Pulvi es (et pulverem reverteris)
-Veja!
-Me olha, me inveja, me copia!
Enquanto a humanidade se enfuna do próprio ego
Num grotesco festival de abastardamento e autofagia
Esquecemos as adversidades com sabores diversos
Babando na mesa com a voracidade ensandecida
Bobos e extasiados com versatilidade do menu
Com infantilidade tola de por na boca o que na mão possui
Devoramos a vermelhidão suculenta da carne
Tão gostosa, tão charmosa, irresistível, irrecusável!
Levados pelos prazeres óbvios, obscenos, imediatos
Escravizados pela alternativa efémera, fácil, fugaz
Padecemos do hábito irremediável de ser humano
Completamente falível, alheio, vulnerável e perdido
Certamente, um dia, tudo estará arruinado.
Da inevitável decadência, ninguém escapa!
No final iremos todos juntos para o inferno
Com a boca suja de diamante, ouro e prata
Lambuzados, felizes, sorridentes de mãos dadas
Lavaremos nossas almas putrefatas
Na frieza da fogueira mais ingrata!
Aquela que não discrimina, nem vê nada
Que assim seja!
Somente assim para acabar com a sobeja
Que a profecia desça dos céus
Sobre todas nossas cabeças
E pese sobre nossos ombros
Até esmagar toda essa prepotência
Que a severa voz, implícita e misteriosa
Que ora ignoramos, ora fingimos ignorar
Venha ordenar nossa despeja. Dirá:
- Saiam todos! Acabou a brincadeira!
Que aqui fiquem os quais aqui o mereça
Na sesta da nossa última ceia
Serviremos de alimento aos nobres herdeiros
Filhos das entranhas da terra
Dignos dela e de sua casta riqueza:
Comemoram as vermes e as amebas
Celebram os traças e as bactérias
_________________________________________
Outras poesias em
http://www.carlinhoscavalcanti.blogspot.com/
abraço a todos
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Comentarios
Valeu
Obrigado de novo, Cristy.
Como disse, Fernando Pessoa(que gosto muito), tento colocar o que sou no que faço. Não só em poemas mas em tudo. Pois pra mim, tudo é pessoal. Acho, inclusive, que se todos fizessem assim o mundo estaria menos decadente.
Obrigado pelas considerações.
:)
Excelente! Tenho lido outros
Excelente! Tenho lido outros poemas seus com característica "social" e gostei bastante. É sempre muito bom que a arte não seja apenas sentimentalidades e percebi que quando você se dispõe a escrever com dureza , como nesse poema, a arte se torna um golpe bem afiado no marasmo que a sociedade está mergulhada. Maravilha ler um poema e sentir que ele não é só um deleite , como à época do Romantismo, onde existia bem mais ludibriações do que alertas e denúncias. Muito bom! Só pediria pra você atentar para a questão dos artigos, aos gêneros deles e, mais, nem sempre eles são necessários.
Abraço.