MISTÉRIOS DA VIDA

MISTÉRIOS DA  VIDA

Só quem passa por experiências mal resolvidas poderá avaliar o que sentiu Elisabete quando, sem prévia intenção, olhou para a janela dum prédio e com alma fitou o olhar na simples acção de estender roupa para secar.
A mulher que estendia a roupa, debruçada na janela de sua casa, teria mais ou menos a sua idade. Elisabete sentiu um vazio, uma saudade da lida caseira, dum tecto para abrigar as filhas, dum lugar seguro para pousar um travesseiro para descansar a cabeça depois de um dia de trabalho, das filhas à volta da mesa e até do homem com quem tinha casado, na religião católica, em regime de comunhão geral, ainda menina, trinta anos antes.
Depois de sofrer tanta dor no corpo e na alma, ela podia apenas sentir saudades de toda uma vida de maus tratos domésticos. Maltratada, espancada, desrespeitada, humilhada ela e as suas duas filhas, depois de um dia árduo de trabalho, não regressaram à casa de família.
O marido depois de levantar pouco, mas todo o dinheiro que estava no banco, em nome de ambos, seguiu para o emprego da filha mais velha e para além de lhe chamar todos os nomes que lhe vieram à boca, ameaçou-a de morte se (mãe e filhas) voltassem a casa...
Elisabete não querendo expor as suas filhas a tal humilhação e insegurança passaram a viver na rua: as três dormiam durante longas cinco noites, dentro de um mini automóvel velho.
Passados os cinco dias foram ajudadas, por colegas de escola das filhas, a ultrapassar as dificuldades mais elementares do ser humano: a sobrevivência.
Albertino era muito influenciável e regia-se pela má formação de carácter, ignorância e estupidez o que não lhe davam o direito de maltratar a esposa e as suas duas filhas.
Ele tinha através da mãe conhecido uma outra mulher a cobardia não o deixou mudar de vida honestamente. A casa de família que não era importante para ele, passou a ser depois que a esposa a comprou ao senhorio com dinheiro emprestado.
Pôr na rua a esposa e as filhas, dum longo casamento, era a solução para viver feliz com a outra.
Essa outra mulher tinha cinco filhos a seu cargo e todos eles passaram a habitar a casa de Elisabete e a usar todas as suas mobílias, roupas e utensílios domésticos.
Albertino, embarcado na marinha mercante, nunca resolveu nada do que respeitava a habitação em termo de condomínios, contribuições e outras obrigações. Era Elisabete que tudo tinha a seu cargo, antes de ser posta na rua com ameaças de morte…
A outra mulher não habituada, e ainda menos disposta a resolver questões domésticas, não pagava as contas inerentes.
Elisabete, com tudo em seu nome, foi obrigada a pagar as contas em atraso para evitar juros de demora e males maiores.
Depois que descobriram que as contas estavam todas pagas, ambos imensamente confortáveis, sobrava-lhes dinheiro, e, daí terem feito um casamento de pampa à filha da mulher… com registo a casa e boda afrodisíaca transcendente.
Um ano depois Albertino descontente com a sua aquisição, pôs a dita mulher na rua mais os filhos de raça negra. A história acabou aqui? Não. Albertino arranjou outra mulher e depois do divórcio litigioso casou-se com ela, mas como sempre sem escrúpulos, ao descobrir que a ex-mulher trabalhava 17 horas diárias dispôs-se a explorá-la.
Foram cerca de vinte anos que ele perdeu de ser feliz no segundo casamento e ainda fez Elisabete perder tempo em tribunais e noites de sono, com angústias sobre angústias, para resolver divisão de cacos que ele mesmo ficou com eles desde o início. Isto dado um inventário facultativo onde constava bens imaginários de pertença. E fez mais. Nesse mesmo inventário omitiu ao tribunal o óbito da mãe, falecida durante o casamento com Elisabete. Isto dado a decisão do tribunal em julgado: o divórcio litigioso não retroagia há data da coabitação.

Autora: Isabel Moreira Rego

1987
 

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Viernes, Enero 13, 2012 - 13:42

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ISABELLA - M - REGO

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Minha querida, amiga, Isabella,

Minha querida, amiga, Isabella,

encantado senti-me, ao poder entrar, através desta tua prosa, no cotidiano, de Elisabete, onde me deliciei com a história de tão bela personagem, que bem narraste, em cada pedacinho de cada coisa: a vida de cada um, ela própria, como bem afirmas, um mistério completo, desde que somos nados até que ao pó regressemos. Muito bem esrita esta bela história. Grato foi todo este meu prazer.

Querida, gostaria de te convidar, a seu tempo,
que entrasses na minha página, para ler este meu poema: NÃO FUI SENÃO UMA CRIANÇA... Obrigado!

Beijinhos mil
Jorge Humberto

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MISTÉRIOS DA VIDA

A própria vida é um mistério,
basta dizer que nada sabemos dela,
não sabemos de onde viemos nem para onde vamos !!!

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