecemos mais sobre o universo do poeta e me encantei com a sua autenticidade especial e a sua vivência de amor incondicional,sendo esta a palavra que o define e tão presente nos seus poemas.

Parabéns!

Um grande abraçosmiley

imagem de Alcantra

Rica

Rica entrevista.

Parabéns,

Alcantra

imagem de mariacarla

Poeta com amor à vida!

Olá Albano!


Foi com enorme satisfação que conheci um pouco mais sobre o poeta sensível e amante da escrita.
Passar por cá para te felicitar é muito pouco, pois quero cumprimentar o WAF por esta escolha tão importante a um amigo que muito admiro.
A tua poesia e a garra com que a escreves fez de nós, uns modestos admiradores perante um trabalho tão enriquecedor na nossa comunidade.
Obrigada pela poesia, pela grandeza com que a eternizas e sobretudo pela Pessoa Amiga que tens sido.

Parabéns!

 

Carla
 

imagem de Fatima-Rodrigues

Tinha de vir comentar tua

Tinha de vir comentar tua entrevista Albano, para dizer-te mais uma vez como te admiro meu amigo. A ti como pessoa e à tua poesia . 

È evidente a riqueza do teu carácter  nesta tua entrevista.

Quanto à tua poesia é do conhecimento publico (quem te lê e admira sabe do que falo).

 

Parabéns amigo

imagem de Almalusitana

Parabéns!!!!

Homenagem mais que justa, a um ser humano extraordinário.

Belíssimos sentimentos se encontram nesta entrevista, muito bem conduzida pelo Gi.

Os meu sinceros parabéns

imagem de Eu_e_os_Meus

Parabéns ;D

  tenho de lhe agradecer pelo prazer que me proporcionou esta sua entrevista.....esta de parabens senhor Albano... belas palavras, belos sentimentos, belo ser... abraço ;D 

imagem de Dianinha

Parabéns! :)

 

Mais uma grande entrevista a um grande poeta!

Estava à espera da sua entrevista, confesso... :)

 

Gostei imenso de o conhecer mais um pouco para além dos seus poemas!

Parabéns!

 

Beijinho da Dianinha.

imagem de Henrique

Parabéns Albano

Reitero:

"O Albano é um dos waffers mais antigos e um dos mais estimados e respeitados na nossa casa, nomeadamente pela sua postura, sempre elegante e correcta, e pela forma activa como sempre contribuiu para o site".

Sem dúvida alguma, um parceiro desta casa que mim merece toda a consideração!

Bela entrevista por parte de ambos os intervenientes.

Prazer em conhecê-lo um pouco mais além das palavras...

 

Tem sido e será um prazer continuarmos debaixo deste mesmo tecto!!!

 

Abraço amigo Albano!!!

 

:-)