Gilles DELEUZE, Filósofos Modernos e Contemporâneos
1925 – 1995
DELEUZE estudou Filosofia na Universidade de Sorbonne, Paris, entre 1944 a 1948. Ali conheceu vários Pensadores que se tornaram célebres, dos quais se pode citar Michel Butor, François Châtelet, Claude Lanzmann, Maurice de Gandillac, Jean Hyppolite, entre outros. Após concluir o curso, dedicou-se à História da Filosofia, matéria que lecionou entre 1957 a 1960, na mesma Sorbonne.
A partir de 1962 iniciou uma longa amizade com o também Filósofo Michel Foucault (França, 1926/1992), mas da parceria não resultou nenhum trabalho em conjunto, embora tenha sido creditada a ambos a revalorização do Pensamento de Nietzsche (Alemanha 1844/1900). De 1964 a 1969 lecionou “História da Filosofia” na Universidade de Lyon, França, e em 1968 apresentou sua Tese de Doutorado, “Diferença e Repetição (orientado por Gandillac)”, na qual censura o “Conhecimento por Representação (ie, através das Imagens mentais, dos pensamentos, das ideias e NÃO por contato direto com a Coisa conhecida)” e a Ciência que resulta dessa forma de Sabedoria, ainda que ela seja Lógica e aceita como Clássica, Tradicional. Também nessa ocasião, apresentou uma Tese secundária onde discorreu sobre o Filósofo Spinoza (Holanda, 1632/1677). Intitulada de “Spinoza e o Problema (filosófico) da Expressão (orientado por Alquié)” a tese alude às teorias do holandês acerca da expressividade do Homem. Ainda em 1968, DELEUZE conhece Guattari e do encontro nasceu uma longa e rica colaboração, mesmo que muitos a vejam com antipatia e descrença.
Ainda lecionou na Universidade de Vincennes (até 1987) e promoveu um grande número de Cursos, os quais foram registrados sua esposa Fanny Deleuze.
A partir de 1992, com seus pulmões já afetados seriamente por um Câncer, DELEUZE diminuiu suas atividades. Em 1995 sua saúde deteriorou-se ainda mais e ele passou a só respirar com a ajuda de aparelhos. Sem poder trabalhar, consumido pela angústia atirou-se de seu apartamento parisiense e morreu. Seus admiradores consideraram seu suicídio coerente com a sua vida e obra, pois para ele: “o trabalho do Homem era pensar e produzir novas formas de vida”.
Como já se disse, DELEUZE considerava que a “Filosofia é a criação de Conceitos (esse é o tema de seu livro ‘O que é a Filosofia? ’)”. Conceitos, aliás, que sempre estiveram presentes em toda sua obra. Vocábulos como: máquinas-desejantes, *corpos-sem-orgãos, desterritorialização, **rizoma etc. permeiam seus Pensamento e lhes serviram para ilustrar suas concepções. Contudo, apesar de suas importâncias, ele nunca pretendeu dar aos mesmos a característica de ser uma “Verdade Absoluta” que pudesse, ou devesse ser reproduzida como se fosse um paradigma.
Sempre buscou, em seu trabalho, desvendar o Homem. Compreender sua natureza, suas idiossincrasias, seus propósitos etc. foi o mote de sua pesquisa e o motivo de ter-se aproximado intimamente da Psicanálise, sobretudo a “Freudiana”.
**Rizoma – aqui o Filósofo usa esse vocábulo, que originalmente pertence ao campo da Botânica, para demonstrar por analogia, o fato de os Conceitos estarem invisíveis, subterrâneos em um primeiro momento.
*Corpos-sem-órgãos – figura estética criada por Antonin Artaud que DELEUZE tomou emprestada para a composição do Conceito homônimo.
Com a crítica radical ao “Complexo de Édipo” permeando a sua “Filosofia do Desejo (como foi jocosamente apelidada por alguns)”, DELEUZE consagrou grande parte de seu Sistema à investigação sobre a “Esquizofrenia”, cujo processo, segundo ele, faz experimentar de Modo Direto (ie, sem a intermediação da Racionalidade, da Razão.) as chamadas “Máquinas-Desejantes”. Esse processo é, também, capaz de criar os chamados “corpos-sem-orgãos”, aos quais preenche, pois neles inexiste qualquer pressuposto organismo (no sentido de organização). Sua proposta foi explorar ao máximo todas as potencialidades; ressaltando, contudo, a enfática necessidade de se ter total prudência nas experimentações para que não haja um aprisionamento à Moral, haja vista que, segundo ele, “há o risco de se tornar um trapo” se a liberdade que for conquistada através dessas experimentações for obscurecida por alguma crença moralizadora (em sua obra “Mil Platôs”).
O trabalho de DELEUZE pode ser dividido em dois grupos:
1 – As obras em que ele interpreta os Filósofos Modernos, como Spinoza, Leibniz, Hume, Kant, Nietzsche, Bérgson e Foucault. E as considerações feitas sobre os mais variados assuntos filosóficos, com ênfase na criação de seus célebres “Conceitos”.
2 – As obras em que ele traça considerações sobre outros Intelectuais e Artistas, como Proust, Kafka, Francis Bacon (o pintor e não o Filósofo do Renascimento). DELEUZE, ao cabo, criou uma “Filosofia da Imanência”, dos Diagramas, dos Acontecimentos.
Influenciado, principalmente, por Nietzsche, Bérgson e Spinoza transportou sua reflexões, embasadas no movimento da vida, para o cotidiano e usou de forma magistral as mídias contemporâneas - sobretudo o cinema – para expor sua forma de Pensar através dos Conceitos “imagem-movimento” e “imagem-tempo”. Foi um dos principais Pensadores a teorizar sobre as questões do “atual” e do “virtual”, construindo um olhar sobre o Mundo a partir de todas as Possibilidades. Por isso a reverência com que sua Filosofia é apreendida.
Na sequência abordaremos mais algumas teses do Filósofo:
A Importância da Obra Escrita
É a essa “Vontade de Potência” que se referia Nietzsche (1844 – 1900, Alemanha) ao pregar que o “Super Homem” seria aquele não sufocaria seu Potencial, ou sua potência, no lamaçal da Moral Cristã, cuja base é a afirmativa de que a mediocridade (que ela chama de humildade) é uma Virtude. Essa parte do Pensamento nietzschiano foi especialmente revalorizada por DELEUZE.
Já o primeiro caso, a “Vontade de Poder” está ao nível da consciência (psicológica, mental) e quer se impor a todo custo sobre qualquer outra força ou circunstância, buscando denodadamente sobrepujar todo reverso. É claro que ao contrário da “Vontade de Potência (ou do Potencial que o indivíduo já traz ao nascer, mesmo que tais potencialidades ainda não estejam materializadas)” essa segunda, não tem nada de tão intenso que a leve a construir um Estado, ou um Estágio Superior de Consciência que esteja acima da querência física, intelectual, material, psicológica etc.
NOTA do AUTOR – para Heráclito, o Mundo “É” a Mudança. Só ela existe efetivamente, não passando o resto (as Coisas, os Objetos, os Seres, os Pensamentos, os Sentimentos etc.) de mera ilusão.
Essa afirmativa, para muito Eruditos, foi a maior contribuição de DELEUZE ao estudo filosófico, na medida em que tirou do Indivíduo a fonte do Pensar. O sujeito parou de ser considerado como a origem voluntária do ato de Refletir. Pensar, para DELEUZE, é algo que se impõe ao Pensador, e não o inverso. O “Sentir” é que o obriga a refletir. E como os Sentimentos são naturalmente mutáveis e mutantes advém daí a ideia de que Pensar é sempre recomeçar. Uma busca constante pelo novo.
NOTA do AUTOR – aqui se observa que a construção da Ética é um processo embasado nas Sensações e não nas Reflexões. Coerente com a visão deleuziana de que o Pensamento é apenas uma sequencia dos Sentimentos.
É certo que o Pensamento de DELEUZE atrai muita atenção na atualidade. Para compreender o motivo de tamanha atração é oportuno considerar dois níveis distintos:
1 – o fato de DELEUZE ser um Filósofo na máxima acepção do termo. E justamente por isso, um valoroso criador de uma obra repleta de atenção conceitual, sem, no entanto, dogmatizar cada um dos Conceitos que criou. Bem ao contrário, aliás, de vários outros que transformam o Pensamento Filosófico numa espécie de “Tabela de Mega Opiniões” que, geralmente, serve apenas para ocultar interesses mesquinhos.
2 – Ademais, há o fascínio despertado pelo diálogo, pelo contato entre o Filosófico e o Não Filosófico que permeia toda a obra do Pensador. Mal comparando é como acontece com a música, quando a completa ignorância sobre notas, arranjos, tons etc. não é suficiente para impedir o deleite de se ouvir uma Sinfonia. Por tudo isso, DELEUZE consegue despertar-nos a intuição de que há algo além do nosso tosco cotidiano, mesmo que nada entendamos da matéria em si.
São Paulo, 08 de Junho de 2012.
Bibliografia complementar – o “Abecedário” de Gilles DELEUZE, com Caire Parnet.
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