NESTE LUGAR TUDO FAZ SENTIDO

Aquele recanto era o seu refúgio desde sempre.
Sempre que a tempestade a aterrorizava, sempre que o frio a gelava, era ali que se escondia.
Abraçada á árvore, apertava com força o seu tronco, fincava os pés descalços no chão e pedia que a protegesse de todas as intempéries.
A árvore já a conhecia e nunca a deixava desamparada. Com as suas folhas cobria lhe o corpo, com o seu tronco, aquecia lhe a pele e a brisa ajudava aos murmúrios que a sossegavam em  menos de nada.
Ali ficava, horas, dias, naquele lugar encantado onde sentia a sua alma juntar-se á dos seus mais longínquos antepassados. Segura! Sentia-se segura.
Um dia sentiu as luzes da cidade chegarem e com elas o reboliço de pessoas, o chamamento da folia. Sentiu-se inebriar por esse mundo desconhecido até então. Deixou-se levar e foi. Viveu as luzes os cheiros, as texturas, as sensações, desilusões, paixões, amores, desamores…enfim! Viveu! Esqueceu a árvore, os pés descalços na terra molhada, o encanto daquele lugar e ficou   ficou…até que a vida lhe pareceu vazia de cheiros de sensações, de cores. E entristeceu. E como a noite quando abraça a floresta. Escureceu.
Por fim num dia de tempestade, entre paredes de cimento, fixou o olhar no horizonte e entre lágrimas de tristeza, daquela tristeza crónica que não sabemos de onde vem nem para onde nos leva, foi ao baú mais profunda da sua já avançada memória e encontrou por fim. Encontrou a imagem daquele lugar encantado. Como se de repente uma brisa forte tivesse passado por si, secou as lágrimas e ganhou força, e andou até encontrar, quem de facto a conhecia desde sempre e sempre estivera ali para si. Mesmo desprezado, mesmo ferido, mesmo cansado de tanta saudade ali estava quem por si esperara sempre. Como se dele houvesse nascido, como se o tempo nunca houvesse passado, abraçou o tronco da sua árvore, fincou os pés descalços e cansados, na terra molhada,  aí ganhou raízes e ficou. Ouviu a brisa falar lhe ao ouvido…………”bem vinda sejas de volta. Sentimos falta do teu cheiro”.
As lágrimas que deixou rolar eram de felicidade.
O amor incondicional era afinal seu, naquele lugar de sempre.
Tinha reencontrado o seu caminho.
Podia partir em paz, para mais tarde regressar.

 

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Martes, Agosto 16, 2011 - 23:49

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