Existe no meu caderno uma folha escrita em branco

E no texto há quem implore:
- Volte logo, amor!

Existe naquela folha uma linha a ser preenchida
Dizendo:- Fique comigo, senhor!

Pode ser que haja lá uma rima inovadora, dessas, ainda não inventada...

Pode ser, não sei, que naquele espaço para uma letra ou um ponto, haja todo o infinito possível de existir
Na imaginação, talvez, toda a realidade vivida na solidão

Pode ser que uma espécie de mágica ocorra e faça do escritor em retiro o romancista do século dois mil e dez

Aquela folha que guarda sua retidão de carater espera por manchas na reputação
Espera, a coitada folha, por um toque que retire sua virgindade

Espera e, não quero ser nenhum machista, por algum cilindro que a encante e mostre, a partir da folha, uma floresta intocada

Não tomem por intenções inapropriadas
Sois donos de cabeças poluídas pelo mundo impresso

Eu digo da folha daquele meu caderno que hoje cheira a mofo
Digo que gostava de transbordar-me em palavras gastas
Digo que amava o silêncio das tardes e o choro das noites
Digo que deleitava-me com pensamentos de meu endeusamento

Pensava assim: A fome podia acabar
Pensava: O mundo devia ter paz

Escrevia sobre todas as possibilidades
Descorria acerca dos meus momentos vazios

Falava assim: Ó vida, deixa aqui!

Quando via os passos das pessoas nas ruas, via que passava pelas ruas exatamente como aquelas pessoas
Logo sou igual, porque quando passo, finjo não observar que observam meus passos

Existe, encerrada num poço, uma poesia suicida
Existe no meu caderno a esperança de reavê-la, intacta, fortalecida, lustrosa
A poesia refeita de si

É sonho, eu sei mas, se é sonho, como sei?
Quando durmo, como sei que sonho e não vivo?
As espectativas de um filho de Deus são a degeneração dos costumes do mundo
Então, espere aí, humilde leitor, não te atrevas a não entender o que digo!
Espere aí, cale-te, leia cada linha alva deste texto
Espere aí ou, vá direto ao inferno!
Pague esta penitência, vá de joelhos ao encontro do mármore
Pague a panitência; desfigura-te, aquele que só te quer bem

Existe no meu caderno uma folha a ser preenchida
Que diz que é sensato deixar-se existir conforme os desejos exteriores

Não é ilusão de óptica...
A folha em branco parece ter sido rasurada

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Jueves, Abril 1, 2010 - 13:49

Poesia :

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robsondesouza

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Re: Existe no meu caderno uma folha escrita em branco

Pode ser, não sei, que naquele espaço para uma letra ou um ponto, haja todo o infinito possível de existir
Na imaginação, talvez, toda a realidade vivida na solidão...

Uma meditação a ter em conta as entrelinhas rasuradas!!!

:-)

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Re: Existe no meu caderno uma folha escrita em branco

Gostei do poema, pela construção, pela melodia e pela mensagem. Gosto das imagens utilizadas e no que essa folha em branco nos permite imaginar.
Na minha opinião um poema bem conseguido.

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Re: Existe no meu caderno uma folha escrita em branco

Clap! Clap!Clap!

Gostei Muito Robson!

Um Abraço!!

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