Santanésia: Terra dos Sonhos - resta uma saudade!
Serração, na caminhada matinal até a CIP
Alva camisa, calça azul-marinho vai o contínuo
Na estrada de saibro, passos acelerados
Transitam bicicletas, escolares e operários atentos,
Ao apito de alerta e final da fábrica de papel e do Cel. Camisão
Na banca o velho Adamastor madruga com as notícias
E o sol manso de inverno começa a despontar na praça
Senhoras deixam seus filhos no Jardim de Infância Maria Vinagre
Inda soltando baforadas de ar quente, recebo as primeiras tarefas
Atravesso a portaria que dá para o imponente Açude
Tenho como missão entregar um envelope na casa
Erguida no monte sobre o lago, estilo Europeu
Residência do Dr Mattos e Dona Nicinha
Retorno pelo terreno cedido para meu pai plantar
Alcanço ele com a vista, colhe abóboras
Dou-lhe um abraço afetuoso e sigo em frente
O Sr João não tolera atrasos, ou "morcegação" como ele chamava
Saio pela aléia de pinheiros, cruzo o fechado Clube dos 13
Sinto uma batida no chão, rola pequena bola no saibro
O tênis jogado em uma quadra maravilhosa
No que peguei, joguei de volta por entre a cerca-viva, lacerdinhas
Hoje está fazendo um belo dia, é dia de São João
O arraial estará fervendo no bairro do Querosene
Sonho com a fogueira armada, ganhar prendas, dançar quadrilha...
... Retorno ao escritório da CIP,
Entrego os jornais do dia para o admirável Sr VoeGeller
Sirvo-lhe uma xícara de café da Tia Amélia
Tem muito gosto por discutir política e os destinos do Brasil
Assim converso com ele maravilhado com o seu conhecimento
... Uma bronca com certeza me espera na volta
Mas, o Sr VoeGeller liga para o Sr João e diz que tinha me dado uma tarefa
Assim fazia quase sempre me dando a tarefa de selecionar notícias do Estadão
Sentado na escrivaninha, recordo-me daqueles tempos
Ainda vívidos na memória, tanta gente, quantas passagens
Umas já se foram, outras vamos reencontrando nas páginas e fotos
De um diário esquecido em algum lugar do passado
Aberto folha-por-folha, tingidas de amarelo, a cor da maturação
De vidas preciosas, frutos da grande árvore da existência
Eternos e vigilantes espíritos que nos fazem sonhar, renascer, seguir em frente.
AjAraújo, o poeta humanista, recorda neste acróstico, escrito em 26-f ev-2012, a sua terra natal - Santanésia - de onde guarda
recordações na escrivaninha do tempo, diário que vai sendo aberto, redescoberto em cada passagem,
com as histórias e suas figuras maravilhosas, contando na prática, a sua própria história.
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