A Fruta Aberta (Thiago de Mello)

Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,
porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore
plantada bem alta no meio da minha vida.

Agora sei as coisa como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.

Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.
Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,

teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;

com tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.

Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.

Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade

como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa

que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.

 

Thiago de Mello, poeta brasileiro, In: Sobrevoando a Cordilheira dos Andes, 1962.

(Sobrevoando a Cordilheira dos Andes, 1962)

Submited by

Viernes, Julio 8, 2011 - 19:07

Poesia :

Sin votos aún

AjAraujo

Imagen de AjAraujo
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 6 años 2 semanas
Integró: 10/29/2009
Posts:
Points: 15584

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of AjAraujo

Tema Título Respuestasordenar por icono Lecturas Último envío Idioma
Poesia/Acróstico Melancolia 3 1.409 02/01/2011 - 20:14 Portuguese
Poesia/Desilusión Chega de silêncio! 3 1.160 02/01/2011 - 20:16 Portuguese
Poesia/Dedicada Tempo que não volta 3 560 04/03/2011 - 17:09 Portuguese
Poesia/Meditación Consciência cósmica 3 987 02/11/2011 - 00:31 Portuguese
Poesia/Meditación Crença no Amor 3 10.654 02/08/2011 - 10:50 Portuguese
Poesia/Meditación Vida e Pintura: retrato humano 3 1.137 04/17/2011 - 00:38 Portuguese
Poesia/Dedicada Vida de Camelô 3 2.410 03/15/2010 - 00:07 Portuguese
Poesia/Meditación Vida! É preciso cuidar... 3 1.090 04/26/2011 - 13:39 Portuguese
Poesia/Meditación O tempo é um Arquiteto! 3 1.110 04/03/2011 - 17:10 Portuguese
Poesia/Meditación Epitáfio: o dia para o qual nunca nos preparamos! 3 913 02/08/2011 - 23:06 Portuguese
Poesia/Acróstico Acredite sempre! 3 1.479 02/07/2011 - 09:44 Portuguese
Poesia/Meditación Ainda são crianças... 3 604 02/08/2011 - 10:44 Portuguese
Poesia/Dedicada Isabela: sorriso de luz (tributo à pequena Isabela) 3 1.048 02/10/2011 - 16:15 Portuguese
Poesia/Intervención Do que preciso! 3 2.664 04/06/2011 - 02:35 Portuguese
Poesia/Meditación O monge e o menino 3 1.154 04/03/2011 - 17:07 Portuguese
Poesia/Aforismo Rio: cidade sitiada (retrato do descaso) 3 1.817 04/12/2010 - 15:14 Portuguese
Poesia/Aforismo Ah, esta dor! 3 613 02/06/2011 - 00:00 Portuguese
Poesia/Aforismo Reflexões no Dia do Trabalho 3 1.211 04/26/2011 - 13:37 Portuguese
Poesia/Dedicada Ser mãe, mulher! 3 674 04/28/2011 - 19:13 Portuguese
Poesia/Meditación Pelas trilhas de maio (Viver com Sabedoria) 3 582 04/28/2011 - 19:11 Portuguese
Poesia/Meditación O significado da lágrima 3 642 02/21/2011 - 11:05 Portuguese
Poesia/Meditación Manchetes de Jornal 3 846 04/10/2011 - 00:08 Portuguese
Poesia/Amor Venha brindar o amor 3 1.080 04/28/2011 - 19:18 Portuguese
Poesia/Meditación Árvore da Vida (Hermann Hesse) 3 3.362 02/19/2011 - 18:32 Portuguese
Poesia/Alegria Ciclo das paixões e dos rebentos 3 1.057 02/10/2011 - 04:10 Portuguese