Nós atravessamos para o outro lado

Nós atravessamos para o outro lado. Somos loucos, estamos cansados. Não encontramos a poesia, o sentido do Deus triste, do cão abandonado à piedade dos padres e dos militares.
A rapariga entrou no quarto, havia uma lua que diminuía de tamanho, junto com ela entrou um homem gordo e imbecil. Os dois adjectivos não tem a mesma conotação. Aquele quarto faz parte de um prédio onde funciona uma agência de pornografia. Toca o telefone.
- Boa tarde. Se fazemos filmes pornográficos com insectos?! Pensamos que não são comercialmente rentáveis. Sim pode cá vir pessoalmente mas de qualquer das formas acho que não vamos fazer negócio. O homem poisou o auscultador, entretanto ouve-se o som de roupas a cair no chão como gotas de água A mulher vira-se de costas, tem um rabo-branco e redondo como a lua, o homem penetra-a e vai empurrando com violência o seu duro membro, ela parece uma loba a uivar à lua. Ele agarra-lhe pelos cabelos, ela começa a rezar à virgem, o homem bate-lhe com força naquelas brancas nas nádegas o seu grosso pénis vai deslizando como o arco de um violino.
São duas horas da tarde cada vez é mais ensurdecedor o barulho dos automóveis. O homem chama-se Carlos, foi durante muitos anos agente de seguros, costumava levar revistas porno escondidas nas apólices. Foi despedido por ter assediado um grupo de freiras que passavam em excursão. Depois dedicou-se ao comércio de selos eróticos. Certa manhã estava sentado na esplanada que dava para o rio. Tomava o seu café e passava os olhos pelo jornal quando uma mosca poisou no rectângulo de um anúncio. " Precisa-se homem viril para contracenar com rainha porno" depois fechou o jornal, abotoo
O sobretudo e recordou quando era pequeno e vivia numa pequena aldeia, lembrava-se dos aviões no céu e da sua primeira experiência homossexual. Aquela experiência ainda flutuava no pensamento. Carlos com estas recordações na bagagem da memória dirigiu-se ao escritório onde funcionava a agência referida no jornal. Sentado a uma secretária estava um homem que envergava um fato de macaco e usava um lenço como usam as mulheres da limpeza.
- Olá
– Bom dia. Você vem por causa de um filme pornográfico com insectos?
- Não.
- Ainda bem, recebemos aqui cada telefonema! Você sabe... há cada maluco que faz estremecer o céu.
- Venho responder ao anúncio.
- Quer um café?
- Já tomei.
- Vou tirar um para mim naquela máquina. Sabe esta maquina geme enquanto o café cai no copo.
- Engraçado.
- O meu amigo quer trabalhar aqui
– Sim
– Preencha o formulário os testes psicotécnicos e a entrevista com a psicóloga são importantes
– É preciso?
- A psicologia mexe com mundo, o mundo é um cu redondo. J á imaginou apalpar o cu do mundo?!
- Não.
- Gosto de metáforas
Carlos ficou calado, instantes depois chegou uma mulher.
- É a nossa psicóloga disse homem do fato de macaco dando-lhe uma palmada no rabo.
- Venha disse ela – Vamos até ao quarto.
- Como é o teste?
- É um teste prático
– E do que trata
– Ejaculação precoce.
- Não costumo ter.
- Você tem uns olhos profundos.
- Você tem umas pernas esguias.
Ela começou a despi-lo, ia descendo as mãos da camisa ao fecho das calças, depois segurou-lhe o sexo e começou a serpentear com a língua, fazia movimentos lentos, a seguir começou a chupar, fazia-o com convicção. Carlos não se mexia. Dez minutos fora o tempo, depois o esperma caia como chuva na boca da psicóloga porno.
- Está contratado.
Estou?!
- Sim, as filmagens começam amanhã
– A que horas?
- Por volta das 9 e 15.
- Quantas pessoas participam?
- Duas mulheres e três homens.•
- Posso ver o argumento?
- Aqui tem uma cópia
- Tenho que fazer sexo com um homem?
- Se vier no argumento...
- Quem foi que escreveu?
- Acho que foi um tipo chamado Elton
- Quem é ele?
- Um coleccionador de chapéus.
- Se tiver de fazer sexo com um homem não quero.

De repente ela tira a sua longa cabeleira.
- Mas você é um homem
- Não gostou?
- Acho que o dia me correu mal, vou tomar uma água
- Desculpe.
- Acho que vou ver o mar
- O mar por aqui não tem ninguém

Carlos seguiu até ao mar, o som das gaivotas parecia o som do sexo.

Carlos olhou o mar. Nu e de pénis erecto o penetraria. A água estava gelada, quando chega-se a casa telefonaria á ex mulher, marcaria um café, não falariam de assuntos privados, de coisas do género: que fazes? como ganhas dinheiro, ou que sentido queres para a tua vida. Iam falar apenas do sol e da poesia que enche de vigor os quartos e os jardins, iam falar da importância do momento, que estavam vivos para sentir tudo.
Na rua as luzes das vitrinas continuavam a piscar. Aquela rua parecia o paraíso mais obsceno de todos. Naquele momento um carro da polícia fazia a habitual ronda, mais á frente estavam dois velhos á volta do fogo.
- Que merda Jeremias
- Que houve Sancho?!
- As gaivotas não me deixam dormir
- Acho que é das pulgas
- Não é nada!
- Queres um pouco de vinho?
- Gostava de encontrar uma cabra
- Que estás para ai a praguejar
- Uma gaja para esta noite.
- Não tens idade para isso.
- J á viste o apito a uma tipa, aquilo é um bicho peludo de fazer um homem endoidecer.
- Vou fumar.
- Tu já ouviste sobre a solidão
- Que tem?!
- A solidão é uma cabra, ela nos anda sempre a foder , um gajo nunca está seguro.
- Vou preparar o papelão, com papelão se faz uma boa cama. Antigamente ia para a praia, mas tenho medo que o mar me leve.
E o mar levou com ele aquele velho, aquele pobre cheio de doença e de miséria, aquele velho que amava os cães como se ama a poesia, que a poesia não é só dos livros também existe noutros lugares, que se encontra no lixo da vida e na felicidade

lobo

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Lunes, Mayo 11, 2009 - 15:50

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Bom poema, gostei de ler! :-)

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